A modernidade de José Bonifácio

De sistema métrico a Grávidas, saiba mais sobre o santista que vivia além de seu tempo

Por: Wilma Therezinha Fernandes de Andrade  -  26/01/22  -  21:17
José Bonifácio vivia além de seu tempo
José Bonifácio vivia além de seu tempo   Foto: Reprodução

Fazer a relação das inovações de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) quanto a sua modernidade seria fazer uma biografia enciclopédica. Assim, esta relação será apenas um mostruário de suas atitudes inovadoras.


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Sistema métrico
A postura de José Bonifácio nitidamente modernizadora era conhecida pela Real Academia das Sciencias e Letras de Lisboa. Quando foi consultada pelo governo português sobre a adoção do novo sistema de pesos e medidas métrico decimal, a Academia solicitou um parecer a José Bonifácio, que assim respondeu em um documento chamado Memórias:


“Talvez pareça aos espíritos acanhados que a adoção do sistema metro decimal para base das novas medidas ofende, de algum modo, o pundonor nacional: porém, refletiram que o verdadeiro e útil não tem pátria, pertencem a todas as nações, pertencem ao Universo inteiro. Seria capricho pueril não adotar o que há de bom entre os inimigos, só porque eles dizem que é seu. Que seria de república das letras, se os ódios e guerras das nações houvessem de impedir, de invadir os domínios pacíficos da verdade e das ciências úteis”(...)


Aqui se mostra claramente a atitude científica e filosófica sobre a verdade. Os portugueses deixavam de usar o côvado (medida equivalente a 66cms), a palma, o pé e outras medidas antigas para o inovador sistema métrico decimal, a partir do parecer modernizante do santista José Bonifácio.


Valores republicanos
D.Pedro I, Defensor Perpétuo e Constitucional do Brasil, instituiu, em 1 de dezembro de 1822, a Imperial Ordem do Cruzeiro, destinada a remunerar brasileiros e estrangeiros por serviços em prol da Independência. Também ofereceu o título de marquês a José Bonifácio, em dezembro de 1822, que recusou e, em uma carta ao imperador, José Bonifácio escreveu que não aceitava e jamais aceitaria “mercê alguma honorificação em recompensa de serviços prestados em prol de Independência”. Essa resposta indicou, além de independência pessoal, simpatia aos valores republicanos.


Mulher
A situação da mulher grávida preocupou José Bonifácio, que propôs licença quando grávida e também após o nascimento do bebê, poupando-a de trabalhos pesados ou de carregar peso que poderiam prejudicá-la.


Atuou em defesa das minorias sociais e dos indígenas, dos negros e crioulos (negros e descendentes nascidos no Brasil). Escreveu sobre como melhorar suas rudes vidas, propondo medidas para amenizar o sofrimento, no caso dos índios “administrados” (forma disfarçada de escravidão). Quanto aos negros e crioulos é bem mais conhecida. Uma prova disso é que quando se estabeleceu na Vila de Santos, no sitio dos Outeirinhos, só empregou mão de obra livre, para dar exemplo de que o trabalho livre é mais produtivo que o trabalho escravo.


Suas ideias estão documentadas: “Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil”, publicada pela Imprensa Nacional, no Rio De Janeiro, em 1 de junho de 1823. Outro trabalho: “Representação à Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil sobre a escravatura”, publicada em Paris, em 1825. Essas obras facilitavam sua integração social e apoiavam a cessação do tráfico negreiro.


Para encerrar esse resumido relato de algumas propostas e ações, se o leitor ou leitora usa hoje para medição o metro e não o côvado e apoia a pluralidade do povo brasileiro, lembre-se de José Bonifácio, pioneiro e lutador dessas ideias, que na primeira metade do século 19, eram inovadoras e afirmou: “O verdadeiro e o útil não têm pátria”, e o que importa é”: Utilizar os domínios pacíficos da verdade e das ciências úteis”.


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