Partidos abrem as portas aos jovens da Baixada Santista

Legendas recrutam talentos com espírito público e vontade de contribuir, por novas visões sobre políticas públicas

Por: Sandro Thadeu  -  01/06/21  -  15:09
  Por novas ideias e visões diferentes sobre políticas públicas, legendas recrutam talentos com espírito público e vontade de contribuir
Por novas ideias e visões diferentes sobre políticas públicas, legendas recrutam talentos com espírito público e vontade de contribuir   Foto: Divulgação

A juventude é uma fase da vida repleta de incertezas e muitas descobertas. Justamente nesse período, surgem os primeiros sonhos, projetos e lutas para a construção de um futuro melhor. Por esse motivo, muitos partidos querem aproveitar o espírito e o anseio por mudanças desse público com a intenção de recrutá-lo para trazer novas ideias, ouvir sugestões sobre diferentes políticas públicas e até mesmo garantir a continuidade da atuação da agremiação.


Filiado ao PSDB de Santos há uma década, o engenheiro civil Guilherme da Rocha Tavares, de 26 anos, disse que sempre se interessou por política, desde criança, e que esse estímulo também veio de onde estudava, no Colégio São José.


“Vejo que há jovens, ainda que uma minoria, interessados, que buscam as siglas com pensamento ideológico e para mudar o País, pois estão cansados dessa guerra de extremos, que não leva a nada”.


O economista Renan dos Santos Carinha, de 28 anos, é um dos integrantes do núcleo de jovens do Novo. Apesar de concordar com as ideias da legenda, ele confessa que sempre teve receio de se filiar a um partido, mas, aos poucos, quebrou essa barreira.


“Assim como muitos jovens santistas, eu precisei ir para São Paulo para trabalhar. Você percebe que as coisas evoluem, mas a Cidade que você ama e tem carinho parece que está estagnada. Essa indignação me fez ingressar no partido e me despertou o interesse de construir algo diferente para o Município”, explicou.


Para o responsável pela Juventude do PT em Santos, o jornalista Rodrigo Bertolino, de 26 anos, os mais novos possuem um papel fundamental para a renovação da democracia.


Ele tem claro que tudo se resolve pela política. “Se você tem boas ideias e problemas a serem superados como sociedade, é por meio da política que essas questões serão superadas e esses projetos saem do papel. Por esse motivo, os partidos são importantes”, completou.


Falta de visão


Integrante do Parlamento Jovem Paulista no biênio 2007-2008, João Matheus, de 28 anos, tem a recordação de dar os primeiros passos na política ainda criança, aos 9, devido ao avô materno, Vitor Pereira Guedes, que foi amigo do ex-presidente da República Getulio Vargas.


Em 2002, João, já adolescente, se aproximou da então deputada estadual Mariângela Duarte (já falecida). Com passagens por PT, PP, DEM, PMN, Pros e PRTB, ele entende que o jovem tem uma alma voltada para exercer a cidadania, mas isso precisa ser melhor trabalhado e despertado.


“No atual cenário, somente alguns partidos de centro e, principalmente, os de esquerda dão um certo valor para os jovens. Lamento que as legendas de direita não os enxerguem como uma potência de renovação dos seus quadros, sendo que a maior parte da militância pró-Bolsonaro era formada por jovens adultos”, justificou.


Conforme a presidente do Centro dos Estudantes de Santos e Região (CES), Aline Cabral, de 23 anos, a população brasileira tem uma descrença na política e esse fato serve de estímulo para os mais novos.


“Os jovens trazem esperança, inovação e novas ideias. Por esse motivo, eles estão se apresentando diante desses anseios e desses questionamentos. Eles é que vão dar essa nova cara”, ressaltou.


Filiada ao PCdoB, Aline fez parte de uma candidatura coletiva à Câmara de Santos formada por estudantes nas eleições do ano passado. “Isso foi o fruto da necessidade de ter as nossas demandas vocalizadas”, disse.


Novo olhar


Na avaliação da cientista política Silvia Cervellini, há um fenômeno mundial de as pessoas se afastarem da política partidária e institucionais. No caso dos jovens, o afastamento também ocorre pela linguagem utilizada e pela falta de espaço de participação.


“Vejo que a juventude está muito engajada em muitas questões e fazem política de maneira firme no dia a dia, em vários espaços. Há iniciativas de educação política que fazem essa ponte, mas de uma forma mais dinâmica, pragmática e prática mobilizandoas redes sociais”, argumentou ela, que é cofundadora do Delibera Brasil, organização sem fins lucrativos e suprapartidária que objetiva contribuir para o fortalecimento e aprofundamento da democracia brasileira. Morador da Alemoa, o presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes), Matheus Martins Café Santana, explicou que começou a se interessar por política por compreender a necessidade da busca por melhorias no bairro.


Ele é o atual presidente do grêmio estudantil da Escola Estadual Bartolomeu de Gusmão, no Saboó, e os jovens se articularam para fazer um projeto para transformar a unidade em um museu de arte. A iniciativa conto com o apoio de vários artistas. “Os jovens têm muita força para fazer as coisas e queremos transformar, mas ainda vejo que muitos ficam desmotivados por não enxergarem credibilidade nas iniciativas e por terem lugar de fala em outros espaços”.


Projeto é incentivo a estudantes


Alguns parlamentos possuem iniciativas que buscam proporcionar aos estudantes noções gerais sobre a estrutura política, legislativa e administrativa, como a Câmara Jovem, existente em Santos.


Muitas vezes, o envolvimento desses adolescentes é tão grande que alguns deles fazem uma espécie de estágio no gabinete dos vereadores e até mesmo se tornam assessores parlamentares.


Esse é o caso do estudante de Direito Henrique Nunes Ribeiro, de 20 anos, que participou da Câmara Jovem em 2018, quando cursava o Ensino Médio no Colégio Objetivo. Atualmente, ele trabalha com a parlamentar santista Audrey Kleys (PP).


“Apesar de o vereador ser o político mais próximo da população, ele se torna muito distante por causa da mídia, que foca muito nas questões de Brasília. Eu fui aprendendo aos poucos a importância do papel deles para o Município. A partir daí, entendi a importância da política local”.


Ribeiro tem a intenção de seguir carreira nessa área. Por esse motivo, optou pelo curso de Direito, pois acredita que tal conhecimento é muito importante para quem tem essa vocação.


“Ter um olhar sensível, sentir a dor do outro e ter empatia não é para todo mundo, assim como não é para todo mundo ser médico ou engenheiro. Ou vai fazer algo por dinheiro e por realização própria”, destacou ele, que é filiado ao PP e disputou uma vaga no Legislativo no ano passado.


Outro ex-vereador jovem de Santos que fez uma espécie de estágio no Legislativo foi o também estudante de Direito Paulo Miguel da Silva Jonas, que conviveu muito perto com o ex-vereador Antonio Carlos Banha Joaquim (MDB).


A experiência de ter atuado no Parlamento o fez entender melhor sobre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como aprender na prática a elaboração de projetos de lei, requerimentos e indicações.


“Essa convivência com o Banha foi muito importante e aprendi que o nosso dever sempre é questionar, desde um buraco da rua até questões mais complexas sobre a Cidade”, disse Jonas, que é vice-presidente do MDB Jovem de Santos.


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