Bispo de Santos emite carta sobre caso que denuncia abuso sexual
D. Tarcísio Scaramussa salienta “direito de defesa”; paroquianos farão desagravo a padre
O bispo diocesano de Santos, dom Tarcísio Scaramussa, enviou, neste sábado (19), um esclarecimento aos fiéis sobre o caso em que um estudante acusa um padre de abuso sexual. O religioso falou sobre os “sentimentos e sofrimentos” desde que o caso foi divulgado e pediu “misericórdia e caridade”.
De forma paralela e sem participação da Diocese, frequentadores da Paróquia Senhor Bom Jesus, em Guarujá, preparam um ato em defesa do acusado nesta segunda-feira (21).
Na “carta ao povo de Deus”, o bispo comenta as acusações do estudante Lucas Grudzien, de 22 anos, morador do Bairro Morrinhos, em Guarujá, contra o padre Edson Felipe Monteiro Gonzalez, por suposto abuso sexual.
O caso teria acontecido quando a vítima tinha apenas 14 anos, em 2013. Lucas relatou que foi convidado pelo padre Felipe, que tinha 28 anos, para trabalhar no arquivo da paróquia e ajudá-lo nas missas. A partir daí, segundo a vítima, começaram os abusos, que ocorreriam duas vezes por semana.
Na carta, o bispo afirma que toda a documentação relativa à investigação prévia foi enviada à Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma. E que a igreja cumpriu os procedimentos, “ouvindo todas as partes, colhendo os documentos probatórios e ouvindo as testemunhas correspondentes”.
O religioso também aponta que o inquérito policial instaurado pelo Ministério Público foi arquivado, sem oferecimento de denúncia.
“Esta postura de busca da verdade e da justiça por parte da Igreja, e seu compromisso com os deveres de seus sacerdotes e fiéis, não significa, no entanto, abdicar dos direitos que são garantidos por justiça a todas as pessoas e instituições. Toda pessoa acusada tem direito de defesa e não pode ser execrada, linchada publicamente e condenada sem poder defender-se legitimamente. Para isto existem os caminhos da justiça, tanto a Canônica, que se rege pelo Código de Direito Canônico, quanto a Civil, segundo a Constituição e o Código Penal de cada país”, escreveu o bispo.
Ato
Membros da Paróquia Senhor Bom Jesus, do bairro Morrinhos, preparam, para esta segunda-feira (21), um ato em favor do padre afastado. Fiéis, amigos, ex-coroinhas e frequentadores da igreja se reunirão ali às 19h30.
“Sairemos em defesa do padre, que é muito popular e importante para a gente. Ele trouxe de volta muitos que estavam afastados da igreja e tornou o povo mais acolhedor”, afirmou a professora Dafny dos Santos, uma das organizadoras do ato.
Segundo ela, os fiéis sabem da denúncia há anos e não entendem o motivo, pois o inquérito criminal foi arquivado. “O padre tratava todos da mesma forma e nunca ficava sozinho com ninguém na casa paroquial. Todos iam embora juntos dos eventos.”
À Reportagem, Lucas afirmou ter recebido a informação sobre o ato com tristeza. Segundo ele, a comunidade não sabe de tudo o que teria havido, mas a abertura de um novo processo poderá esclarecer os fatos. “Todos têm o direito de se manifestar. Mas quem passou pela situação sou eu.”