Fim de semana do Dia dos Pais é marcado por celebração, mas também por reflexão
Pessoas que perderam o pai para a Covid-19 devem vivenciar o luto e transformá-lo em sensações positivas
Se o próximo domingo (8) é motivo de celebração da presença paterna, também é uma data de reflexão para quem perdeu o pai em meio aos mais de 560 mil mortes em decorrência da Covid-19 em todo o Brasil. E, no final de semana do Dia dos Pais, psicólogas de Santos falam sobre a importância de vivenciar o luto e transformar o sentimento de dor em sensações positivas.
Cercado de reações e emoções diversas, desde a negação e raiva à depressão e aceitação, é um processo causado pela morte, que faz parte da existência, mesmo que a cultural ocidental tenha repulsa ao final da vida. É o que lembra a psicóloga Tatiana Dias. "É condição humana ter a vida com o tempo limitado, com prazo de duração, mas a gente não pensa nisso".
Neste sentido, para quem perdeu o pai no último ano, Dias explica que os sentimentos costumam oscilar nesse período, mas não podem ser deixados de lado pois é uma fase que deve ser encarada. "Não dá para fugir dessa dor, porque quando a pessoa tenta reprimir isso, ela está tentando reprimir a sua essência de ser humano, que é caracterizada pelas vulnerabilidades (...). O filósofo Pascal, por exemplo, já dizia que a nossa precariedade é a nossa grandeza".
A necessidade de olhar para dentro também é partilhada pela psicóloga clínica Jamile da Costa Gonçalves. A profissional ressalta a particularidade do luto de quem perdeu o pai para a covid e, portanto, não teve a chance de passar por rituais de travessia da morte. "Esse luto não pode ser vivenciado de forma linear. Se a gente for pensar em um conceito ético-político, a gente sabe que muitas dessas perdas poderiam ser evitadas e isso acaba gerando mais um sentimento, o de revolta".
Por isso, há uma preocupação maior das duas especialistas em relação a quem perdeu o pai recentemente. "Isso prejudica as fases de luto, talvez a gente esteja falando de pessoas que vão sofrer um luto patológico, conturbado, quando a pessoas não consegue voltar para vida normal", alertou Gonzalves.
Mas, mesmo diante das dificuldades específicas da pandemia, que podem ser agravadas com as comemorações do Dia dos Pais, as duas relembram que o processo de luto pode ser a chave para uma nova vida. "É uma oportunidade para viver uma vida que vale mais a pena, vigorosa (...). É o momento para pensar na importância que o pai teve em vida, qual foi o legado dele e os aprendizados passados", observou Dias.
Para este final de semana, as duas recomendam que os sentimentos possam ser colocados para fora, de acordo com as necessidades de cada pessoa, mas lembram que tornar o choro público, falar sobre momento de dor e até fazer uma homenagem nas redes sociais, são formas de tentar entender e ressignificar o momento. "Olhe para si, para o que tem vontade de fazer. Se quiser chorar, chore; se quiser falar, fale; mas não deixe ser reprimido se quiser ficar introspectivo", finalizou Tatiana.
