Falta rumo a pesquisas do mar, dizem especialistas
É preciso direcionar objetivos para buscar financiamentos e levar resultados ao público. A falta de direcionamento para atacar os principais problemas ambientais pautou parte dos debates desta sexta-feira (6), último dia do seminário Cultura Oceânica
Responsável por tornar a Terra habitável, influenciaro clima e fonte de diversidade ambiental, o oceano ainda é pouco explorado. Pelo menos na costa brasileira, isso se deve a falhas na elaboração de projetos para pesquisas científicas.
A falta de direcionamento para atacar os principais problemas ambientais pautou parte dos debates desta sexta-feira (6), último dia do seminário Cultura Oceânica, na Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos (AEAS), no Boqueirão, em Santos.
O hiato entre a produção acadêmica e aplicação de conhecimento também foi abordado no painel Inovação Social e Cultura Oceânica. A plenária reuniu especialistas de universidades públicas, pesquisadores e educadores ambientais e entidades financiadoras de pesquisas acadêmicas.
“A ciência é algo muito importante para ficar concentrada apenas nas mãos de cientistas”, resume Thiago Carlos Cagliari, coordenador do Programa de Pesquisa Oceanográfica e Impactos Ambientais, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A crítica foi no sentido de aproximara produção acadêmica da sociedade.
Para a coordenadora adjunta de Ciências Humanas e Sociais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Paula Montero, falhas na elaboração de projetos impedem destinar verba à produção científica. “O conhecimento tem que ser voltado para atender uma demanda específica”, diz.
Segundo ela, a maior parte dos pedido de financiamento para pesquisas peca na delimitação da questão a ser enfrentada. “O problema e a possível área de aplicação devem ser bem claros. Enquanto isso não for alinhado, o projeto não avança (para ter financiamento pelo órgão).”
O titular de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Fernando Martins, reconhece que a identificação do problema é o principal obstáculo na elaboração da produção científica.
Políticas Públicas
O especialista ambiental e integrante do Circulando Educação Ambiental (CEA-SP), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Rodrigo Machado, destaca a formulação de políticas públicas para transformar a produção científica em ações práticas e objetivas. Ele explica que esse trabalho deve partir da sociedade.
Segundo ele, há agentes e grupos sociais atuando de forma isolada na preservação ambiental. O papel do CEA-SP é uni-los, para que o Poder Público) “deixe de ser o criador do debate para torná-lo parte da sociedade”.
Unesco quer promover cultura oceânica
Promover a Cultura Oceânica é uma meta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) de 2021 a 2030.
O teor dos debates realizados desde quinta-feira (5) em Santos vai compor uma carta aberta à sociedade.O texto será somado à versão em português da publicação Cultura Oceânica para Todos.
Trata-se de um kit pedagógico da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco para fazer a sociedade abordar a importância dos oceanos e como os temos tratado.
Desafio
“É um desafio conciliar economia, desenvolvimento e conservação e a educação. Por isso, o conhecimento científico é fundamental para construir um futuro que inclua uma boa relação com os oceanos”, diz Ronaldo Adriano Christofoletti, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das organizadoras do evento.