Avô de Santos registra amor pelos netos em poemas há três décadas: 'Sentimento inexplicável'

Nesta terça-feira, 26 de julho, é comemorado o Dia dos Avós

Por: Giovanna Corerato  -  26/07/22  -  07:39
Atualizado em 26/07/22 - 16:21
Gaspar escreve poemas para os netos há mais de 30 anos
Gaspar escreve poemas para os netos há mais de 30 anos   Foto: Arquivo Pessoal

Dizem que os avós são pais em dobro. O aposentado Oswaldo Pereira Gaspar, de 93 anos, tem certeza disso. Pai de dois filhos e avô de quatro netos, ele usa boa parte do seu tempo para demonstrar amor aos netos. Morador de Santos, Gaspar escreve poemas e pequenas poesias para os 'pequenos' desde que nasceram - há mais de 30 anos - e os envia também para todos seus amigos que são avôs.


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“Eu sempre gostei de escrever. Um dos poemas se chama Vô Coruja e escrevi um dia após o atentado às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Aquilo me abalou tanto que comecei a pensar no futuro dos meus netos e de todas as crianças neste mundo em que vivemos. Foi uma inspiração para fazer o poema”, explica Gaspar.


Os netos Ana Luiza Ract, de 32 anos, Ana Paula Ract, de 30, e Vitor Tramonte Pereira, de 25, são médicos. A caçula, Júlia Tramonte Pereira, de 23 anos, é estudante do penúltimo ano de Medicina. Para o avô isso representa uma enorme conquista, já que ele teve oportunidade de estudar apenas até o ensino primário. É o grande presente do Dia dos Avós, comemorado nesta terça-feira (26).


Oswaldo Gaspar já escreveu dois livros e conta que hoje tem muito mais vontade de praticar a escrita graças à tecnologia. “Como tenho 93 anos, passo a maior parte do tempo no computador, porque ele me traz uma maior facilidade para escrever. Antigamente, precisava usar a máquina de escrever e era muito chato e cansativo quando a gente errava. Não dava para apagar os erros como a gente consegue fazer hoje no computador”.


Para ele, o amor de avô é algo inexplicável, uma dádiva. “Quando o homem vai chegando numa idade mais avançada e fica mais sozinho, Deus encontra uma maneira de nos presentear. Esse presente são os netos”.


Leia um poema de Oswaldo Gaspar para os netos:


Sonho de um Vô Coruja


Se eu fosse... Um ourives: Faria com minhas mãos hábeis, uma joia de ouro cravejada de brilhantes, os mais raros existentes, circundados por esmeraldas e safiras, juntamente com turmalinas, pérolas, rubis e topázios Colocando todas essas pedras preciosas na forma de um coração, vibrante e cheio de amor, e a daria aos meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um pintor: Colocaria toda a minha arte e sensibilidade, para pintar um quadro onde pudesse mostrar a felicidade. Pintaria o paraíso, com a sua rica natureza cheias de cores, rios, fontes e cachoeiras de águas cristalinas, tendo ao fundo o arco-íris com as suas sete cores, flores de toda espécie, pássaros de toda variedade. Não existiria serpente, apenas a paz que Deus criou... e eu o ofereceria aos meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um navegador: Navegaria pelos sete mares, enfrentaria as tempestades marítimas com coragem e decisão, pediria ao Rei Netuno, às sereias e aos golfinhos para me ajudarem na busca incansável para encontrar o paraíso que existe em algum lugar, para lá morar os meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um rei: Dono de um vasto e poderoso reino, faria, com que os meus sábios procurassem sem trégua, dentro dos meus tesouros, aquele que fosse o mais belo, e que tivesse o dom de fazer as pessoas felizes. E mandaria carruagens puxadas por cavalos brancos e de portes majestosos, todos com os seus arreios enfeitados com pedras preciosas, montados por soldados com uniformes brilhantes e coloridos, e os chapéus com penachos, anunciando com suas trombetas a chegada desse tesouro, para entregá-lo aos meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um escultor: Usaria com maestria o maço e o cinzel e esculpiria em uma pedra maciça e enorme, uma escultura que pudesse traduzir toda a felicidade de ser avô. Pediria Ao Grande Arquiteto do Universo que me inspirasse e pudesse trazer para essa escultura todos os meus sentimentos, e a daria aos meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um músico: Comporia uma melodia suave, doce e sublime, tal qual o canto dos anjos e querubins, quando cantam na noite de Natal, algo que deliciasse nossos ouvidos, transmitindo paz e serenidade. E que ela tivesse o dom de fazer felizes todos aqueles que a ouvissem e, eu a ofereceria aos meus peixinhos dourados.


Se eu fosse... Um magico: Com uma mágica faria o quadro do pintor se tornasse realidade, os rios, fontes e cachoeiras se movimentariam, os pássaros com seus trinados e gorjeios dariam alegria ao ambiente, e o sol brilharia com todo o seu esplendor, faria a joia do ourives se tornar um amuleto da sorte para proteger e guiar pelos bons caminhos os meus netinhos, faria aparecer o paraíso procurado pelo navegador , daria vida a felicidade do escultor , e o espaço que sobraria no planeta transformaria num imenso parque infantil, onde teria milhares de rodas-gigantes, trens-fantasmas aos montes, montanhas-russas, carrosséis e todos os demais brinquedos possíveis e imagináveis de que as crianças gostam.

Haveria centenas de palhaços com as suas caras pintadas e suas roupas folgadas e coloridas, seus chapéus-cocos e seus sapatos enormes e eu seria um deles... Teria também, mágico, engolidores de facas, trapezistas e tudo o mais que os circos têm, e que o som em seus ouvidos fossem sempre agradáveis e melodiosos como a musica composta pelo musico, para lá viverem os meus peixinhos dourados.


Tudo isso eu faria, para os meus peixinhos dourados . Mas, como nada disso sou, só posso lhes dizer que os amo e os quero muito e de todo o meu coração . E que vocês me fazem muito feliz. Peço com todo o meu fervor que o Grande Arquiteto do Universo , na sua imensa bondade e misericórdia, ilumine os homens, para que reine a paz na terra, e as crianças possam viver tranquilamente.

Vovô Gaspar


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