Oferta de leitos dá falsa sensação de controle da pandemia na Baixada Santista

Mesmo com número de casos em alta, taxa média de ocupação de UTIs na região estava em 58,5% na última quarta (16)

Por: Maurício Martins  -  17/12/20  -  16:08
Leito de UTI do Hospital dos Estivadores, em Santos
Leito de UTI do Hospital dos Estivadores, em Santos   Foto: Matheus Tagé/AT

A ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), embora seja um termômetro importante para avaliar como está a pandemia, não pode ser usado de maneira isolada. Isso porque o baixo uso desses leitos pode passar uma falsa sensação de controle. Na Baixada Santista, a média de ocupação em UTIs covid para adultos era de 58,5% na quarta-feira (16). Mas os casos confirmados de coronavírus dispararam desde o início de novembro.  


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Para chegar à ocupação regional a Reportagem fez uma conta simples, somando as porcentagens das cidades e dividindo pelos municípios que possuem esses leitos de UTI. Mas há grande variação entre os municípios. Em detalhes, Itanhaém tinha ontem 100% de ocupação (mas são apenas 10 leitos e que atendem também Peruíbe e Mongaguá, que não possuem). Cubatão, 74,5%; Praia Grande, 60%; Santos, 55%; Guarujá, 47%; Bertioga, 40%; e São Vicente, 33,3%. As informações foram passadas pelas prefeituras e pelo Governo do Estado (caso de Itanhaém, cujo hospital é estadual).  


“Sem dúvida pode trazer uma falsa sensação de controle. E o que mais preocupa não é oferta de leitos, mas a oferta de leitos com qualidade, com recursos humanos. Além disso, há uma demanda ativa das doenças crônicas não infecciosas - cardiopatias, doenças metabólicas, degenerativas, neoplásicas - que não podem mais ser deixadas em segundo plano”, diz o infectologista Evaldo Stanislau.  


Para o diretor médico da Santa Casa de Santos, Rogério Dedivitis, a análise dos leitos precisa considerar as especificidades de cada município. “O que vemos na prática é que muitos leitos foram desmantelados com a queda dos casos, mas no fim de semana das eleições (15 de novembro) houve uma subida muito drástica na procura pelos prontos-socorros".  


Ambos acreditam que a situação pode mudar rapidamente, principalmente com as festas de fim de ano, e que os leitos atuais não sejam suficientes. “Tenho uma grande preocupação quanto ao que vem em janeiro após as festas e pelas férias. Ter mão de obra qualificada para assistir esses pacientes é um desafio enorme. As pessoas precisam fazer a sua parte na prevenção. E as autoridades na fiscalização e educação”, diz Stanislau. 


Dedivitis projeta um cenário “muito difícil”, caso as pessoas não sigam as medidas de prevenção. “Há um temor que na segunda semana de janeiro tenhamos uma surpresa muito desagradável. Vai chegar uma situação de convívio familiar, Natal, Ano-Novo, existe o sério risco que as pessoas não tomem cuidado e isso gere um pico grande de casos. E aí sim, a situação pode se tornar caótica” 


Santos 


Na Cidade, os 256 leitos de UTI adulto, nas redes pública e privada, 140 (55%) eram utilizados nesta quarta, afirmou o secretário municipal de Saúde, Fábio Ferraz. No SUS, o índice chegava a 43% e nos hospitais particulares a 69%.  Segundo ele, o hospital com maior ocupação tinha percentual de 83%.  


“Temos que ver os números absolutos e não só o percentual. Colocamos mais leitos e dá impressão que diminuíram os casos porque cai o percentual, mas a procura das pessoas não caiu. Se compararmos a média de mortes dos últimos 28 dias, tivemos um aumento importante”, diz Ferraz.  


O secretário acredito que um pico de covid-19 como aconteceu em maio e junho seria muito pior agora. Isso porque, naquela ocasião, as pessoas cumpriam o isolamento e o número de pacientes em unidades de saúde era menor, dando espaço aos com covid-19. Hoje a situação é diferente.  


“Naquele pico, nosso atendimento nas UPAs era de 100, 110 pessoas por dia. Com as pessoas em casa, as doenças respiratórias deixaram de circular, diminui os traumas por acidentes e atividades esportivas e mesmo ferimentos por conflitos entre as pessoas. Agora o cenário é mais complexo. Estamos atendendo de 350 a 400 diariamente”.  


Outras UTIs 


AS UTIs para adultos com outras doenças, como cardíacas e neurológicas enfrentam situação pior, com escassez de leitos, como, historicamente, sempre foi. Considerando os leitos públicos e privados de cinco cidades – Santos, Praia Grande, Guarujá, São Vicente e Cubatão - a média de ocupação estava em 73%.  


Mas, isoladamente, há situações mais complicadas, como Cubatão, cuja ocupação no SUS em novembro ficou em 99,5%. Mongaguá, Bertioga e Peruíbe não possuem UTI geral. O Estado, que comanda o Hospital Regional de Itanhaém, não informou.  


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