Bondes de Santos: os 150 anos de um patrimônio santista
O sistema de transporte responsável pelo desenvolvimento da cidade até hoje provoca lembranças e desperta curiosidades
![Os primeiros bondes levavam passageiros do atual centro para a região da orla (Praia da Barra)](http://atribuna.inf.br/storage/Cidades/Santos/img2780855411841.webp)
A rota foi escolhida como uma espécie de reedição de uma linha de carruagens criada pelo italiano Luís Massoja que, em 1864, lançara um serviço de transporte de passageiros ligando as duas "pontas da cidade". As tais carruagens, também chamadas de "gôndolas", partiam do Largo do Chafariz (atual Praça Mauá) e terminavam sua viagem na Casa de Campo da Praia da Barra (atual esquina da Epitácio Pessoa com Rua Osvaldo Cruz), depois de viajar por cerca de seis quilômetros. Apesar da importância do serviço para a cidade, os negócios não deram certo. Massoja faliu em menos de dois anos e os santistas mal tiveram tempo para se acostumarem com os passeios de carruagens para a bucólica orla praiana.
Com a desistência de Massoja e o fim das gôndolas, a cidade passou a discutir novas soluções para o transporte coletivo de passageiros. Mesmo com o surgimento da Companhia de Diligências Guanabara, que ocupou por curto período o mesmo serviço do italiano, os santistas iniciaram uma discussão sobre a possibilidade da introdução do sistema de transporte sobre trilhos, o tal bonde.
Santos já possuía alguns caminhos férreos urbanos, da época das primeiras gôndolas, pelas bandas do cais do Bispo e em boa parte do trecho que atravessava o porto do Consulado. Porém, tais trajetos serviam apenas para carrinhos de transporte de carga, os troles,
As discussões, entretanto, acabaram se arrastando por muito tempo, uma vez que a maioria dos interessados em instalar os bondes fazia exigências inexequíveis. Foi aí que surgiu Domingos Moutinho. Em 1º de abril de 1870, ele conseguiu obter da Câmara de Santos a concessão para criar e explorar, por 50 anos, ou seja, até o ano de 1920, o primeiro serviço de bondes na cidade. Porém, corria à língua solta entre os santistas que o empresário só conseguira tal concessão porque celebrara um acordo direto com o então presidente da Província (cargo equivalente ao de Governador do Estado), Antônio Candido da Rocha, que lhe garantiu o negócio, passando por cima da autonomia dos conselheiros municipais. Desta forma, a autorização do Moutinho foi viabilizada por decreto provincial e qualquer outra não teria validade legal superior. Assim, depois de colocar, quase que literalmente, a mão no barro, o empresário concluiu a instalação dos trilhos da primeira linha de bondes no começo de outubro de 1871.
Em junho de 1984, o bonde ensaiou um retorno como atividade turística, com uma linha que circulava por 1.800 metros entre os canais 4 e 5. Durou até 1987. Em setembro do ano 2000, depois de investir pesado no resgate dos trilhos do velho Centro, a cidade de Santos ganhava uma linha turística que até hoje se orgulha, projetando o município como um polo histórico sobre o sistema de transporte urbano sobre trilhos, no chamado "Museu Vivo dos Bondes".
Os santistas devem mesmo celebrar esta data histórica. Este colunista teve o privilégio de também colaborar com esta linha do tempo, lançando em 2009, durante as festividades dos 100 anos do bonde elétrico (o sistema foi eletrificado em abril de 1909), o romance "Bonde de Santos", que oferece ao público leitor uma forma diferenciada e leve a maravilhosa história dos carris santenses.
A palavra bonde, vem do inglês "bond", que significa "ligação". Ou seja, ligavam pontos da cidade onde, antes deles, só se era possível chegar a pé ou de carruagem. Os bondes foram de grande valia para um início de modernização e benefício da população.