'Aquela ovada mudou minha perspectiva de vida', diz músico humilhado em Santos; relembre o caso

Em 2021, após ter o violoncelo atingido por um ovo enquanto tocava no Gonzaga, Luiz Felipe viveu onda de solidariedade

Por: Régis Querino  -  20/02/22  -  07:24
Luiz Felipe Almeida viu a sua vida mudar desde o episódio da ovada no Gonzaga
Luiz Felipe Almeida viu a sua vida mudar desde o episódio da ovada no Gonzaga   Foto: Reprodução/Instagram

Traiçoeiro, o destino prega peças. E por diversas vezes surpreende. No caso do músico Luiz Felipe Salinas Almeida, pode-se dizer que uma ovada mudou a sua vida. Para melhor. Desde que ele foi alvo de um ovo, jogado por algum morador mal-educado do Gonzaga, em Santos, em outubro do ano passado, o sorocabano de 20 anos viveu momentos especiais. Do constrangimento ao ser atacado quando tocava violoncelo na rua, ele se viu envolvido por uma onda de solidariedade que jamais poderia imaginar.


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“Sim, aquela ovada mudou tudo, principalmente a minha perspectiva de vida. Me senti mais valorizado. Muita coisa melhorou, ganhei reconhecimento, muita gente da família valorizou o meu trabalho, que tive chance de mostrar para mais gente. Vi a solidariedade das pessoas, vi como o artista de rua não está sozinho e tive a oportunidade de estudar”, conta Luiz Felipe, que começou a tocar violoncelo aos 7 anos.


À época do episódio, sem dinheiro, o músico morava em seu carro, um Corsa, que ele estava arriscado de perder por falta de pagamento. Até que o ovo atirado de um prédio do Gonzaga, que acertou em cheio o instrumento dado pelo bisavô, quando ele tinha 13 anos, caiu quase como um bilhete premiado da loteria.


Solidárias com o músico, um grupo de pessoas organizou uma vaquinha virtual para ajudar Luiz Felipe. A corrente rendeu um saldo de R$ 25 mil ao rapaz. “Mandei dinheiro para a minha mãe, meu irmão e meu filho. Tinha contas para pagar, comprei um celular bom para fazer os meus vídeos e guardei um pouco”, relata, feliz da vida.


Com a repercussão do caso na mídia e nas redes sociais, Luiz Felipe passou a ser requisitado para fazer apresentações em bares, lojas e colégios. “Recebi apoio nas redes sociais até do Mano Brown. Fiz um especial no dia de Finados, toquei com o MC Hariel em São Paulo e fiz um evento aberto na minha cidade, quando foi muito mais gente do que eu esperava”.


A fama instantânea também teve o lado ruim, quando comerciantes o convidaram para tocar e divulgar os seus negócios, mas depois não lhe pagavam cachê.


Faculdade e giro pelo Brasil tocando nas ruas

Entre idas e vindas a Santos, Luiz Felipe passa uns dias em Sorocaba para ficar com o filho, Valentim, de 1 ano e 7 meses, já que a ex-mulher, que morava em Itapevi, voltou a residir em sua terra natal. Enquanto isso, ele deixou de morar no veículo e se instalou em uma república, na Encruzilhada. E começou a fazer um curso EAD de licenciatura em Música na Unimes, que lhe presentou com uma bolsa de estudos.


“Não pretendo ser professor de violoncelo, mas quem tem faculdade é visto de outra forma. Penso em fazer uma pós, quero conhecer o Brasil e viajar para outros países”.


Diante de vários projetos, Luiz Felipe não deixará de tocar na rua. E segue a veia musical da família, já que o bisavô é trombonista e uma prima toca flauta transversal e violino. “Gosto de tocar, é uma terapia. E dependendo do lugar dá para ganhar bem, uns R$ 3 mil, R$ 4 mil por mês. Mas não é todo dia que dá pra trabalhar se, por exemplo, você pega uma semana chuvosa”.


Com o seu velho companheiro de concertos e outro trombone, que ganhou de uma loja de instrumentos de São Paulo, Luiz Felipe não passou nenhum outro perrengue como o vivido em Santos, em 2021. Episódio que, se teve um lado triste, também lhe proporcionou a guinada na vida. “Parece que foi tudo encaminhado por Deus e está dando tudo certo”, celebra.


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