Pandemia acelera mudanças na Educação da Baixada Santista: 'oportunidade de nos atualizarmos'

Especialistas do setor cobram apoio para formação continuada

Por: Tatiane Calixto  -  03/05/21  -  16:44
   Para Patrícia, profissionais precisam de apoio para lidar com novidades
Para Patrícia, profissionais precisam de apoio para lidar com novidades   Foto: Divulgação

A pandemia escancarou a necessidade de melhorias na formação de professores no Brasil e tornou o cenário na Educação ainda mais complexo. Agora, o objetivo não se concentra unicamente em solucionar problemas diagnosticados anteriormente, mas também enfrentar os impactos provocados pela covid-19.


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“A formação continuada sempre foi importante. Contudo, hoje e no pós-pandemia, ela será ainda mais. O professor terá de ampliar o próprio conhecimento para aumentar o aprendizado do aluno, além de selecionar e priorizar conteúdos que o aluno deixou de estudar”, resume Patrícia Diaz, diretora executiva da Comunidade Educativa Cedac, que visa a melhoria das práticas educativas na rede pública brasileira.


Este desafio já era previsto quando o novo coronavírus obrigou o fechamento das escolas, há mais de um ano, mas agora ganha contornos definidos. Na semana passada, por exemplo, a rede estadual de São Paulo divulgou um estudo que mostra que serão necessários até 11 anos para recuperar a aprendizagem de estudantes no período pandêmico.


Segundo Patrícia, para garantir avanços nas salas de aula, os professores precisam de apoio, ações efetivas de formação e políticas públicas que garantam essas medidas.


Mais do que entender e se apropriar de uma reformulação curricular imposta pelo ensino remoto, os docentes terão que criar situações-problema para caminhar com o conteúdo, selecionando o que precisa ser revisto e adaptando práticas de avaliação, além de engajar o estudante.


“Palestras e cursos desconectados da realidade das salas de aula não ajudam. É preciso uma formação que responda às necessidades cotidianas”, considera a especialista.


Formação continuada


“Quando eu olho para a minha rotina de aulas hoje, vejo que a gente não estava preparado. Sei que se falava de sala de aula invertida e até ouvi sobre ensino híbrido. Mas, sobre aplicar de verdade isso com os alunos, não fomos ensinados”, admite uma professora da rede pública da região que prefere não ser identificada.


Ela, que atua como docente há quase 15 anos, conta que aprendeu a utilizar muitos recursos tecnológicos durante a pandemia e confessa que “o professor vai precisar de muita ajuda e formação para dar conta desse novo cenário. Não dá para achar que vamos voltar às atividades como era antes”.


Todavia, há várias dificuldades para que isso aconteça, afirma Patrícia. “Algumas escolas e redes não conseguem disponibilizar tempo de trabalho coletivo dentro da jornada do professor. Quando elas acontecem, nem sempre o coordenador pedagógico consegue fazer a preparação efetiva. Às vezes, porque até ele mesmo não teve formação adequada”.


Formação inicial


Para Patrícia, esta também é a oportunidade de se discutir a formação inicial dos docentes. “Hoje, você tem uma formação que tem a pretensão de formar um profissional para lidar com um bebê e com as especificidades de Ciências da Natureza”.


Em sua opinião, é preciso pensar em um período de formação geral e, depois, segmentar o curso. Além disso, há a necessidade de rever as práticas de estágio, garantindo desde o início do curso a possibilidade do professor ter contato com a sala de aula.


“Precisamos de muita coisa que vai além da boa vontade dos professores. Temos a necessidade de políticas públicas de valorização do docente. O professor deve aprender sobre tecnologia, mas as escolas precisam estar equipadas para isso”.


Crise também apresentou soluções


Segundo a secretária-adjunta de Educação de Santos, Maria Helena Marques, é preciso ir além das perdas e entender que a Educação também encontrou soluções, algo que vai influenciar a atuação e formação dos professores.


“Houve perdas porque habilidades e questões do currículo não foram trabalhadas no ensino remoto. Contudo, outras habilidades foram ensinadas e aprendidas para além do que era previsto. Tanto para os professores quanto para os alunos”.


Antes, ela cita, o celular era proibido. Hoje, faz parte do processo para pesquisa. Ficou evidente o impacto do atendimento personalizado, respeitando o ritmo e o processo de aprendizado de cada aluno. A avaliação, que sempre foi um instrumento à parte no currículo, agora é utilizada realmente para saber o que o aluno aprendeu ou não.


“A crise nos trouxe uma oportunidade de nos atualizarmos. Então, não teremos apenas que recuperar, mas recompor, afinal, não foram apenas perdas”.


Tudo isso, afirma Maria Helena, pautará a formação continuada dos professores. Em Santos, ela explica que mudanças já foram iniciadas. A transformação do Centro Darcy Ribeiro, de formação docente, para um centro virtual, foi uma delas.


“Antes, a dificuldade em reunir os professores em horário de serviço e garantir substitutos era um desafio. Agora, é possível fazer a formação de maneira remota até para grupos menores. Implementamos os simpósios de boas práticas, que trazem experiências de sucesso dos próprios professores. De certa forma, houve uma democratização com a possibilidade remota”.


Psicológico


A subsecretária de Gestão Pedagógica de Praia Grande, Marilene Ferreira, garante que, além dos aspectos técnicos, a formação dos professores também terá que focar em questões emocionais, além deles próprios precisarem ser acolhidos neste sentido. “Mediante esse período que o contato presencial está interrompido, há de se prestar atenção ao emocional das pessoas, para, então, pensar nas tecnicidades de cada profissional”.


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