Motoristas de aplicativo do litoral de SP priorizam viagem curta com taxa mais alta

Medida é efeito da alta dos combustíveis, que tem impacto direto sobre os custos do setor

Por: Pedro Porto*  -  05/10/21  -  18:24
 De acordo com a ANP, combustível acumula alta de 60% desde maio de 2020
De acordo com a ANP, combustível acumula alta de 60% desde maio de 2020   Foto: Paulo Bornsen

O aumento do preço dos combustíveis nos últimos meses atingiu em cheio os motoristas de transporte por aplicativo e táxis. De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Combustíveis (ANP), o preço médio da gasolina comum em Santos registrou alta em quatro oportunidades no período de um mês, com aumento de 5,2% apenas em setembro. Diante desse cenário, os profissionais apontam que só o preço dinâmico em viagens curtas é que compensa para quem trabalha muitas horas por dia nesse segmento.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


O motorista Carlos Alberto Pontes diz que corridas com trajeto mais curto compensam mais, porque geram economia de gasolina. “Uma passagem de ônibus custa, em média, R$ 4,50, e a de aplicativo, R$ 6,80, e é possível transportar até quatro pessoas”.


Ele também prefere as viagens com número menor de passageiros. “Ainda temos que dividir o valor que fica com o aplicativo”, reforça, apontando que o trabalho compensa pouco e que, ainda assim, os usuários reclamam do valor, “mesmo estando defasado”, segundo ele.


Nem mesmo com o aumento do número de corridas é possível se manter com o transporte de aplicativos, diz Mauro Aparecido. “Tem tido movimento, porque para o usuário é vantajoso usar o serviço. Pagar estacionamento é caro, e arrumar lugar para estacionar não é nada prático. Fica mais em conta pagar um carro para ir e voltar do trabalho”, avalia. Ele ainda aponta o fato de que, com a pandemia, “é mais fácil ser contaminado no ônibus do que no carro, onde o contato é mais restrito”.


Aparecido aponta, ainda, que os custos com combustível e manutenção do automóvel subiram muito nos últimos meses, o que torna a atuação dos motoristas quase inviável, na visão dele, já que os aplicativos não teriam elevado as tarifas, proporcionalmente. Ele diz que, sem opção, os motoristas acabam trabalhando muitas horas a mais por dia para compensar os gastos.


O motorista Wilson Roberto diz que a corrida dinâmica (quando o preço aumenta em duas ou três vezes o seu valor original) é uma solução que compensa a pouca diferença no valor do combustível para quem dirige, principalmente em relação a corridas curtas. Ele ainda avalia que o aumento recente no valor da saída nas corridas por aplicativo, que não era feito há anos, não ajudou em nada.


“É preciso que aumente mais do que um ou dois reais. Em uma viagem curta, de 5 quilômetros, por exemplo, não faz muita diferença”, diz o motorista, que defende o reajuste das tarifas cada vez que a gasolina sofrer aumento. “Os reajustes provocam, em média, acréscimo de R$ 0,10 por litro. Mas o fato é que as pessoas não abastecem 1 litro. Colocam 50, 40, 20 litros cada vez que abastecem. Então o gasto é alto”.


Sobre o preço dinâmico, Wilson Roberto diz que a vantagem está, principalmente, no trabalho durante a madrugada. Nesse período, as pessoas usam o aplicativo na saída dos bares e restaurantes.


Impactos A economista Célia Rodrigues Ribeiro explica que a alta do combustível reflete o preço do petróleo no mercado internacional, que aumentou 70%, nos últimos 12 meses. “Soma-se a esse fato a desvalorização do real frente ao dólar, que também influencia o preço interno, já que a Petrobras ajusta seu preço para acompanhar o mercado externo”.


Segundo dados da ANP, em maio de 2020, o combustível chegou a custar R$ 2,74, e hoje acumula aumento de quase 60%. A especialista lembra, ainda, que a elevação do preço dos combustíveis atingiu motoboys e entregadores, além de motoristas de aplicativos.


“Muitos estão desistindo de prestar os serviços. Motoristas novos são obrigados a trabalhar mais horas. Com menos motoristas, os clientes do serviço enfrentam dificuldades, porque os motoristas remanescentes escolhem as corridas mais vantajosas”, avalia. “Certamente, essa situação não deve se alterar, porque estamos vivenciando o choque de preços decorrentes da pandemia”.


Mauro Fabrega Costa Pedrinho, diretor da Cooperativa dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários da Baixada Santista, aponta que um terço do faturamento é gasto apenas com o combustível. Ele trabalha há 31 anos na profissão, e aponta que muitos motoristas estão revoltados com a situação. “Há seis anos, o táxi em Santos não tem aumento. Para enfrentar esse cenário competitivo e de crise, temos trabalhado com 20% de desconto”, afirma.


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão da professora Lidiane Diniz e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


Logo A Tribuna