Equipes de UTI da Baixada Santista estão esgotadas: 'Não adianta ter respirador, sem profissionais'

Médicos se preocupam não só com a ocupação de leitos, mas também com a qualidade de tratamentos disponibilizados aos pacientes com covid-19

Por: Jordana Langella  -  23/03/21  -  17:24
Entre os pacientes, 207 devem ser transferidos para enfermarias e 151 para UTI
Entre os pacientes, 207 devem ser transferidos para enfermarias e 151 para UTI   Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O prefeito de Santos, Rogério Santos, mostrou preocupação com o aumento dos números de casos de covid-19, ocupação de leitos e escassez de equipe médica apta a trabalhar em UTI’s. O tema costuma ser recorrente nas coletivas realizadas pelo chefe do Executivo santista.


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A equipe deA Tribunaentrevistou médicos intensivistas e também o cardiologista e Chefe do Departamento de Atenção Pré-Hospitalar e Hospitalar da Secretaria de Saúde, Luiz Carlos Espíndola Junior, para entender a rotina dos profissionais que atuam na linha da frente e de qual forma o agravamento da pandemia afeta a estrutura de hospitais, saúde física e mental de equipes da área da saúde. Confira a videorreportagem acima.


Risco de colapso por falta de UTIs é real na região
Risco de colapso por falta de UTIs é real na região   Foto: Alex Ribeiro/Governo do Pará

De acordo com Luiz Carlos Espíndola Junior, há um déficit de 30% a 40% de profissionais médicos intensivistas, no Sudeste, o que já dificulta normalmente a contratação de equipe especializada, portanto com a pandemia o quadro só se agrava, tendo em vista a maior demanda de pacientes com necessidade de tratamento em UTI.


Hospital Casa de Saúde de Santos anuncia ocupação total de leitos
Hospital Casa de Saúde de Santos anuncia ocupação total de leitos   Foto: Matheus Tagé/AT

Problema recente?


De acordo o médico intensivista André Scazufka Ribeiro, o cenário anterior a março de 2020 já não era favorável para a área, tendo em vista que a maior parte dos profissionais que normalmente trabalham em UTI não tem especialização e, muitas vezes, encaram o trabalho como ‘bico’, equanto estudam outras especializações, como cardiologia, ginecologia, neurologia, etc, o que consequentemente diminui a qualidade do atendimento.


André também explica que o volume de trabalhos intensivistas é intenso, alguns fazem mais de um . plantão por semana e atuam em mais de um hospital da Baixada Santista.


Durante o ponto mais crítico da covid-19, além desses fatores que já não eram favoráveis, o tempo de formação para um profissional estar apto para trabalhar em UTI é longo. De acordo com o pneumologista intensivista Alex Macedo, em média, uma equipe multidisciplinar de UTI leva um ano e meio para estar pronta para atender os pacientes - um período chamado de curva de aprendizagem. Ou seja, é um processo lento, portanto dificilmente feito de um mês para o outro.


Por outro lado, o intensivista André Scazufka explica que muitos profissionais mostraram interesse em atuar na linha de frente desde o ano passado.


Ademais, outro ponto de alerta é a alta carga emocional e física de quem está trabalhando no tratamento da covid-19. Segundo o pneumologista Alex Macedo, as equipes médicas são as mesmas desde março de 2020, ou seja, quase não teve rotatividade. “A gente não forma uma equipe em um ano, então o que acontece agora é um extremo cansaço. As pessoas não têm condição emocional e física para fazer o que fizeram no primeiro aumento de casos de abril a julho/ agosto do ano passado”.


O que diz a Prefeitura?


Em entrevista, o cardiologista e Chefe do Departamento de Atenção Pré-Hospitalar e Hospitalar da Secretaria de Saúde, Luiz Carlos Espíndola Junior, explica que a Prefeitura de Santos se preocupa com a falta de vagas em hospitais e equipe especializada para tratar os pacientes com covid-19, mesmo que obedeça os critérios da OMS (Organização Mundial de Saúde). Segundo Luiz, a cidadetem uma situação melhor que o restante do País, pois respeita a proporção da organização, que estabelece que a cada 10.000 habitantes tenha de um a três leitos de UTI disponíveis.


De acordo com o médico, a cidade conta com uma rede de 256 leitos de UTI, sendo 136 do SUS (Sistema Único de Saúde) e 120 de hospitais particulares.


Mesmo assim, também enfatiza o que disse o pneumologista Alex Macedo sobre os cansaço mental e físico dos profissionais da linha de frente.


Programa do Governo Federal prevê investimento de R$ 2 bilhões
Programa do Governo Federal prevê investimento de R$ 2 bilhões   Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Quando perguntado sobre a carga de trabalho dos médicos que trabalham em mais de um hospital, afirmou que mesmo com os esforços da Prefeitura, não há como fazer esse controle, ainda mais em um momento de pandemia, quando os gestores estão se empenhando para fornecer a melhor qualidade de atendimento para a população.


O Chefe do Departamento de Atenção Pré-Hospitalar e Hospitalar da Secretaria de Saúde também pediu conscientização das pessoas, uso de máscara e álcool gel para conter o avanço da covid-19.


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