Dono do 'bolo perfeito', confeiteiro autodidata de Santos se reinventa e ensina pessoas pelo mundo

Marcelo Bellini aprendeu técnicas por conta própria e hoje se dedica a lecionar e levar felicidade aos seus clientes

Por: Raphaella Santucci  -  08/03/22  -  08:43
Atualizado em 08/03/22 - 08:53
O profissional afirma que a confeitaria sempre fez seu coração bater mais forte
O profissional afirma que a confeitaria sempre fez seu coração bater mais forte   Foto: Arquivo pessoal

Marcelo Bellini, um amante da cozinha desde criança, lembra que adorava ajudar o pai a preparar comidas gostosas e sempre teve amor pelas sobremesas após as refeições. Hoje, aos 54 anos, ele é um confeiteiro realizado que conquista clientes pelos bolos feitos com carinho em seu ateliê, na Rua Euclydes da Cunha, na Pompéia, em Santos. Ele também é conhecido por ajudar novos profissionais a se encontrarem no mundo dos doces.


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Bellini começou na confeitaria de forma natural, em 1988. Em entrevista paraA Tribuna, ele contou que passou a fazer bolos de forma despretensiosa para vender em seu antigo empreendimento gastronômico focado em massas, em Vicente de Carvalho.

"Sempre amei fazer doces e, com a ajuda da mãe do meu sócio, comecei a produzir bolos. Na época, não existiam muitas informações e recursos sobre confeitos. Pegávamos as receitas em revistas e colocávamos em prática", relembrou.


Após a morte de seu associado, Bellini voltou a morar em Santos e trouxe consigo o gosto pelos bolos. Autodidata, ele nunca chegou a fazer cursos de confeitaria. Todo o conhecimento que adquiriu foi por experiência e leitura. O profissional se arriscava com novas técnicas, sabores e receitas para desenvolver suas produções.


Seus diferenciais eram as decorações de desenhos feitas com chantilly e pasta americana - coisa que na época era raro de encontrar. Através da ideia de um amigo, ele começou a anunciar o trabalho em jornais, em 1995.

No primeiro dia de divulgação, Bellini não recebeu ligações mostrando interesse pelos bolos. "Até chorei!", relembra o sentimento. Já no segundo, se surpreendeu com as ligações curiosas sobre seus doces únicos e terminou o expediente com algumas encomendas novas.


A partir deste momento, o confeiteiro passou a receber diversos pedidos e a ser reconhecido na área. Toda a produção era caseira e, à época, Bellini morava em uma quitinete. Ele precisava de um espaço maior e mais profissional para dar conta das demandas e abriu o ateliê de doces em 2002.


Após aumento de demandas, Bellini abriu um comércio, que se mantém até hoje
Após aumento de demandas, Bellini abriu um comércio, que se mantém até hoje   Foto: Arquivo pessoal

Bellini se considera um profissional 'raíz'. Ele prioriza marcas renomadas em seus doces e não abre mão da produção manual e caseira, sem influência industrial. "Quando abri o comércio, meus clientes me perguntavam se a qualidade dos bolos iria cair. Eu sempre prezei muito pelo uso de boas marcas, trabalho com as mesmas desde sempre. Nunca vou pelo preço, mas pela categoria do produto".


Desafios e superações

Como em todas as profissões, a confeitaria já deixou Bellini aflito. O maior desafio de sua carreira foi um bolo de tigre em formato 3D, que fez para um programa de televisão. "Aparecem temas que nunca aprendi, então tenho que correr atrás para entregar o esperado. Mas acredito que, se alguma pessoa no mundo conseguiu, eu também consigo", disse, em tom determinado.


As conquistas profissionais se misturam às pessoais e fazem todo o trabalho valer a pena. Um bolo com o tema do filme ‘Frozen’, da Disney, foi motivo de prêmios nacionais e internacionais. Ele chegou a vencer uma categoria de “bolo perfeito", em uma disputa de um fórum inglês.

A produção foi responsável pelo "boom" de sua carreira: foi neste momento que Bellini passou a ser elogiado por confeiteiros que admirava e a perceber que seu trabalho se tornava cada vez mais relevante.


Os dois bolos são citados como os mais desafiadores
Os dois bolos são citados como os mais desafiadores   Foto: Arquivo pessoal

Há diversas edições, o confeiteiro é convidado pela presidente de um congresso internacional on-line, no Japão, para dar aulas remotas.

Ele aplica lições com temas específicos, como datas comemorativas, ou livres, para os alunos criarem suas próprias decorações. Bellini também costuma ser eleito o melhor professor pelos estudantes.


O confeiteiro celebra a oportunidade de poder levar seu trabalho para outros lugares e salienta a importância de impulsionar a arte brasileira para o mundo.

"A gente estar aqui (na Baixada Santista) é bom. Mas ser visto em vários lugares dentro e fora do Brasil é melhor ainda. Receber um prêmio é sempre motivo de alegria!", comemora.


Visão profissional

Bellini sugere que a confeitaria, atualmente, está desgastada principalmente pela popularização de reality shows focados em doces. Em plataformas de streaming e canais de televisão abertos ou fechados, as competições de culinária tomam conta da programação - coisa que pode ser perigosa aos recém-chegados à área.

"Muita gente entra na confeitaria no calor do momento, mas esquece dos fundamentos básicos. É preciso saber dar valor ao seu trabalho e estudar sobre a profissão para que a fama e o reconhecimento não sejam passageiros", aponta.


'Transformador de vidas'

Ser um profissional que transborda conhecimento e oportunidades muitas vezes abre caminhos para proporcionar o mesmo para outras pessoas. Marcelo afirma que se sente um transformador de vidas, uma vez que se dedica a dar apoio aos novos confeiteiros, mudando financeira, profissional e emocionalmente a vida de todos que aprendem algo com ele.


Seu único lema é proporcionar felicidades e sorrisos. Bellini descreve o trabalho realizado na empresa como 'a verdadeira arte em bolos', já que participa do sonho e realização de seus clientes. "Me dá orgulho saber que eu marco a vida das pessoas. É muito bom ver o rosto delas quando enxergam o bolo que idealizaram", conclui.


Marcelo Bellini ganha prêmio em congresso internacional de confeitaria
Marcelo Bellini ganha prêmio em congresso internacional de confeitaria   Foto: Arquivo pessoal

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