Fotos de objetos retirados da praia viram tema de exposição em Santos
Exposição Perdidos na Infância – uma arqueologia praiana do plástico será aberta neste sábado no Aquário Municipal
Tudo começou como um trabalho acadêmico na disciplina de Processos Experimentais da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). E agora torna-se um importante meio de educação ambiental.
Propondo algo diferenciado, o fotógrafo e arquiteto Marcos Piffer decidiu coletar e fotografar centenas de brinquedos encontrados na beira d’água. O ensaio é o cenário da exposição Perdidos na Infância – uma arqueologia praiana do plástico, que será aberta às 10 horas de hoje, na área externa do equipamento turístico e que poderá ser vista até o fim da temporada.
Natural de Santos e frequentador das praias santistas, Piffer, ao contrário da maioria das pessoas, sempre observou de forma diferente a quantidade e os tipos de objetos que via à beira-mar durante suas corridas e caminhadas.
Trazidos pela maré, acabaram despertando a ideia de elaborar uma espécie de inventário, reunindo tudo que encontrava pelo caminho, desde que envolvesse a preocupação com o meio ambiente. Até que decidiu retirar apenas objetos relacionados à infância.
Idas e mais idas à praia resultaram, até agora, na coleta de cerca de 500 peças. Sem sequer lavá-los para preservar toda a areia, limo e outras marcas do tempo e das águas do mar, rios ou mangues, Piffer os levou para casa e fotografou um a um.
14 painéis
Bonecas, bolas, baldes de areia, carrinhos, bichinhos de plástico e vários outros objetos que antes fizeram parte da infância de muitas crianças agora estamparão os 14 painéis da exposição, que servirá como instrumento educativo e meio de reflexão sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Os painéis serão afixados do lado de fora do Aquário, tomando todo o entorno do espaço. São 11 estruturas que exibirão 94 imagens dos brinquedos coletados por Piffer.
Boneca
Empolgado com a iniciativa, Piffer contou que, de tantos brinquedos removidos da praia, um chama mais a atenção. “Encontrei o tronco de uma boneca que tinha no cabelo vários propágulos, que são sementes encontradas em árvores de mangue. Sinal de que ela ficou muito tempo naquele ambiente e comprova que a maior parte dos brinquedos vem de regiões de palafitas”.
O fotógrafo contou que, desde o início do trabalho, enxergou no projeto um enorme potencial educativo para crianças e jovens, já que o ensaio aborda questões ambientais como o descarte inadequado do lixo e a presença do plástico em todo o mundo, desigualdades sociais, consumismo e ações da natureza, que acabam transportando todo esse lixo.
Isso sem falar na memória afetiva que cada imagem é capaz de despertar. “E também aborda o poder da fotografia como elemento de comunicação e propagação de uma ideia”, acredita ele.
Doações
Todos os objetos fotografados estão catalogados e Piffer pretende lavá-los, recuperá-los e doá-los para crianças carentes. “Questões como essa, que remetem à infância, têm um apelo muito forte. E o estado em que os objetos estavam causa uma certa desolação, tristeza”, frisou o fotógrafo, que ainda criou dois jogos da memória com as imagens.