Há 20 anos, morria David Capistrano

Um dos responsáveis por idealizar e implantar no País o Sistema Único de Saúde, também foi prefeito de Santos de 1992 a 1996

Por: Sandro Thadeu  -  10/11/20  -  12:48
Médico sanitarista, ele foi secretário de Saúde no governo Telma de Souza, entre 1988 e 1992
Médico sanitarista, ele foi secretário de Saúde no governo Telma de Souza, entre 1988 e 1992   Foto: Divulgação

Há exatos 20 anos, o Brasil perdia um dos responsáveis pela elaboração do texto que deu origem ao capítulo sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) na Constituição de 1988 e uma das referências no País por colocar na prática o que idealizou: o médico sanitarista David Capistrano Filho.


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Ex-secretário de Saúde de Santos na gestão da prefeita Telma de Souza (PT) e eleito, em 1992, chefe do Executivo municipal, ele morreu em 10 de novembro de 2000, aos 52 anos, quando se recuperava de um transplante de fígado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. 


Além de ser um profundo conhecedor da área da saúde, Capistrano, segundo pessoas que estiveram ao lado dele, era um apaixonado pelo Município, tinha uma visão estadista e ímpeto para resolver os problemas que afligiam o povo. 
Secretário de Saúde por três anos durante a gestão dele, o médico sanitarista Claudio Maierovitch lembrou que Capistrano trabalhou muito nas décadas de 1970 e 1980 pela formulação e criação do SUS.


“Ele não se limitou a seguir aquilo que está na Constituição, mas teve muita criatividade e espírito público para trazer novidades que estão na agenda da saúde pública brasileira. A maioria das cidades não atingiu o ponto que Santos chegou há 30 anos”.


Pioneirismo


O Município foi o primeiro do País que fechou os manicômios e implantou a rede de núcleos de Atenção Psicossocial (NAPSs, atuais CAPSs) para atender os pacientes de saúde mental. A Cidade foi pioneira ao criar os programa de Atendimento e de Internação Domiciliar (PAD/PID) e a oferecer o coquetel antiaids para pacientes com o vírus HIV.


A ex-prefeita Telma entende que Capistrano partiu precocemente, mas deixou seu legado para o povo santista. “Ele esteve comigo na mesma trincheira em defesa de um ideal: a realização de uma política pública de saúde de forma humanizada, pioneira, ousada e revolucionária”, destacou.


O jornalista e amigo do ex-prefeito Sérgio Gomes recordou que Capistrano tinha paixão pela Cidade e visão de estadista, por colocar em prática iniciativas importantes ao povo.


Uma delas foi a obra de urbanização do Dique da Vila Gilda, idealizada na gestão de Telma e que teve reconhecimento internacional. Na área ambiental, houve um forte trabalho para detecção de ligações clandestinas de esgoto, o que influenciou positivamente na balneabilidade das praias.


“O David olhava para os problemas com a intenção de resolvê-los de fato. Não importa quem fosse ajudar. Ele era um estadista. Talvez Santos não tenha tido alguém com esse espírito à frente da Prefeitura. Quando estive Santos, percebi que muitos não conhecem o legado deixado por sua atuação”, lamentou. 


Sonho frustrado


Secretário de Esportes durante a gestão de David Capistrano, Célio Nori afirmou que o ex-chefe do Executivo era um torcedor fanático do Santos. Uma das maiores frustrações do chefe do Executivo, que usava um relógio de pulso com o símbolo do clube da Vila Belmiro, foi não ter visto a equipe levantar a taça do Campeonato Brasileiro, em 1995, quando o time empatou por 1 a 1 com o Botafogo e viu os cariocas ficarem com a taça. O resultado teve influência direta dos erros cometidos pelo árbitro Márcio Rezende de Freitas. “O David foi ao Pacaembu ver a grande final e me deixou a responsabilidade de organizar a festa. Eu tomei todas as providências para as comemorações, mas o juiz não as permitiu”, disse Nori. O ex-titular da pasta lembrou que Capistrano foi o responsável pela iniciativa de abrir mão do uso de uma área da União, no bairro do Jabaquara, o que permitiu que o terreno fosse cedido para o Peixe instalar o Centro de Treinamento (CT) Rei Pelé. “O David entendia que o Santos projetou o Município para o mundo e que até então o poder público não tinha feito nenhuma grande contribuição para o engradecimento do clube”, relembrou.


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