Entenda o caso e como fica Guarujá com a prisão do prefeito

Válter Suman e o secretário municipal de Educação, Marcelo Nicolau, foram presos pela PF

Por: Sandro Thadeu e Rafael Motta  -  16/09/21  -  06:51
 Dinheiro, dois carros e uma moto foram apreendidos nas buscas, feitas nos dois paços municipais e em endereços de Guarujá e Santos
Dinheiro, dois carros e uma moto foram apreendidos nas buscas, feitas nos dois paços municipais e em endereços de Guarujá e Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (15), o prefeito de Guarujá, Válter Suman (PSDB), e o secretário municipal de Educação, Marcelo Nicolau, após serem ouvidos na delegacia da corporação em Santos. Ambos foram levados ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente e, nesta quinta-feira (16), participam de audiência de custódia no Fórum de Santos. A detenção deles ocorreu após a PF ter deflagrado, na parte da manhã, a Operação Nadar, que apura um possível esquema de desvio de dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS).


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Mais de dez mandados de busca e apreensão em Santos e Guarujá, contendo endereços ligados ao chefe do Executivo, foram autorizados pelo desembargador Nino Toldo, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3). Recolheu-se dinheiro, em total não revelado, em parte dos imóveis.


Como a operação da PF está sob segredo de justiça, a corporação informou que emitirá nota oficial quando o sigilo for retirado.


Como fica
O Município está interinamente sob comando da vice-prefeita Adriana Machado (PSD). A Tribuna a contatou por telefone no início da noite desta quarta-feira (15), mas ela não quis dar entrevista.


Origem do caso
Conforme apurado pela Reportagem, a ação da PF se deve a supostas infrações político-administrativas cometidas por Válter Suman relacionadas à organização social (OS) Pró-Vida.


Essa instituição respondia pela gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rodoviária e das 15 Unidades de Saúde da Família (Usafas) do Município até a primeira quinzena de março, quando o Município afastou a OS, após recomendação do Ministério Público de São Paulo.


Depois disso, o empresário e ex-representante da Pró-Vida Almir Matias da Silva apresentou denúncia à Câmara com o relato de possíveis irregularidades.


A contratação de trabalhadores por indicação direta de Suman, a existência de funcionários fantasmas — uma delas seria a nora do prefeito – e o uso de imóveis e veículos de Silva ou de empresas dele por agentes públicos, como Marcelo Nicolau, foram citados. No entanto, o Legislativo arquivou o caso.


A Prefeitura declarou na noite desta quarta (150, em nota, que soube das investigações da PF pela imprensa, lembrando a intervenção do prefeito nos contratos com a OS e que o Município pediu à Justiça ressarcimento pela organização. Também disse ter mantido contatos com o Ministério Público e que está “colaborando com as investigações” da Polícia Federal.


A OS não se manifestou até o fechamento desta edição. Os advogados de Suman e Nicolau não quiseram se pronunciar.


Partido
O ex-presidente do PSDB de Guarujá e candidato a prefeito pelo partido nas eleições do ano passado, o advogado André Guerato, solicitou à Executiva estadual da legenda a suspensão preventiva do atual chefe do Executivo, Válter Suman (PSDB).


Em nota, o PSDB estadual informou que “o partido não possui informações sobre o caso e se pronunciará quando obtiver os esclarecimentos necessários”. Suman era filiado ao PSB e se transferiu ao PSDB em 20 de julho, com ficha assinada pelo vice-governador Rodrigo Garcia e pelo presidente estadual da sigla, Marco Vinholi.


Análise, por Rafael Motta, Editor de Cidades de A Tribuna


Não importa quanto tempo durará a prisão do prefeito Válter Suman: ainda que ele tenha sido reeleito no primeiro turno, há menos de um ano, com três quartos dos votos totais e não sofra oposição na Câmara, seu mandato está irremediavelmente afetado pelos acontecimentos desta quarta-feira (15).


Guarujá fica sob comando da vice-prefeita, Adriana Machado, sem experiência em gestão pública nem passagem pelo Legislativo. E, ainda que toda a Câmara seja governista, Adriana não é Suman. Não foi com ela que se firmaram acordos nem se mantiveram entendimentos.


A inexperiência política da vice e a oportunidade que vereadores poderão encontrar em seguir um caminho mais independente — que poderá ser contida à medida que tiverem demandas atendidas— são um elemento de incerteza quanto ao destino do Governo e do Município. Também não se sabe como antigos adversários, que foram oito na última eleição e nenhum dos quais atingiu 10% dos votos em novembro passado, e mesmo aliados dos 14 partidos que estiveram com Suman, se organizarão nos três anos, dois meses e duas semanas que restam para o término da atual gestão.


Ainda haverá desdobramentos dos motivos que levaram a Polícia Federal a bater à porta do prefeito e levá-lo. Inocente até prova em contrário, respeitando-se um princípio básico do Direito, Suman já padece como fato de que investigações apontaram para seu nome.


A indicação de que recaem suspeitas sobre o chefe do Executivo — um médico e político estimado pela população, bom de votos e que fez um partido político, o PSDB do governador João Doria, investir em sua filiação — deve abreviar sua vida política. Mas, por ora, a maior preocupação do prefeito será a própria liberdade. Guarujá, que parecia em paz após décadas de tiroteios, tanto reais quanto no sentido figurado, retrocede pelo simples fato de que o hoje se tornou mistério.


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