Alunos e professores da Orquestra GPA, em Santos, lamentam encerramento de atividades

Com fechamento do Hipermercado Extra, turma não tem onde ensaiar

Por: Natalia Cuqui  -  05/12/21  -  15:25
Os jovens, entre 10 e 18 anos, têm aulas de música pelo projeto; depois, podem passar a integrar a orquestra, recebendo auxílio-benefício
Os jovens, entre 10 e 18 anos, têm aulas de música pelo projeto; depois, podem passar a integrar a orquestra, recebendo auxílio-benefício   Foto: Divulgação

Cerca de 30 jovens que fazem parte da orquestra do Instituto Grupo Pão de Açúcar (GPA) e quase 100 que participam do curso de música receberam uma notícia inesperada na última segunda-feira (29): o encerramento das atividades no final do ano.


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As aulas do curso de música, para jovens de 10 a 18 anos, eram gratuitas e os alunos que se formavam e passavam no processo seletivo da orquestra recebiam uma bolsa-auxílio. Lá, eles podiam ficar até os 21 anos de idade. Os ensaios aconteciam no Hipermercado Extra, que será fechado no final deste mês.


A professora de música Yasmin de Gois Silva, de 20 anos, está no programa de música desde 2015 e disse que se sentiu perplexa ao receber a notícia em uma reunião virtual com pais, alunos, professores e assistentes.


"Não é a primeira vez que isso acontece. Na última vez, eles disponibilizaram um ônibus para que os integrantes de Santos fossem ensaiar na sede de Osasco. Porém dessa vez não fizeram nada a respeito, apenas nos informaram a decisão, sem apresentar solução", desabafa.


Segundo Yasmin, o instituto alega que a verba da lei de incentivo à cultura (Lei Rouanet) foi congelada e que, por este motivo, eles não conseguem mexer no dinheiro, optando por manter apenas a unidade de Osasco, utilizando recursos próprios. Além disso, os instrumentos da unidade de Santos seriam doados para Osasco, de acordo com a professora.


"Não foi somente pela venda do hipermercado, pois isso poderia ser resolvido, ao que tudo indica é desinteresse por parte do instituto. Tivemos uma única reunião no dia 29 de novembro, não fomos consultados de nada disso antes".


O representante comercial Alexandre Guerra, de 44 anos, é pai de Bruna Guerra. Ele contou que ficou surpreso com a naturalidade com que a notícia foi dada aos pais, alunos e professores. "Foi muito abrupto, não houve um aviso, uma conversa com ninguém. O pessoal está sem entender o que vai acontecer, porque simplesmente acabou, está todo mundo desesperado. Fiquei assustado na reunião com a frieza da pessoa que nos comunicou".


Ele lembra que alguns alunos sofriam de problemas como depressão, e viram na música uma válvula de escape. Além disso, outros conseguiram criar uma carreira até mesmo internacional. "Muitos alunos tinham problema de depressão e foram salvos com a música. As pessoas que se formam tem até carreira internacional. Um curso de música hoje é caríssimo, e hoje o projeto é uma oportunidade pra muita gente que não tem condição".


No Instagram, o grupo criou o @gpasantosimporta, onde contam a história do Programa e divulgam mais detalhes do abaixo-assinado que fizeram para defender a continuação do curso de música. A primeira turma de Santos formou-se no ano de 2000 e mais de 15 mil alunos já passaram pelo instituto ao longo dos 21 anos. Um abaixo assinado divulgado na rede social, tem mais de 3.600 assinaturas defendendo a continuidade do projeto.


Na tentativa de obter uma resposta, Yasmin afirma que os pontos levantados na reunião seriam levados aos superiores do Instituto.


Mãe de Beatriz, que toca viola e se formou no grupo em 2019, a servidora pública Sandra Souza afirma que foi "pega de surpresa" com a notícia do encerramento da orquestra.


"Não nos ofereceram nenhum tipo de alternativa, não se colocaram dispostos a conversar, para pensarmos juntos em algo. A impressão que dá é que realmente não tem conversa. Pelo menos se a gente conseguisse um espaço, tipo uma sala de igreja ou um espaço público que pudéssemos usar, pelo menos quem tem instrumentos podem continuar ensaiando entre eles até encontrarmos alguém que decida ajudar a gente a tocar o projeto", contou ela.


Sandra ressalta também que os instrumentos utilizados para ensaiar serão levados para Osasco, onde serão doados. "Isso é um absurdo, se vai ser doado, por que não doar para quem já é da Orquestra? Pelo menos para quem já está lá há anos, para ter a possibilidade de continuar ensaiando e possam de repente tocar em eventos, porque muitos deles ajudavam a família com a bolsa auxílio que recebiam. Nem todos os alunos tem instrumentos".


Em nota, o Grupo Pão de Açúcar afirmou que encerra a atuação no município por conta de uma "combinação de fatores". Segundo a nota, entre esses fatores está a questão do espaço físico, por conta do fechamento do Extra Hiper. O grupo ressalta que a decisão foi tomada depois de avaliar alternativas para a manutenção do programa e que os 45 alunos matriculados neste ano receberão seus certificados.


O Instituto GPA afirmou ainda que "está dialogando com outras instituições, para mapear, orientar e incentivar os interessados para participarem dos seus processos seletivos".


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