Um quarto do eleitorado da Baixada Santista é idoso e pode fazer a diferença nas urnas

Estudiosos dizem esperar que candidatos direcionem mais propostas a essa fatia da população, que pode ser decisiva

Por: Sandro Thadeu  -  31/07/22  -  17:44
Atualizado em 31/07/22 - 22:17
Entre 2014 e este ano, os nove municípios da região ganharam 98.039 idosos
Entre 2014 e este ano, os nove municípios da região ganharam 98.039 idosos   Foto: Matheus Tagé/AT

De cada quatro pessoas aptas a votar na Baixada Santista, uma tem 60 anos ou mais: dos 1,433 milhão de eleitores, 354.473 são idosos. A concentração de votantes nessa faixa etária é superior à verificada no Estado (22,44%) e no Brasil (21,02%), segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) compilados por A Tribuna.


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Entre 2014 e este ano, os nove municípios da região ganharam 98.039 idosos que podem ir às urnas em 2 de outubro, dia do primeiro turno da eleição. Segundo a Constituição Federal, o voto é facultativo para maiores de 70 anos.


Por representar parcela cada vez maior da população, esse segmento não pode ser desprezado pelos candidatos. Afinal, pode ter papel decisivo nos rumos do País, dizem especialistas.


O sociólogo e diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), Maurício Garcia, acredita que há uma tendência de as campanhas pensarem em propostas e em políticas públicas mais voltadas para os idosos.


Com três décadas de experiência na área de comportamento eleitoral, ele cita que, normalmente, aqueles com mais de 70 anos são os responsáveis pelo alto índice de abstenção em várias localidades. Tal situação pode estar diretamente relacionada à dificuldade de se deslocar até o local de votação.


No entanto, a polarização nas disputas estaduais e, principalmente, pela Presidência da República poderá ser um grande motivador para os familiares se mobilizarem para levar idosos para votar.


“As pessoas estão vivendo mais e possuem um papel muito importante nesse contexto. É possível que o TSE desenvolva, no futuro, um aplicativo seguro, como acontece com os bancos, para que essa fatia da população possa participar mais desse processo a distância”, justifica o representante da Abrapel, que é proprietário do Instituto Conectar Pesquisa e Inteligência e atuou como diretor do antigo Ibope. O cientista político Rodrigo Prando está aguardando o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão para saber como e se os candidatos trabalharão propostas voltadas para as pessoas que têm mais de 60 anos.


Ele lamenta que a política, assim como o mercado de trabalho, normalmente acabe desprezando os mais jovens, que ainda estão em processo de formação, e os mais velhos, que percorreram toda uma história de vida.


“Quando um idoso decide se manifestar politicamente, é preciso reconhecer que ali há o empenho de alguém que tem experiência. Isso não significa que essa vivência tenha ocorrido de forma crítica ou democrática. Ele, como qualquer outro cidadão, é capturado pela realidade onde vive”, afirma Rodrigo Prando, que é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Para o docente, aqueles com mais de 70 anos que decidem ir às urnas, mesmo não tendo mais essa obrigação, são exemplos positivos para todos.


“Isso precisa ser bastante valorizado pela sociedade. Muitos acabam superando as dificuldades de locomoção para exercer esse ato de cidadania”, frisa o cientista político.


Obstáculo
Os idosos precisam se articular melhor para cobrar de autoridades e candidatos políticas públicas e investimentos para suas necessidades básicas, segundo lideranças do setor.


A presidente do Instituto Energia, Eliza Montrezol, considera haver grande número de cidadãos despolitizados. “Por esse motivo, tenho muito medo do voto do idoso. Acho que a maioria das pessoas do meu entorno ainda não compreende o risco que estamos correndo em relação à democracia. Entendo que essa é uma discussão que está sendo feita de uma forma muito rasa”, lamenta a representante da entidade, que visa a discutir a política do envelhecimento com maiores de 60 anos.


Integrante do Conselho do Idoso de Santos, Eliza acredita que os candidatos têm propostas muito tímidas para esse público.


Conforme o presidente do Sindicato dos Aposentados, Idosos e Pensionistas (Sindinapi) da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Natal Leo, a instituição trabalha para incentivar os idosos a irem às urnas.


“Aqueles com mais de 60 anos representam 22% do eleitorado (paulista) e têm um poder de decisão muito grande. Há vários assuntos relacionados ao nosso público, como saúde e previdência, que precisam ter um olhar mais atento da classe política”, frisa.


Leo se diz decepcionado com o Governo. “Muitas pessoas receberam o auxílio emergencial (na pandemia de covid-19), enquanto nós estamos aguardando a aprovação do pagamento do 14º salário”.


Descrença
Maria do Carmo Cunha, administradora do projeto Envelhecer com Estilo, é descrente quanto a campanhas voltadas a idosos. “Não há uma preocupação conosco. Basta lembrar o que aconteceu com esse público agora na pandemia. Temos à frente do Ministério da Economia um idoso (Paulo Guedes, de 72 anos) que afirmou que os mais velhos são um ônus para o País”.


Em 27 de abril do ano passado, Guedes disse que “todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 (anos)”, mas que não “há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar” o crescente acesso ao atendimento médico.


Envelhecer com estilo
O projeto Envelhecer com Estilo, com mais de 300 mil seguidores nas redes sociais, é um dos principais incentivadores do Movimento Voto60+, que busca incentivar idosos a ir às urnas neste ano.


Essa iniciativa foi idealizada em 2020 por um nome conhecido de quem acompanha a política santista: o jornalista Ricardo Mucci, marqueteiro das campanhas vitoriosas de quatro prefeitos da Cidade — Beto Mansur (MDB), João Paulo Papa (PSDB), Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) e Rogério Santos (PSDB).


Essa iniciativa busca promover a defesa dos direitos dos idosos e tornar o Estatuto do Idoso (Lei Federal 10.741/2003) mais conhecido, para se exigir o cumprimento dos deveres e obrigações descritos nessa lei, “independentemente de ideologia ou partido político”, segundo Maria do Carmo Cunha.


A campanha defende, ainda, que maiores de 70 anos escolham os candidatos comprometidos com causas dos idosos.


Maria entende que seriam necessárias mais campanhas para incentivar esse público a ir às urnas, pois é um ato cuja importância independe da idade do eleitor.


Em quatro anos, o total de votantes com mais de 70 anos deu um salto de 23,82%, passando de 12,028 milhões para 14,893 milhões.


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