Família faz manifestação para lembrar morte de bebê após tomar injeção no Hospital Guarujá
A mãe, Natália, lembra quando a pequena Alícia passou mal em seus braços dentro da unidade de saúde
Há um ano, a pequena Alícia Kahali de Oliveira Prieto, então com nove meses, passou mal nos braços da mãe, a autônoma Natália Souza de Oliveira, de 36 anos, após tomar uma injeção na sala de espera do Hospital Guarujá. Minutos depois, a bebê morreu. Desde então, a rotina de amamentação, cuidado, brincadeiras e trabalho em casa com a companhia da menina deu lugar a altas doses de antidepressivos e uma vida incompleta.
Ainda em busca de respostas para entender o que houve naquele dia, a mãe Natália organizou uma manifestação pacífica em frente ao hospital onde tudo aconteceu, no começo da tarde desta segunda-feira (29).
“Eu não consigo viver, estou sobrevivendo em busca de justiça. Sofro com crises de ansiedade e depressão. Não consigo trabalhar. Ela era grudada comigo 24h, desde quando acordava até a hora de dormir. Minha filha era muito esperta, uma bebezona saudável”, lembra a mãe, com saudade.
O caso
Em 24 de setembro de 2019, a menina começou com febre. Natália medicou com dipirona e, na madrugada, a febre retornou. Como a bebê não tomou uma mamadeira de leite inteira e vomitou na sequência, os pais saíram do Jardim Alvorada, em Vicente de Carvalho, e a levaram para o Hospital Guarujá.
Segundo o pai, o autônomo Fernando Paes Prieto, de 36 anos, na madrugada do dia 25 foi dada dipirona e colhidos sangue e urina. No retorno ao hospital para pegar os resultados dos exames, a médica informou que havia uma infecção e pediu novo exame de sangue, a ser coletado apenas quando Alícia não tivesse mais febre.
“Isso não aconteceu. Ela tomou a medicação para a temperatura e o sangue foi colhido na sequência. Ainda avisei a médica. No resultado, deu uma alteração ainda maior. Por isso, foi feito exame para meningite, que deu negativo”.
Então veio a internação de Alícia, para que fossem feitos hemocultura (detecta a presença de bactérias ou fungos no sangue) e urocultura (detecta bactérias na urina).
“Minha filha seguiu os quatro dias de internação bem sem febre ou vômito, se alimentando bem e muito ativa. Estávamos apenas cumprindo o protocolo médico que era aguardar esses resultados e os cinco dias de antibiótico”, explica Natália.
Animados com a expectativa de alta por conta da melhora. os pais de Alícia passaram o quarto dia de internação andando com ela pelo corredor, brincando na cadeira de rodas.
“Nós fomos para a sala de espera, onde tem um sofá branco. Lembro como se fosse hoje. Sentei ali e meu marido ficou brincando com ela. Estavam rindo, felizes. Então, uma enfermeira veio com uma bandeja com medicações e falou que uma delas seria aplicada na minha filha ali mesmo, com ela no meu colo”, lembra a mãe.
“Ela pegou a mão esquerda da minha filha e aplicou o remédio em dois segundos. Foi tão rápido. Ela começou a passar mal na hora. Parecia que queria vomitar, ficou pálida, com os lábios roxos, me olhando com os olhos arregalados, como se estivesse pedindo socorro, para eu protegê-la. Foi a última vez que a vi com vida”, conta Natália.
A menina foi levada pelos pais às pressas para a sala de emergência, de onde Alícia só saiu morta. “Disseram que ela tinha tomado Decadron. Perguntamos sobre a seringa dessa medicação, mas em nenhum lixo foi encontrada. Todos se calaram, ninguém soube explicar o que aconteceu. Todos os exames deram negativo para fungos, bactérias ou outros problemas. Ela nunca teve uma gripe antes e agora está morta”.
Resposta
Segundo o advogado do Hospital Guarujá, Bruno Alvarenga, a unidade se colocou à disposição para ajudar a família antes do primeiro laudo do Insituto Médido Legal (IML) a respeito da causa da morte. No entanto, os advogados concordaram em não ajudar sem assumir a culpa. "Uma ação para obter pensão foi tentada no judiciário, mas sem sucesso. Também foram emitidos laudos em que não se concluiu erro médico. O hospital reforça, ainda, que não pratica atos para tentar alterar os resultados dos exames".