Hospital de campanha em Praia Grande receita 'kit covid' não recomendado pela OMS: 'Só carimbou'

Paciente com suspeita de coronavírus relata ter recebido prescrição médica 'pronta' com Ivermectina

Por: Jordana Langella  -  05/04/21  -  14:51
Paciente com suspeita de coronavírus relata ter recebido prescrição médica 'pronta' com Ivermectina
Paciente com suspeita de coronavírus relata ter recebido prescrição médica 'pronta' com Ivermectina   Foto: Foto: Divulgação/Prefeitura de Itajaí e Alexsander Ferraz/AT

Uma moradora de Praia Grande com suspeita de covid-19 recebeu, na última semana, no Hospital de Campanha Falcão, uma prescrição médica de ivermectina - remédio que não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento da doença.


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De acordo com Rosângela Serena dos Santos, de 24 anos, ela compareceu ao hospital - instalado no Ginásio localizado no bairro Mirim - junto com o filho de oito anos e a irmã, após o sobrinho de 15 anos testar positivo para doença, com qual os três tiveram contato.


Em entrevista para ATribuna.com.br, Rosângela explicou que chegou no local com cansaço e dor de cabeça, enquanto o filho já havia apresentado febre nos dias anteriores. Durante a consulta, ela explicou que a médica receitou ivermectina como método de tratamento precoce para a covid, sem a paciente testar positivo para a doença, como forma de prevenção.


Receita com ivermectina foi prescrita no Hospital de Campanha Falcão
Receita com ivermectina foi prescrita no Hospital de Campanha Falcão   Foto: Arquivo Pessoal

“A receita já estava pronta, só destacada de um ‘bloquinho’ com outras receitas iguais. A médica colocou só meu nome e o carimbo dela”, contou Rosângela.


O medicamento normalmente utilizado para casos de doenças envolvendo parasitas, não é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento da doença. Contudo, popularizou-se entre os brasileiros, assim como o uso de azitromicina.


De acordo com o médico infectologista Marcos Caseiro, o remédio não tem nenhuma comprovação científica e não há nenhum estudo sério na área da saúde que comprove sua eficácia. “Não existe isso em nenhum País do mundo, só aqui no Brasil”, disse durante entrevista para Atribuna.com.br .


O médico também definiu o uso do medicamento como ‘crença’ e o relacionou à polarização política do País e excesso de fake news disseminadas nas redes sociais. E criticou os médicos que adotam o tratamento de covid com ivermectina.


“O pior de tudo isso é prescrever e achar que resolve. O que resolve mesmo é o acompanhamento médico”, reforçando a necessidade da observação de cada paciente e seu quadro clínico de saúde.


O médico também disse ter recebido um prontuário médico da Secretaria de Saúde Municipal de São Vicente, que parece um formulário para tratamento precoce de pacientes da doença, no qual ivermectina e azitromicina aparecem como as primeiras opções de uma extensa lista de remédios.


Receita para pacientes com covid
Receita para pacientes com covid   Foto: Arquivo/Dr. Marcos Caseiro

"A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informa que tem os medicamentos disponíveis nas farmácias das unidades de saúde, mas a prescrição dos remédios fica a critério e responsabilidade de cada médico, que responde por sua atuação ao Conselho Regional de Medicina (CRM), não cabendo à Sesau qualquer questionamento sobre sua conduta".Em nota, a Secretaria de São Vicente afirmou que a prescrição de medicamentos é de responsabilidade de cada médico.


O que diz a Prefeitura de Praia Grande sobre o caso no Ginásio Falcão


Em nota, a Secretaria de Saúde do município também informou que a decisão de tratamendo para covid é de responsabilidade do médico.


"A Prefeitura de Praia Grande informa, através do Comitê Técnico Científico da Secretaria de Saúde, que não incentiva o uso de medicamentos que não estejam pautados em evidências científicas, no entanto, segue as recomendações do Conselho Federal de Medicina, no sentido de respeitar a autonomia de prescrição daquele profissional da linha de frente que, baseado em sua experiência pessoal e avaliação individual do caso concreto, decida a alternativa que entender ser a correta e, da mesma forma, respeita a posição do paciente em comum acordo com o médico prescritor em aceitar o tratamento".


A paciente Rosângela Serena optou por não tomar o medicamento, já que não há nenhuma comprovação científica sobre seu uso.


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