Pesquisadores criam solução para rastrear buracos nas vias

Dispositivo colocado embaixo de carros de aplicativos identifica situação do asfalto com geolocalização

Por: Arminda Augusto  -  07/08/22  -  06:36
Os buracos mapeados pelo dispositivo tem graduações diferenciadas por cores para identificar os que precisam de reparo urgente
Os buracos mapeados pelo dispositivo tem graduações diferenciadas por cores para identificar os que precisam de reparo urgente   Foto: Bruno Copertino

O pedido veio da Prefeitura de São Paulo: as secretarias que cuidam da manutenção e zeladoria da cidade precisavam de algum sistema que ajudasse a avaliar as condições das vias públicas com mais rapidez e assertividade, para que os programas de repavimentação e tapa-buracos fossem feitos com mais lógica e gasto racional do dinheiro.


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A cidade de São Paulo tem 17 mil quilômetros de vias e vai gastar, este ano, R$ 1 bilhão em recapeamento. Como estipular prioridades com uma malha viária tão extensa? O desafio foi feito a um grupo de engenheiros, arquitetos e pesquisadores ligados ao universo acadêmico, e a solução foi recorrer à tecnologia. Assim nasceu a GeoVista, uma empresa de tecnologia para a gestão de cidades inteligentes.


O primeiro produto, ainda inédito no Brasil, foi atender a Prefeitura de São Paulo com um dispositivo simples que, colocado embaixo de carros, mapeia as vias públicas, identificando buracos, declives acentuados, bocas de lobo faltantes, rugosidades no asfalto e outros defeitos que surgem com o passar do tempo e o peso de carros, ônibus e caminhões.


As informações coletadas pelo dispositivo (GeoBox)são armazenadas em uma espécie de superHD e depois enviadas para uma central de monitoramento. O resultado é um mapa completo da cidade, com vias cheias de pontos de ocorrência, dos mais graves aos mais simples, e suas respectivas geolocaliza-ções. Os buracos têm graduações diferenciadas por cores, para que o gestor público possa identificar o que é mais sério e precisa de reparo urgente, o que é apenas uma rugosidade e assim por diante.


Outras funções

Depois de criado o GeoBox e testadas suas funcionalidades, o passo seguinte foi convidar motoristas de táxis e de aplicativos para instalá-lo sob seus veículos. Na Capital, 100 carros já monitoram 92% das vias públicas. Cada motorista recebe como contrapartida dois tanques de combustível por mês.


Além do GeoBox, há outros dois apetrechos instalados: um sensor de intensidade da luz, para avaliar ruas sem iluminação ou com luzes fracas, um sensor de gases, para rastrear possíveis vazamentos das redes das empresas terceirizadas.


Teoria e prática

Hoje, a GeoVista já tem 30 profissionais, dos quais alguns alunos dos cursos de Engenharia, Arquitetura e áreas ligadas à tecnologia do Instituto Mauá de Tecnologia, e da Poli/USP.


Os pesquisadores fazem parte também da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia (FDTE), uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como objetivo principal desenvolver a área com projetos para o mercado e para a sociedade.


O engenheiro Ângelo Sebastião Zanini, um dos fundadores da GeoVista, fala sobre o prazer de utilizar os conceitos de Internet da Coisas (IoT) a uma necessidade real e prática das cidades.


“A partir da demanda apresentada pela Capital, desenvolvemos uma solução que representa mais assertividade no uso do dinheiro público”.


Antes do GeoBox, programas de recapeamento eram feitos com base nas queixas de munícipes ou visitas presenciais dos fiscais. “Agora, a Prefeitura tem uma radiografia real da situação, atualizada, e pode tomar decisões com base em prioridades”.


A GeoVista já está em fase de qualificação e testes para outras prefeituras, como São José dos Campos, Curitiba, Rio de Janeiro e Fortaleza. O valor dos contratos é feito com base na relação de quilômetros monitorados por mês. Zanini garante que é uma cifra ao menos 25 vezes menor que as soluções mais baratas encontradas no mercado europeu, onde serviços semelhantes também já existem.


José Carlos de Souza Júnior, reitor do Institu-to Mauá de Tecnologia (IMT), destaca a relação entre a produção acadê-mica e o mundo prático como um dos pilares mais importantes de uma universidade.


O IMT tem, em seu campus de 130 mil m2 em São Caetano do Sul, um espaço batizado de smart campus, onde os alunos desenvolvem soluções para as ‘cidades inteligentes’, com uso de tecnologias, internet das coisas (IoT) e equipes multidisciplinares.


Eureka

No final do ano, a instituição promove a Eureka, evento em que trabalhos de conclusão de curso são apresentados ao público, ao empresariado e gestores do setor público.


“É um verdadeiro cardápio de produtos, não só para as cidades, mas para as indústrias 4.0 também”, destaca o reitor do IMT. Esses trabalhos podem ser visitados no endereço eletrônico eureka.maua.br.


Conexão

Para o reitor José Carlos de Souza Júnior, a conexão entre a academia e o setor empresarial é imprescindível ao aluno, porque ele aprende que não basta ter a ideia ou a técnica, mas também conceitos sobre viabilidade econômica e se o trabalho será útil para a sociedade. “Assim, a universidade cria o ambiente para que essas conexões aconteçam”.


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