No Dia do Comerciante, o clima é de otimismo com a retomada dos negócios na Baixada Santista

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Região diz que expectativa é de um segundo semestre melhor

Por: Régis Querino  -  16/07/22  -  07:30
Atualizado em 16/07/22 - 13:18
Após a crise causada pela pandemia, retomada anima os lojistas da Baixada
Após a crise causada pela pandemia, retomada anima os lojistas da Baixada   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Celebrado neste sábado (16), o Dia do Comerciante oferece à categoria motivos para comemorar, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista, Omar Abdul Assaf. Após dois anos mergulhados numa grave crise provocada pela pandemia de covid-19, os comerciantes vivem um momento de retomada, na avaliação do dirigente, com a reabertura de negócios, contratação de funcionários e a expectativa de um segundo semestre melhor do que os primeiros seis meses deste ano.


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“O setor está animado, porque os negócios retomaram. Claro que a inflação tem prejudicado muito, porque o que move o consumo é a expectativa do consumidor. Se ele não tem otimismo, acaba não comprando. Mas o esforço dos governadores e do presidente, com a queda do preço dos combustíveis, ajudou. O temor era de uma greve dos caminhoneiros, como aconteceu em 2018, algo que foi muito grave”, diz Assaf.


O turismo é outro fator que impulsiona o setor, na opinião do dirigente. “A região vem se beneficiando porque as pessoas têm vindo muito para a Baixada. A demanda reprimida ao longo da pandemia faz com que agora muita gente desça em finais de semana com tempo bom ou em feriados prolongados, lotando os hotéis. O número de empregos também está crescendo e é mais dinheiro que está entrando em nossa praça”, salienta.


O otimismo dos lojistas, segundo Assaf, também é por conta da aprovação, no Congresso, do aumento no Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600, o que vai fazer aumentar o giro de dinheiro no comércio. Datas comemorativas, como o Dia das Mães (que registrou aumento de 10% nas vendas), o Dia dos Pais e, principalmente, as festas de final de ano, geram grande expectativa dos comerciantes, que esperam compensar as perdas nos anos anteriores em razão da pandemia.


“As pessoas reprimiram as comemorações de final de ano, amigo secreto e viagens. As viagens internacionais estão proibitivas e mesmo as nacionais seguem caríssimas. Por isso eu acredito que a Baixada vai ser o grande destino para quem não conseguir viajar para fora ou para outro lugar do Brasil, como o Nordeste, na temporada de 2023. Temos essa vantagem em relação a outras regiões, já que em outubro e novembro as empresas começam a contratar os temporários, que trabalham pelo menos até o Carnaval. E muitos acabam se tornando empregados fixos”, aponta Assaf.


A Tapeçaria Dias, fundada por primos portugueses, expandiu de São Vicente para Santos e Praia Grande
A Tapeçaria Dias, fundada por primos portugueses, expandiu de São Vicente para Santos e Praia Grande   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Histórias de sucesso: Um comércio, três gerações

O ano era 1960, quando três primos portugueses abriram a Tapeçaria Dias, na Rua XV de Novembro, no Centro de São Vicente. Passados 62 anos, o negócio expandiu e continua sendo tocado pela família. Ex-gerente de loja de calçados, Washington Lopes Custódio, de 44 anos, casado com a neta de um dos fundadores da empresa, foi quem conclamou os parentes a continuar no ramo após a morte do pai da esposa.


“Eu, a esposa, uma cunhada e um primo somos a terceira geração no negócio. Hoje, são quatro lojas, sendos duas em São Vicente, uma delas a Dias Decor, que trabalha na parte de decoração, com cortinas e persianas por encomenda, e outras duas lojas em Santos e na Cidade Ocian, em Praia Grande, sendo etsa a última que abrimos, em 2021”, conta Custódio.


A pandemia deu um baque nas vendas, mas a família seguiu em frente e nenhum dos 25 funcionários foi dispensado, de acordo com o empresário. Para Custódio, a longevidade da empresa é explicada pela sintonia entre os familiares na condução do negócio. E a atenção especial ao seu maior patrimônio: o cliente.


“Eu sempre digo aos funcionários que eles têm que se colocar no lugar do cliente. Não podem só pensar em vender, porque o atendimento é tudo hoje. Mercadoria todo mundo tem igual, no preço você pode fazer alguma coisa, mas os clientes gostam desse sistema de família, em que o dono está na loja. O segredo mesmo é o atendimento”.


