Mercado de trabalho na Baixada Santista tem menos oportunidades para quem tem 50 anos ou mais

Nos dois primeiros meses do ano, as nove cidades da região registraram, somadas, fechamento de 241 empregos a pessoas com 50 anos ou mais

Por: Rafael Motta  -  03/04/21  -  14:45
Faixa etária vem perdendo vagas formais
Faixa etária vem perdendo vagas formais   Foto: Orkun Azap on Unsplash

Quem tem mais 50 anos vem sofrendo mais os efeitos da pandemia de covid-19 no mercado de trabalho da Baixada Santista. A situação é ainda pior a quem está com 65 anos ou mais, com base em estatísticas do Ministério da Economia.


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No primeiro bimestre de 2021, criaram-se 1.411 empregos formais na região. Porém, o saldo de vagas — a diferença de contratações e dispensas — ficou negativo em 149 postos na faixa etária acima dos 65. Dos 50 aos 64, foram 92 vagas fechadas em janeiro e fevereiro.


Os números foram extraídos das estatísticas do Novo Caged, sigla para Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. A versão mais recente foi divulgada na última terça-feira (30).


Trabalhadores jovens e adultos com até 49 anos têm encontrado portas mais largas para o emprego com carteira assinada. Em nível regional, o saldo para empregados com 18 a 24 anos foi positivo em 842 vagas. Depois, quase empatados, aparecem os que têm de 30 a 39 anos (323) e de 40 a 49 (309).


Com 16,4% dos habitantes com idade a partir de 65 anos, Santos tem a maior proporção de moradores da Baixada nessa faixa (a média regional é de 11,5%). Em termos absolutos, a Cidade foi a que teve o pior saldo de vagas para maiores de 65 anos, com o fim de 81 postos. Um contraste com o resultado municipal de 1.127 empregos criados, ou 79,9% do total aberto na Baixada no bimestre.


Em todas as cidades, porém, o saldo do emprego formal foi negativo para esses trabalhadores. Dos 50 aos 64 anos, houve números positivos em Bertioga (3), Cubatão (21), Itanhaém (47) e Praia Grande (2). No entanto, com o cômputo geral puxado para baixo, em especial, por Santos (-80) e Guarujá (-70).


Questão sanitária


O economista Jorge Manuel de Souza Ferreira, que coordenou o extinto Núcleo de Pesquisas e Estudos Socioeconômicos (Nese) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), instituição que verificava o nível de desemprego em cidades da Baixada, entende que a discrepância na oferta de empregos tem relação com a pandemia de covid-19.


“Pode estar havendo preferência por pessoas mais jovens e menos suscetíveis (a se infectar), concomitantemente a uma menor predisposição dos mais idosos de se expor ao risco. Com a vacinação, pode haver, futuramente, maior equilíbrio, mas acredito que, por enquanto, seja uma tendência a busca por mais jovens”.


Ferreira, também professor universitário, considera que manter os mais idosos no mercado “tende a ser o desafio do século”: nascem menos pessoas, a longevidade aumenta, e isso faz governos alterarem para cima as condições para obtenção da aposentadoria.


O economista Fernando Wagner Chagas antevê “uma imensa crise social” no País após a pandemia, com maior desigualdade por dois ou três anos. Essa crise afetaria principalmente os mais idosos, “que perderam o emprego e têm dificuldades para garantir a aposentadoria, devido à reforma da Previdência”.


“A União terá que arrumar espaço no Orçamento para garantir um mínimo de subsistência às pessoas mais carentes e evitar um caos social”, adverte Chagas, ao propor um sistema federal de renda básica para superação da crise.


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