489 anos de Itanhaém: fogo na canjica! E, se o trabalho for até eito da noite, nem arueira
'Teté' transformou o amor pela terra natal em livro falando das expressões locais
Maria Tereza Leal Diz, de 72 anos, mais conhecida como Teté, faz parte daquela lista de pessoas conhecidas e queridas em Itanhaém. Nascida no Município e com antepassados ligados à Cidade, transformou o amor pela terra natal em livro, no qual reuniu termos e expressões utilizados por antigos moradores.
Chamado de Dicionário Tabacudo, retrata costumes e tradições gravados em frases e palavras típicas do povo caiçara. É um resgate ou, praticamente, um passeio pela história catalogado em ordem alfabética. “O que eu ouvia em casa, desde pequena, eram termos e expressões diferentes do que ouvia na escola ou com minhas amiguinhas.”
Caxivuvu, por exemplo, era algo comum de se ouvir em conversas. “Significa uma pessoa estranha. Se eu falo, você não vai entender mesmo que procure no dicionário.”
Tereza conta que aprendeu muito com a mãe, cujos antepassados pertenciam a tribos indígenas, e a linguagem falada em casa acabou guardada na memória, no livrinho de anotações e em pesquisas e entrevistas feitas com outros moradores.
“Itanhaém ficou isolada geograficamente de outros núcleos maiores durante séculos, porque a gente não tinha estrada de ferro. A antiga Sorocabana é de 1914. Nem a estrada de rodagem, que é de 1960.”
O percurso até cidades maiores era feito pela praia. Na época dos avós e bisavós, à pé ou de carroça. Quando era criança, já havia ônibus. Mas ir a São Vicente ou Santos, por exemplo, era complicado.
“Um homem sensacionalmente arrojado, Antônio Augusto de Sá Lopes, criou a Sul Praiana, empresa de transporte coletivo e colocou uma linha de ônibus, que fazia de Santos a Itanhaém. Mesmo assim, era difícil a viagem, porque, muitas vezes, a gente tinha que esperar a maré baixar. Ele chegou a perder muitos veículos porque atolavam na praia. Vinha a maré e acabava com tudo.”
‘Inventor’ do delivery
Outra história contada em família era de um morador que costuma ajudar a vizinhança indo buscar encomendas, até medicamentos, em São Vicente. “Naquela época em que Itanhaém não tinha outra forma de comunicação, no século 19, minha mãe contava que existia um senhor chamado Sergio Bicicleta. Quando alguém precisava de um remédio, ele saía de madrugada, fazia esse trecho todo de bicicleta, comprava o remédio e voltava. Pode-se dizer que foi o inventor do delivery, com certeza”, brinca.
Algumas expressões
Abana-mosca: tapa dado sem força
Abespinhar-se: impacientar-se
Cagaimpé: roupa que a pessoa veste muito, não tira do corpo
Eito da noite: tarde da noite
Estultícia: tolice, imbecilidade
Fogo na canjica: expressão usada como um grito de guerra para realizar uma tarefa
Ir das ilhas para a terra: morrer
Jaguaraíva: cachorro
Lanhar: fazer cortes no peixe para o sal penetrar
Nem arueira: nem ligar para algo
Ovo gorado: estar com roupa transparente, transparência
Parapará: mais ou menos
Remoque: zombaria, gracejo