Médicos de Santos discordam de colega alemão que vê Ômicron como 'presente de Natal antecipado'
Epidemiologista europeu entende que, por ser mais transmissível e 'menos letal', variante permitirá imunidade rebanho
A variante Ômicron, da covid-19, ainda é uma incógnita entre profissionais da saúde e cientistas. Não se conhece a fundo os efeitos da mutação no corpo humano, a letalidade (embora não haja relato de mortes), nem a eficácia das atuais vacinas. Apesar das incertezas, um posicionamento do epidemiologista alemão, Karl Lauterbach, ganhou evidência. Segundo o médico europeu, a variante pode ser um “presente de Natal antecipado”.
Lauterbach, que é tido como o possível futuro ministro da Saúde da Alemanha, acredita que, com 32 mutações encontradas na proteína spike – que se liga às células humanas – o vírus pode ter evoluído a um ponto de ser mais transmissível e menos letal, podendo gerar uma imunidade rebanho. Médicos ouvidos por A Tribuna entendem que a observação é precipitada, pois, enquanto isso, novas mutações podem surgir oferecendo mais riscos.
“Enquanto a população como um todo não estiver vacinada, não se adquire a chamada imunidade de rebanho. Com isso, o vírus vai continuar se multiplicando. Podemos ter tido a sorte nesse momento (com a Ômicron) com uma nova variante que tem capacidade de disseminação grande, mas impacta menos do ponto de vista da saúde (em casos graves)”, diz o médico epidemiologista Fábio Mesquita.
O profissional, que também é vice-representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Mianmar, na Ásia, diz que “aparentemente” a variante também continua “sensível às vacinas existentes”, mas, reforça a necessidade de manter os protocolos de segurança e ampliar a imunização, principalmente nos países mais pobres.
“Da mesma forma que surge uma variante como essa, que tem capacidade de espalhar e (com base em dados preliminares) não tem um impacto maior do ponto de vista de hospitalização, de casos mais graves e de óbitos, podem aparecer novas variantes de preocupação, que são variantes mais agressivas”, completa Mesquita.
O médico infectologista Leonardo Weissmann questiona quais as chances de sinalizar um ‘fim da pandemia’ com as pessoas infectadas (pela Ômicron), mas sem evoluir para casos graves. Ele ressalta que o vírus continua em circulação.
“Estamos vivendo uma pandemia, ou seja, o problema é mundial. É necessário que tenhamos números baixos de casos e óbitos em todos os países e continentes, de forma homogênea”. Weissmann ressalta: “não há motivos para pânico com a Ômicron, mas ainda são necessários mais estudos, não temos informações suficientes para essas afirmações (de Lauterbach)”.
Otimista
Mesquita observa o que Lauterbach foi um “otimista” em sua colocação, pois “ainda há uma cobertura de vacina muito pequena no mundo”. O epidemiologista destaca, ainda, que a Alemanha, país do médico que levantou a discussão, está no epicentro da 4ª onda da doença na Europa, “principalmente por conta da variante Delta”.
“Neste momento, depois dos Estados Unidos a Alemanha tem o segundo maior número de casos registrados de covid-19”, observa o brasileiro que atua em Mianmar.