'Milagre Miguel' deixa o hospital após 7 meses de luta no litoral de SP: "Acreditar no impossível"

Menino, que estava internado na UTI desde o nascimento, pôde ir para casa com os pais; conheça sua história

Por: Régis Querino  -  04/07/22  -  09:16
Atualizado em 04/07/22 - 11:12
Luna e Ricardo aproveitam o máximo de tempo que podem com o filho. Antes, só em visitas hospitalares
Luna e Ricardo aproveitam o máximo de tempo que podem com o filho. Antes, só em visitas hospitalares   Foto: Arquivo pessoal

Foram sete meses e três dias de angústia e incertezas, mas também de muita fé em que tudo iria dar certo. E assim aconteceu em 22 de junho, quando Miguel deixou o Hospital Santo Amaro, em Guarujá, onde estava internado na UTI desde o nascimento prematuro, em 19 de novembro do ano passado. Depois de lutar contra quadros de infecção, ser submetido a uma traqueostomia e vencer a dependência da ventilação mecânica, ele pôde ir para casa com os pais, que moram em Bertioga.


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“Acredito que seja um milagre. Às vezes, a gente precisa ter algo físico na vida pra acreditar nas coisas, reforçar a fé. Acredito que o Miguel veio para mudar a minha vida e a da nossa família. Devemos sempre acreditar no impossível”, diz a mãe, a recepcionista Luna Beatriz Aparecida Fernandes Muniz, de 22 anos. “Quando olhava pra ele no hospital, via um bebê com 28 semanas, 1,450 quilo, que nasceu num parto de emergência, pegou muita coisa e segue bem... Miguel veio para atingir a vida de muita gente”.


Luna sabe bem do que está falando. Afinal, desde 17 de novembro de 2021, quando a bolsa estourou inesperadamente, ela viveu uma epopeia ao lado do primeiro filho. Levada às pressas ao Hospital de Bertioga, Luna foi transferida para o Hospital Santo Amaro, que tem mais recursos para atender bebês prematuros. Miguel viria ao mundo dois dias depois, após 28 semanas e seis dias de gestação (o comum são cerca de 40 semanas).


Prematuro, o bebê teve de ser intubado na UTI neonatal, pois dependia de ventilação mecânica para respirar. Com infecções, não havia prognóstico para que ele deixasse o hospital.


“Uma semana depois que ele nasceu, eu tive alta do hospital e saí chorando. Nos outros dias, eu chegava cedo e passava o tempo todo lá. Saía às seis da tarde para o pai entrar na visita. Foram sete meses na UTI: três na neonatal e quatro na pediátrica”, conta Luna.


Apoio fundamental
O sofrimento era amenizado com o apoio da família e dos profissionais do Santo Amaro. “É desesperador, a gente vê muita coisa acontecendo no hospital. Às vezes, está tudo bem, mas o próximo boletim mostra um problema, e o mundo desaba. Felizmente, conheci pessoas apaixonadas pela profissão e sou grata a todas. Médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, moças da limpeza, do posto de leite, lactário, recepção, seguranças. Todos torceram pelo Miguel”, enumera Luna.


Vencidas as batalhas para que Miguel tivesse alta, Luna e o marido, o auxiliar de serviços gerais Ricardo de Jesus Avelar, se empenham agora para que ele tenha o aparato necessário ao seu desenvolvimento. “Consegui o básico, que é o respirador, do Hospital de Bertioga, para ser usado em caso de emergência. Mas aqui não tem pediatra e fisioterapeuta para bebês, não tem como fazer acompanhamento adequado. Ele ainda se alimenta só por sonda. E, como ficou muito tempo deitado, não faz o que uma criança de 7 meses faz”.


Apesar das dificuldades, o casal aproveita cada minuto ao lado do pequeno. “O Miguel tem dois aniversários: o dia em que nasceu e o dia que veio para casa. É incrível tê-lo aqui, com o nosso carinho e o dos avós. Ter liberdade para pegar o bebê a hora que quiser, dar banho e colocar roupa nele, porque não podia colocar nada na UTI”, brinca Luna. “É incrível viver cada segundo ao lado dele”, diz Ricardo.


Bebê lutou contra infecções e só se alimenta por meio de sonda
Bebê lutou contra infecções e só se alimenta por meio de sonda   Foto: Arquivo pessoal

Atendimento especial
O coordenador da UTI neonatal e pediátrica do Hospital Santo Amaro, Ricardo Batista de Queiroz, falou sobre os desafios enfrentados por Miguel e os cuidados necessários para o seu desenvolvimento.


“O Miguel teve necessidade de internação devido à imaturidade, principalmente pulmonar. Passou por vários processos de maturação, que deveriam ser no intraútero, dentro da incubadora. O que mais o manteve com a gente foi a dificuldade de respirar sem estar intubado”.


A opção pela traqueostomia, procedimento cirúrgico que consiste na abertura de um orifício na traqueia e colocação de uma cânula para a passagem de ar, sugerida pela equipe médica e aceita pela família de Miguel, foi a forma para que o bebê deixasse o hospital.


Embora tenha superado a fase hospitalar, Miguel teve alta com cerca de três quilos, o peso de um recém-nascido, apesar dos 7 meses de vida. “Ele precisará de atendimento especializado com equipe multidisciplinar para ter uma evolução satisfatória”, avalia o médico. “O que ajudou bastante foi a parceria da equipe do hospital com a mãe. A Luna foi excepcional, confiou muito na equipe e fez muita diferença na vida do Miguel”.


Prefeitura
A Tribuna questionou a Secretaria de Saúde de Bertioga sobre o atendimento oferecido ao bebê. Em nota, a Prefeitura informou que “disponibilizou os itens prescritos pelo médico que acompanhava Miguel na UTI pediátrica do Hospital Santo Amaro: ventilador mecânico, aspirador portátil, insumos de uso diário e dieta enteral”.


Segundo a secretaria, as “unidades básicas de Saúde têm equipe multidisciplinar para atendimento a toda a população, bem como crianças, com atendimento de médico pediatra”.


A pasta também oferece “atendimento às crianças especiais, realizados por médico neuropediatra, fonoaudiólogo, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e psicopedagogos no Núcleo de Apoio à Criança Especial (Nace)”.


Em relação ao home care, de acordo com a secretaria, “Bertioga conta com uma equipe para atendimento domiciliar de média e alta complexidades (AD2 e AD3), por meio do programa Melhor em Casa”.


Segundo a secretaria, Miguel “está cadastrado no programa, no qual há uma programação de visitas domiciliares periódicas, de acordo com a necessidade observada pela equipe multidisciplinar”.


A família agradece aos profissionais do Santo Amaro pelo trabalho
A família agradece aos profissionais do Santo Amaro pelo trabalho   Foto: Arquivo pessoal

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