A Proplastik tem nove lojas na Baixada e mais de 30 mil produtos à disposição dos clientes
A Proplastik tem nove lojas na Baixada e mais de 30 mil produtos à disposição dos clientes   Foto: Arquivo AT

De ambulante a dono de rede de lojas

A eficiência no atendimento também foi a chave para o sucesso da Proplastik, presente hoje com nove lojas em quatro cidades da região: Santos, São Vicente, Praia Grande e em Vicente de Carvalho (Guarujá). Segundo o diretor de marketing da empresa, Gustavo Delgado, o dono do negócio, Niverton Silva, trabalhava em um posto de gasolina quando recebeu o convite para ser vendedor em uma loja que comercializava plásticos. A empresa quebrou e, no acerto de contas com o ex-patrão, Niverton pediu a sua parte em produtos.


Com o material na mão, saiu vendendo de casa em casa até que abriu uma lojinha na Avenida Pedro Lessa. Com o tempo, as mulheres passaram a procurar vários tipos de produtos, como embalagens de plástico para congelar comida, descartáveis para festas... e Niverton foi diversificando o seu estoque. Hoje, a empresa tem uma gama de mais de 30 mil produtos, segundo Delgado, “por conta de ouvir as necessidades do cliente”.


Aos 37 anos de existência, a Proplastik também teve que se desdobrar para manter os seus 250 funcionários durante a pandemia da covid-19. Para compensar a queda nas vendas presenciais, foi criado o delivery, em 2020, que entrega os produtos na casa do cliente em, no máximo, quatro horas. “Evidente que a pandemia gerou muito estresse, mas tivemos que nos reinventar. Foi complicado, o movimento caiu muito, tivemos que recorrer ao reforço financeiro, pegar dinheiro do banco, mas estamos sobrevivendo”, afirma Niverton, de 68 anos.


O empresário diz que a retomada do negócio não atingiu o nível do período pré-pandemia porque, além da inflação alta, muita gente perdeu o emprego e o poder de compra, mas segue confiante. “O segredo é a perseverança, comprometimento, responsabilidade, respeito pelos colaboradores e pelos fornecedores. É uma corrente: se quebrar um dos elos, as coisas ficam mais difíceis. Nessas horas, é bom ter crédito para sobreviver, porque sem crédito não teria o oxigênio para continuar”.


Os irmãos Jihad e Jaud comandam o negócio iniciado pelo avô libanês, no final dos anos de 1950
Os irmãos Jihad e Jaud comandam o negócio iniciado pelo avô libanês, no final dos anos de 1950   Foto: Alexsander Ferraz

Tradição familiar

A história da Oriental Móveis começou no final dos anos 1950, quando o libanês Hassan Hussein Mahmoud deixou de vender roupas na rua para abrir uma pequena loja de móveis e eletrodomésticos numa travessa da Avenida Pedro Lessa, em Santos. Em 1963, a loja mudaria para o Canal 6, esquina com a Pedro Lessa, onde está até hoje, depois de passar pelo comando do filho de Hassan, Adil Hassan Mahmoud, e chegar à administração dos filhos de Adil, os gêmeos Jihad e Jaud Adil Mahmoud, de 20 anos.


“Como eles moravam em cima da loja, o meu pai, desde os 6 anos, se acostumou a brincar aqui na frente. Aos 25, ele foi assumindo a gerência e quando éramos mais novos, sempre nos obrigava a ficar na loja, dizendo que a gente iria aprender alguma coisa e daria valor a isso no futuro”, lembra Jihad, que ficou com o irmão no Líbano durante 10 anos, estudando e vindo sempre ao Brasil para passar férias.


A recomendação de Adil soava como chatice no ouvido dos irmãos adolescentes, mas após a morte dele, no ano passado, Jihad, que já havia retornado definitivamente ao Brasil com o irmão, entendeu a mensagem. “Com a perda dele, a gente viu que valeu muito a pena ficar na loja por obrigação. O quanto era importante ele nos direcionar e agora lembrar o que ele falava para a gente executar”, diz Jihad, que administra as três lojas (duas em Santos e uma em Vicente de Carvalho, em Guarujá) junto com o irmão.


Após vivenciar o luto em meio à pandemia, que fez o movimento das lojas cair e as contas se acumularem, Jihad comemora a retomada dos negócios. “Depois da reabertura, entramos numa época boa. Com a pandemia, as pessoas passaram a valorizar mais as suas casas. E nós já somos conhecidos pela qualidade dos nossos produtos”.


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