Irmãos argentinos humilhados em Santos conseguem mais de R$ 140 mil para abertura de loja

Arrecadação ocorreu por meio de vaquinha virtual, em menos de 24h

Por: Bruno Almeida  -  02/10/21  -  07:13
 Amigas ajudaram a terminar vendas e arcaram com os custos das empanadas perdidas
Amigas ajudaram a terminar vendas e arcaram com os custos das empanadas perdidas   Foto: Arquivo pessoal

Um momento humilhante na vida de dois irmãos argentinos, de 15 e 14 anos, foi o gatilho para a reviravolta na vida da família de sete pessoas – os pais e mais três irmãos. Em menos de 24 horas, foram arrecadados quase R$ 150 mil em uma vaquinha virtual criada para ajudá-los. A meta era R$ 140 mil para abrir uma loja e vender empanadas e doces, mesmos produtos que foram menosprezados e atirados ao chão por um grupo de vândalos, enquanto vendiam os alimentos no Gonzaga, em Santos.



Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


A Reportagem foi atualizada às 22 horas e, até aquele momento, 4.678 pessoas haviam doado no portal Voaa, uma plataforma de financiamento coletivo do site Razões Para Acreditar. A meta já havia chegado a 106% do previsto.


A vaquinha é direcionada especificamente para Leandro Micael Ciancaglini Ullua, de 14 anos – no dia do ocorrido, no Gonzaga, em 24 de setembro, ele estava acompanhado do irmão Alexandro Homero Ciancaglini Ullua, de 15 anos. Ambos moram no bairro Aviação, em Praia Grande. Os produtos, inclusive, são feitos pelos pais, em casa.


Só de saber que um grupo de pessoas se sensibilizou com o fato a ponto de criar uma vaquinha virtual, Leandro se emociona. O jovem também já começou a fazer planos para a abertura de um comércio ou de um restaurante.


"Quando vi, não acreditei, fiquei muito feliz. Se Deus quiser, vamos abrir logo duas(...) Meu sonho é ser um grande empresário e ter muitos restaurantes pelo mundo", diz o jovem.


 Empanadas caíram no chão após confusão em Santos
Empanadas caíram no chão após confusão em Santos   Foto: Arquivo pessoal

Relembre o caso
Os irmãos vendiam empanadas e doces feitos pela família, quando um grupo, composto por seis ou oito pessoas, comprou um dos produtos e reclamou da falta de higiene. Além de humilhar os jovens, eles ainda derrubaram uma caixa com outras empanadas, que seriam oferecidas a clientes de bares da Rua Tolentino Filgueiras, no Gonzaga, em Santos.


Em entrevista para A Tribuna, Leandro lembra que, quando o episódio ocorreu, "não conseguia nem falar com o meu pai". Ele e o irmão, Alexandro, já haviam vendido todos os doces e metade das empanadas, quando alguns clientes começaram a tirar os salgados da caixa utilizada pela dupla.


Ao recolocar as empanadas na embalagem, o grupo derrubou os produtos no chão. Um deles chegou a pisar em cima da empanada, embora, segundo os irmãos, esse fato tenha ocorrido sem querer.


Nesse mesmo dia, os irmãos conheceram as amigas que, além de ajudá-los a vender os produtos restantes, divulgaram a situação nas redes sociais e fizeram a ponte com o portal responsável pela arrecadação do dinheiro. Uma dessas jovens é a dentista Luana Cruz Scalet, que hoje diz sentir gratidão pela conquista.


“Estamos muito felizes por eles terem conseguido toda essa repercussão. Desejamos todo sucesso do mundo para ele e a família. Eles merecem, são muito esforçados".


Diretora de operações da Voaa, a vaquinha do Razões para Acreditar, Lisane Andrade, diz que se sensibilizar com a história da dupla foi inevitável. "Ver um menino de 14 anos, tão jovem, vendendo empanadas na rua para ajudar a família e sofrer uma humilhação como essa, fez com que nós refletíssemos no que poderia ser feito a respeito, não só para ajudá-los, mas para tirar esse menino das ruas também, dar uma outra perspectiva para ele".


A gerente de marketing do site, Lorraine Nalin, explica que a família receberá o valor arrecadado após o término da campanha. "Nós acompanharemos todo o processo de entrega, como sempre fazemos, para que os nossos doadores vejam com a gente mais uma vida sendo transformada graças à doação de cada um".


 Depois do episódio, os irmãos e as jovens viraram amigos e se reencontraram
Depois do episódio, os irmãos e as jovens viraram amigos e se reencontraram   Foto: Arquivo pessoal

Origens
O adolescente mora com o pai, o comerciante Edgardo Homero Ciancaglini, de 66 anos, além da mãe e de quatro irmãos, com idades entre um e 15 anos. O chefe da família chegou ao País há 40 anos, com o objetivo de buscar uma vida melhor.


"Já moramos em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Paraná. E conheço todo o Brasil. Viemos morar aqui no litoral porque, quando começou a pandemia, ficamos assustados e queríamos um local mais calmo. Não queríamos nos contaminar. Mas aí tive que fechar o restaurante (que tinha na Capital Paulista) e começamos a fazer as empanadas aqui. Agora que tem vacina, começamos a vender na rua", conta Edgardo.


"O brasileiro é muito solidário. Para cada três pessoas ruins, tem três milhões que são boas. A quantidade de gente boa neste País não existe", continua Ciancaglini. "Estamos com o coração aberto para retribuir".


Empolgado com o valor arrecadado, Edgardo diz que já escolheu o bairro do Gonzaga para sediar o novo estabelecimento e que já começou a olhar possíveis locais para a sede.


Logo A Tribuna