Funcionário do Irmã Dulce revela caos no hospital e falta de atenção: 'Ninguém cuida da gente'

Profissional, que pediu para não ser identificado, relatou a situação de caos que vive o município no combate ao coronavírus

Por: Brenda Bento  -  17/03/21  -  16:48
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Um funcionário do Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, relatou paraA Tribunaa situação de caos enfrentada pelos profissionais da Saúde e também o descaso no atendimento oferecido aos pacientes.Entre as queixas estão equipamentos danificados, falta de higiene e produtos básicos, escassez dos EPI's e quadro de funcionários reduzido. "Sentimento de impotência", disse.


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"A gente vai na mão de Deus. Cuidamos dos outros, mas ninguém cuida da gente. Essa questão já é antiga, mas piorou agora [na pandemia] porque o fluxo é maior", lamentou o funcionário que pediu para não ser identificado.


Estrutura ruim


De acordo com ele, o hospital não tem rouparia suficiente e alguns pacientes não conseguem tomar banho por falta de roupas de cama para troca. "Em questão de higiene não tem nenhuma de acordo com o protocolo exigido."


Além disso, ele contou que não há macas suficientes para atender os pacientes que, em alguns casos, chegam a aguardar o plantão inteiro sentados, pois as cadeiras de rodas estão quebradas, macas estão enferrujadas ou sem a trava de segurança.


Perda de vacinas


A situação mais crucial vivenciada pelo funcionário foi há uma semana com a perda de um lote de 60 vacinas por causa de um problema no fornecimento de energia seguida de uma falha no gerador por falta de manutenção.


"A manutenção da geladeira [que armazena as vacinas] é precária. Não tem controle de temperatura. As vacinas são armazenadas sem saber se estão refrigeradas corretamente", disse.


Lotação na entrada do Hospital Irmã Dulce
Lotação na entrada do Hospital Irmã Dulce   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Falta de proteção e apoio emocional


O funcionário explicou que existe um protocolo que orienta que os equipamentos de proteção individual (EPI's) sejam trocados a cada 2 horas, mas como não tem os itens suficientes, eles usam o mesmo equipamento durante todo o plantão, que chega a 12 horas.


Ainda de acordo com ele, há aproximadamente 15 dias um outro funcionário teve que ir trabalhar mesmo positivado com Covid-19, pois se ele faltasse não teria substituto.


"Os funcionários estão esgotados e, em alguns casos, precisam negligenciar atendimento porque não há braços suficientes para atender todos os pacientes. Muitas coisas que acontecem nos plantões poderiam ser evitadas se tivessem funcionários, leitos e equipamentos suficientes", afirmou.


Ele explicou que nenhum apoio psicológico foi oferecido pela instituição desde o início da pandemia. "Ambiente ruim, equipamentos ruins, muita gritaria, cobrança e ameaças de demissão ou suspensão".


Além da pressão psicológica, os funcionários são submetidos à assinar um termo de confidencialidade que proíbe filmagens ou vazamento de informações da realidade vivida por eles.


O funcionário afirmou, ainda, que a realidade em Praia Grande não é a mesma de baixos índices de contaminados conforme a prefeitura divulga. "Como vamos ter um índice correto se a prefeitura obrigou a não fazermos testes?"


Em nota, aSecretaria de Saúde de Praia Grande informou que segue enviando normalmente os kits para coleta dos testes de Covid-19 ao hospital e que os testes são enviados para o Instituto Adolfo Lutz. A administração municipal informou que não há motivos para negar a testagem.


O que diz o hospital


A direção do Hospital Irmã Dulce afirmou que o estoque de enxoval atende ao dimensiomaneto de pacientes e que a rouparia é abastecida diariamente para que seja realizada a troca conforme necessidade dos pacientes.


Segundo o hospital, não há problema no fornecimento de EPI's aos profissionais e que os mesmos contam com suporte psicológico desde o início da pandemia.


De acordo com o Irmã Dulce, a quantidade atual de macas pode não suprir a necessidade de atendimento devido à atual situação e demanda de pacientes por causa da pandemia de Covid-19, porém a equipe assistencial busca resolver a situação o mais rápido possível.


Ainda de acordo com o hospital, não procedem as informações de que funcionários seriam obrigados a assinar um termo de confidencialidade, que um profissional tenha trabalhado com Covid-19 e que o hospital não armazena imunizantes, portanto, não houve perda de vacinas.


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