Novo pico de Covid-19 em janeiro pode superar auge da pandemia na Baixada Santista

Especialistas alertam para a possibilidade de colapso nos hospitais, porque atendimento para outras doenças também aumentou

Por: Maurício Martins  -  21/12/20  -  10:52
Média de ocupação em UTIs covid para adultos era de 64,3% na última sexta-feira
Média de ocupação em UTIs covid para adultos era de 64,3% na última sexta-feira   Foto: Matheus Tagé/AT

Um novo pico de covid-19 em janeiro pode superar os números atingidos no ápice da pandemia, alertam especialistas. Com o crescimento dos casos na Baixada Santista e a diminuição das medidas de prevenção - que pode ser ampliada pelas festas de fim de ano – as projeções são muito negativas.  


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E há um agravante: entre maio (quando houve a maior quantidade de internados em UTIs) e julho, piores meses da pandemia na região, a quarentena estava rígida, com menos pessoas circulando. Com o isolamento, o número de pacientes em unidades de saúde era menor, dando espaço aos com covid-19. Hoje a situação é diferente, o que piora o quadro.  


“Naquele pico, nosso atendimento nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) era de 100, 110 pessoas por dia. Com as pessoas em casa, as doenças respiratórias deixaram de circular, diminuiu os traumas por acidentes e atividades esportivas e mesmo ferimentos por conflitos entre as pessoas. Agora o cenário é mais complexo. Estamos atendendo de 350 a 400 diariamente”, diz a secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz.  


O diretor médico da Santa Casa de Santos, Rogério Dedivitis Dedivitis projeta um cenário “muito difícil”, caso as pessoas não sigam as medidas de prevenção. “Há um temor que na segunda semana de janeiro tenhamos uma surpresa muito desagradável. Vai chegar uma situação de convívio familiar, Natal, Ano-Novo, existe o sério risco que as pessoas não tomem cuidado e isso gere um pico grande de casos. A situação pode se tornar caótica” 


O infectologista Evaldo Stanislau lembra que a situação pode mudar rapidamente e, em poucos dias, os atuais leitos deixarem de ser suficientes. “Tenho uma grande preocupação quanto ao que vem em janeiro após as festas e pelas férias. Ter mão de obra qualificada para assistir esses pacientes é um desafio enorme. As pessoas precisam fazer a sua parte na prevenção. E as autoridades na fiscalização e educação”, diz Stanislau. 


O infectologista Leonardo Weissmann também prevê dificuldades nas próximas semanas. “As pessoas perderam o medo do vírus, especialmente os jovens. Da mesma forma, não se observam mais normas de restrição e fiscalização. Corremos seríssimo risco de termos um início de 2021 muito triste”.  


Ocupação de leitos 


A ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), embora seja um termômetro importante para avaliar como está a pandemia, não pode ser usado de maneira isolada. Isso porque o baixo uso desses leitos pode passar uma falsa sensação de controle. Na Baixada Santista, a média de ocupação em UTIs covid para adultos era abaixo de 70% na última sexta-feira (18), na maioria das cidades. É considerada preocupante quando ultrapassa esse número. 


Em detalhes, Itanhaém tinha 100% de ocupação (mas são apenas 10 leitos e que atendem também Peruíbe e Mongaguá, que não possuem). Cubatão, 76,2%; Praia Grande, 60%; Santos, 57%;  Guarujá, 53%; Bertioga, 60%; e São Vicente, 44,4%.  


As informações foram passadas pelas prefeituras e pelo Governo do Estado (caso de Itanhaém, cujo hospital é estadual). É importante destacar, porém, que a Prefeitura de Cubatão não sabe informar os valores diários, mas apenas uma média de ocupação de sete dias. O Hospital da Cidade também não quis passar o número, afirmando que a responsabilidade pelo dado é do Município.  


“Sem dúvida pode trazer uma falsa sensação de controle. E o que mais preocupa não é oferta de leitos, mas a oferta de leitos com qualidade, com recursos humanos. Além disso, há uma demanda ativa das doenças crônicas não infecciosas - cardiopatias, doenças metabólicas, degenerativas, neoplásicas - que não podem mais ser deixadas em segundo plano”, diz Stanislau.  


Para Dedivitis, a análise dos leitos precisa considerar as especificidades de cada município. “O que vemos na prática é que muitos leitos foram desmantelados com a queda dos casos, mas no fim de semana das eleições (15 de novembro) houve uma subida muito drástica na procura pelos prontos-socorros".  


Em Santos, dos 253 leitos de UTI adulto, nas redes pública e privada, 143 (57%) eram utilizados na sexta, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. No SUS, o índice chegava a 41% e nos hospitais particulares a 75%.   


“Temos que ver os números absolutos e não só o percentual. Colocamos mais leitos e dá impressão que diminuíram os casos porque caiu o percentual, mas a procura das pessoas não caiu. Se compararmos a média de mortes dos últimos 28 dias, tivemos um aumento importante”, diz Ferraz.  


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