Bebê de 8 meses morre após tomar injeção em unidade de saúde no litoral de SP

Criança foi ao local com sintomas de gripe, mas quadro se agravou após medicação

Por: Régis Querino  -  14/05/22  -  21:25
Atualizado em 15/05/22 - 19:32
Criança piorou após receber atendimento médico em clínica
Criança piorou após receber atendimento médico em clínica   Foto: Divulgação/Arquivo familiar

A família de um bebê de oito meses acusa o Centro Clínico Frei Galvão, de Vicente de Carvalho, em Guarujá, no litoral de São Paulo, de negligência médica, após a criança morrer depois de passar mal ao tomar uma injeção na unidade hospitalar.

Familiares acreditam que a morte de Valentim Viegas Mazagão dos Santos, nesta sexta-feira (13), foi causada por reação à medicação prescrita pela médica pediatra de plantão. Em depoimento à polícia, outra médica, clínica geral, que ajudou a socorrer a vítima, disse que a criança teria aspirado secreção.


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“Meu sobrinho estava resfriado, com uma tossinha chata, e minha irmã o levou à clínica para passar na pediatra. A médica disse que não tinha Raios-X e passou uma injeção de hidrocortisona, de 100mg. Aplicou na coxinha dele e foi o tempo de sair do local, ainda no estacionamento, e ele começou a passar mal”, conta Madalena Viegas Mazagão, tia do bebê.


Apavorada, a mãe correu com o bebê de volta à clínica, onde, de acordo com relatos da tia, a médica tentou reanimar a criança. “Ele estava desfalecido, todo roxinho, com hematomas pelo corpo. Por mais de 40 minutos ficaram fazendo massagem cardíaca e durante o ato, começamos a gritar, pelo amor de Deus, para chamar uma ambulância. O local não tem aparato nenhum e tiveram que chamar uma ambulância do Frei Galvão de Santos!”, acusa Madalena.


A tia de Valentim afirma que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas o atendente disse que não poderia enviar a unidade móvel porque um serviço particular já havia sido chamado.

“Demorou mais de uma hora para a ambulância do Frei Galvão chegar de Santos. O pai do bebê, que estava em Santos, chegou primeiro que a ambulância. Houve negligência, porque a médica não fez teste antes de aplicar a injeção. Não podemos deixar isso impune”.


Na polícia

Com a confirmação da morte no Centro Médico, a família acionou a Polícia Militar (PM), que encaminhou familiares e a equipe médica que fez o atendimento a Valentim para a Delegacia Sede de Guarujá.


Em depoimento ao delegado Otaviano Toshiaki Uwada, uma familiar da criança disse que como o Centro Médico não dispunha de aparelho de Raios-X, a médica insistiu para que a criança tomasse a injeção e que o exame fosse feito posteriormente na unidade do Frei Galvão de Santos. No relato à polícia, a familiar confirmou a versão contada pela tia para A Tribuna sobre o bebê ter passado mal minutos após receber a medicação.


Uma técnica de enfermagem do Centro Clínico Frei Galvão confirmou a prescrição da médica em depoimento e disse que logo após fazer a aplicação do medicamento com o auxílio de uma enfermeira, a criança retornou “molinha”.

Neste momento, a médica teria iniciado os protocolos de reanimação, mas o bebê não resistiu, vindo a óbito. A médica pediatra que atendeu Valentim preferiu não prestar depoimento antes de se consultar com um advogado.


Outra médica, clínica geral, disse na delegacia que atendia um outro paciente quando foi chamada para ajudar a socorrer a criança, mas quando chegou, ela já estava em parada cardíaca. Segundo a profissional, inconsciente, Valentim foi intubado, recebeu acesso central, medicações, adrenalina e massagem por 40 minutos, mas morreu. Ela acrescentou que o bebê estava com secreção saindo pela boca e nariz, razão pela qual teria aspirado o catarro.


O caso foi registrado como morte suspeita (morte súbita, sem causa determinante aparente). Como o local de atendimento ao bebê não estava preservado para fins de perícia, a mesma não foi solicitada. Um exame de necropsia foi pedido para apurar a causa da morte.


Outro lado

Procurada, a Notredame Intermédica, responsável pelo Centro Médico Frei Galvão, de Vicente de Carvalho, enviou a seguinte nota:


“Paciente entrou na unidade com sintomas gripais, e com desconforto respiratório, para tratamento foi aplicado hidrocortisona, após medicação paciente saiu do local para realizar RX. A família retornou após 15 minutos com a criança com rebaixamento do nível de consciência. Nesse momento a criança foi levada a sala de emergência, outra médica foi acionada para suporte, todos os procedimentos e protocolos necessários foram feitos, sem sucesso.”


Nota do Samu

A Tribuna também procurou a Prefeitura de Guarujá para confirmar se o Samu teria sido acionado para atender o caso. Em nota, a Prefeitura informou que “não há registros de que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tenha sido acionado para atender a ocorrência”.


A Secretaria Municipal de Saúde ressaltou, na nota, que “o Samu não realiza transferência entre unidades hospitalares, sobretudo da rede privada, e nem de um município para outro”. A medida, de acordo com a secretaria, “é preconizada para não deixar o atendimento de urgência na Cidade desassistido. É de competência do Samu o atendimento pré-hospitalar”.


A Prefeitura de Guarujá também lamentou a fatalidade ocorrida com a criança em uma clínica médica da rede privada e manifestou sua solidariedade aos familiares.


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