Dono de construtora no litoral de SP confessa ter enganado clientes após vender imóveis 'fantasmas'
Empresário vendeu apartamentos na planta, mas nunca entregou
Atualizado em 11/02/22 - 07:47
![Edifício batizado como Porto Vitória, seria erguido na Rua Dona Vitória, 346, Jardim São Miguel](http://atribuna.inf.br/storage/Cidades/Santos/img4885618211281.webp)
O empresário Leonardo Pinheiro Nardella admitiu que enganou clientes ao vender apartamento na planta, em Guarujá, e não entregar o imóvel. A confissão foi feita em audiência na Justiça Criminal, depois que ele foi indiciado por estelionato. As vítimas são o zelador Josimar Campana, de 54 anos, e a mulher dele, a aposentada Ivone Pereira Campana, de 60. O casal pagou R$ 97 mil de entrada, em contrato assinado em 2016, mas o prédio não foi construído e o dinheiro ficou com o empresário.
Nardella confessou ao juiz que, “em prejuízo das vítimas” e “induzindo-as em erro”, obteve o dinheiro “para si, mediante meio fraudulento, vantagem ilícita”. Para não dar sequência ao processo criminal que poderia resultar em prisão, ele fez um acordo com o Ministério Público. Terá que pagar R$ 10 mil às vítimas, um salário mínimo para uma entidade beneficente, não pode se envolver em outro fato criminoso e nem deixar Cidade por prazo maior de 15 dias, sem autorização judicial. Se descumprir, o acordo é desfeito e a ação penal retomada.
O advogado das vítimas, João Barbosa Moreira, diz que Nardella foi beneficiado com o acordo, previsto em lei. “Tal benesse só pode ser concedida uma vez (réu primário). De todas as dezenas de vítimas meu cliente foi o único até agora que se dispôs em buscar a responsabilização no âmbito criminal”, diz ele. “Se mais vítimas tivessem cursado o mesmo caminho, certamente o criminoso seria levado ao cárcere”.
Segundo o advogado, “muitas famílias perderam todas as suas economias e a esperança de ter a casa própria. Contudo, a confissão do réu no processo criminal e as condições a ele impostas pela Justiça são uma vitória e seguiremos firmemente executando as sentenças na esfera Cível, com o intuito de receber os valores surrupiados”.
Moreira explica que as vítimas já ganharam a ação na área Cível, onde Nardella foi condenado a devolver os valores pagos. Porém, não foram encontrados bens em nome dele para pagar a dívida.
A Reportagem procurou Nardella, mas ele não retornou o contato. Já seu advogado, embora tenha recebido informações sobre o teor da matéria, não quis se manifestar. Disse que só falaria mediante leitura da reportagem pronta.
![João Barbosa Moreira, advogado das vítimas:](http://atribuna.inf.br/storage/Cidades/Santos/img1211628211889.webp)
O caso
Em novembro de 2019, A Tribuna publicou reportagem mostrando que a empresa Leonardo Nardella Arquitetura e Construção Ltda, com sede em Santos, foi acusada de vender apartamentos na planta, de três empreendimentos que seriam construídos em Guarujá, mas abandonar as obras.
Os projetos vendidos e não entregues foram o Porto Vitória (Rua Dona Vitória, 346, Jardim São Miguel), Edifício Harmonia (Rua José Silva Figueiredo, s/nº, Jardim Três Marias) e Puerto Rey (Rua Colômbia, 395, Enseada).
Segundo vários compradores ouvidos na matéria, o dinheiro também não foi devolvido. Na época, ações na Justiça pediam o bloqueio de bens dos sócios da construtora e indenização por danos morais e materiais. Inquérito já corria na Delegacia Sede de Guarujá, que investigava possíveis crimes contra a economia popular e estelionato.
O advogado João Barbosa Moreira apontou a existência de 44 processos na Justiça contra a construtora, 21 deles sobre rescisão contratual de imóveis vendidos na planta. Segundo Moreira, a soma do que a empresa arrecadou com esses clientes passa de R$ 10 milhões.
Na época, Leonardo Nardella disse que a empresa foi afetada pela crise, quando estava perto de receber os primeiros recursos do financiamento bancário, o que afetou as obras. E afirmou que não houve intenção da construtora de não cumprir com as suas obrigações.