Casados há mais de 50 anos, casal de Santos morre em decorrência da covid com diferença de 15 dias

Segundo filho, a mãe praticamente 'desistiu' de lutar ao saber da morte do marido

Por: Ágata Luz  -  14/07/21  -  07:08
Atualizado em 14/07/21 - 12:13
      História de amor dos dois começou há mais de 50 anos e gerou quatro filhos
História de amor dos dois começou há mais de 50 anos e gerou quatro filhos   Foto: Arquivo Pessoal

Os moradores de Santos Hélio Valdez Schwantes, de 75 anos, e Eroni Terezinha dos Santos, de 74, morreram em decorrência da covid-19 com menos de um mês de diferença. Eroni faleceu exatamente 15 dias depois que Hélio se foi. “Ao saber, praticamente desistiu de lutar”, afirma um dos filhos do casal, o músico Rafael Schwantes, de 48 anos.


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A história de amor dos dois começou no sul do Brasil há mais de 50 anos, gerou quatro filhos e ‘terminou’ na Baixada Santista, onde moraram por grande parte das vidas e formaram um ‘núcleo familiar’. Em conversa com A Tribuna, o filho Rafael conta que o casal deixou um grande legado de amor. “É muito bonita a história deles, sempre priorizando a família, o amor entre os filhos, entre as pessoas”, destaca.


De acordo com o músico, a família é muito unida e sempre estava próxima. “Eles eram nossa luz, nosso porto seguro. A gente ia lá como se fosse 'beber' um pouco daquela calma, daquela segurança que passavam pra gente”, diz Rafael, em nome dele e das irmãs.


Segundo o filho, o casal se infectou com a covid-19 no mesmo período, quando a mãe estava muito doente e enfrentava o quarto câncer. “Quando eles pegaram [coronavírus], estávamos no meio da recuperação dela de uma cirurgia e ainda tinha uma radioterapia pela frente”, declara. Em meio a isso, Hélio precisou ser internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Joaquim Távora e faleceu quatro dias depois, no dia 23 de junho.


      Eroni faleceu exatamente 15 dias depois que Hélio morreu. Ambos em decorrência da covid-19
Eroni faleceu exatamente 15 dias depois que Hélio morreu. Ambos em decorrência da covid-19   Foto: Arquivo Pessoal

Ao saber da notícia, Eroni foi perdendo a vontade de lutar. Desta forma, no dia seguinte da morte do marido, ela precisou ser internada na Casa de Saúde de Santos e no dia 8 de julho também faleceu. Os dois tinham recebido as duas doses da vacina contra covid-19.


“Tenho certeza de que ela não queria ir e deixá-lo sozinho. Até comentamos isso entre os filhos. Acho que ela só estava esperando ele ir pra ir também”, relata.


História da família


Rafael explica que o pai trabalhava em um banco em Porto Alegre e, após uma promoção no trabalho, foi transferido para Lages, em Santa Catarina, onde a mãe vivia e trabalhava em uma loja de departamento.


Vindos de criações diferentes, Eroni era uma filha entre dez e Hélio era filho único. Mesmo assim, os dois se conheceram, se apaixonaram e se casaram em dezembro de 1967.


Após o casamento, eles se mudaram para Porto Alegre, onde enfrentaram a primeira dificuldade: tiveram um filho que não sobreviveu ao nascimento. Porém, o casal teve a primogênita em 1970. “Minha irmã Raquel. Em 72, veio a minha irmã Renata, eu vim em 73 e minha irmã Roberta nasceu em 74”, relata.


      Hélio e Eroni se casaram em dezembro de 1967
Hélio e Eroni se casaram em dezembro de 1967   Foto: Arquivo Pessoal

Com a família formada, Hélio decidiu se mudar para São Paulo ‘na cara e na coragem’. Porém, enquanto ele preparava as coisas na capital paulista, os filhos e Eroni viveram em Lages. A mudança para São Paulo aconteceu em 1982. Porém, no ano seguinte a família se mudou novamente, desta vez para Santos.


“A família se transferiu inteira pra Santos nessa época”, relata Rafael. Segundo ele, o pai montou uma empresa que trabalhava com móveis de escritório na região. “A gente foi crescendo e meu pai e minha mãe sempre juntos. Nunca se separaram”, explica. O músico ainda conta que a avó paterna também foi morar junto com eles na Baixada Santista.


Segundo Rafael, a mãe era muito religiosa. “Espírita kardecista, ela trabalhava em um centro espírita”, enfatiza, relembrando que a família foi formada em meio a muito amor. Com o tempo, o casal Hélio e Eroni foi ‘ganhando’ netos e junto com os ‘agregados’, a família ficou ‘gigante’.


De acordo com o músico, a mãe adorava realizar reuniões de domingo. “Ia todo mundo pra lá, ela cozinhava, ela era a típica mãe. Cuidava da casa, cuidava da família”, declara. Desta forma, Eroni tinha muito respeito entre todos: “Sempre foi de receber as pessoas, de tratar com carinho. Então, ensinou pra gente que, se você for fazer alguma coisa, tem que ser com amor”.


O amor, portanto, foi o que Eroni deixou de ‘herança’ para os filhos. “A principal frase dela que eu vou levar pra minha vida: Faça com amor”. De acordo com o filho, Hélio era mais ‘pragmático’.


“Ele chegava a falar que realidade é essa, o mundo é isso. Minha mãe era mais romântica, tinha mais esperança na humanidade”, explica. Porém, apesar de Rafael considerar o pai um pouco pessimista, ele garante que Hélio era uma pessoa muito amorosa, leal e nunca deixou a família.


O filho relembra que Hélio passou por dificuldades financeiras após a empresa que criou ‘quebrar’, mas ele sempre esteve em busca de melhorar, como fez nos últimos anos: “Ele melhorou um monte de coisas que ele tinha como defeito de ser nervoso, de ter irritação, mas ele melhorou muito nos últimos anos. E a gente sempre tava em volta deles”. Desta forma, Hélio se aposentou, bem como Eroni que atuou como dona de uma loja e costureira.


       Casal se mudou para Santos em 1983 e construiu um núcleo familiar na cidade
Casal se mudou para Santos em 1983 e construiu um núcleo familiar na cidade   Foto: Arquivo Pessoal

Legado em diversas vidas


Apesar do casal ter mudado para São Paulo por uma época, eles viveram os últimos anos da vida em Santos, trazendo outras diversas pessoas da família para a cidade. “Ficou um núcleo enorme, de muita gente da família. Era uma família que ela era matriarca, ele era o patriarca e todo mundo ficava em torno, orbitava”, destaca.


Hélio tinha completado 75 anos em abril e Eroni faria a mesma idade em outubro. Apesar de se despedirem da família, o casal deixou o legado para todos. “Muito amor. Muito amor entre nós. Minha mãe sempre fomentava isso na gente. Ela falava: onde não há amor, não se demore. Ela falava muito isso”, finaliza.


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