Médicos do litoral de SP discordam de possível desobrigação do uso de máscaras: 'Nem em sonho'
Autoridades estudam flexibilizar o uso do acessório, considerado fundamental no combate à Covid-19
Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a redução do número de casos e mortes, autoridades estaduais e federais discutem uma possível flexibilização do uso de máscaras de proteção facial, fundamentais no combate ao vírus. A ideia foi criticada por infectologistas entrevistados por A Tribuna, que temem uma nova onda de infectados.
O médico Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto Emilio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que as medidas de prevenção, como o uso de máscara e o distanciamento físico, devem ser mantidas para continuar o combate à Covid-19.
"É muito prematuro pensar em abolir o uso de máscara. É pedir para termos novas variantes e mais gente doente", alerta Weissmann.
Já a infectologista Elisabeth Dotti ressalta os riscos que a medida pode representar por conta da variante Delta, cepa que vem se difundindo pelo litoral de São Paulo e é considerada uma das mais perigosas do mundo.
"Pode fazer uma flexibilização tentando ajudar a economia, o comércio. Isso a gente tem que fazer, temos que tentar voltar para a vida. Porém, sem máscara, nem em sonho. Duvido que algum infectologista concorde com uma barbaridade dessas. A gente está num momento tão bom, onde baixou internação, ocupação de leitos, UTI. Mas a variante Delta circula tranquilamente por ai, sem nenhuma barreira, e querem retirar a máscara", critica Elisabeth.
Também contrário à medida, o infectologista Ricardo Hayden afirma que o País pode sofrer um retrocesso caso o uso de máscaras seja flexibilizado. Ele cita como exemplo os Estados Unidos, que registrou aumento nos casos de Covid-19 desde agosto, após o relaxamento de medidas sanitárias.
"Não acho que seja a hora de se flexibilizar o uso de máscara, em hipótese nenhuma. Temos ainda várias cepas circulando. Mesmo com vacinação, elas conseguem se expandir. A gente tem que se concentrar em vacinar, evitar aglomeração, usar a máscara o tempo todo. Não há dúvida que, com uma mudança de comportamento abrupta, os resultados não vão ser bons", alerta Hayden.
Estudos
Na última quarta-feira (6), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que avalia com cuidado e otimismo a flexibilização do uso de máscaras em solo paulista. Os estudos são coordenados pelo Comitê Científico do Estado.
Em junho, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cobrou do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um estudo para desobrigar o uso de máscaras no Brasil. O ministério ainda não chegou a uma conclusão, o que deve ocorrer somente em novembro.
Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), disse, na última segunda (4), que o uso de máscaras em ambientes ao ar livre, sem aglomeração, pode ser desobrigado na cidade na próxima sexta-feira (15).