Marcos Caseiro: 'Demora dos resultados de exames do coronavírus é uma vergonha'
Infectologista de Santos afirma que é difícil trabalhar sem saber se as pessoas estão infectadas
“Enquanto não tivermos resultados de exames, será um enorme problema. É uma vergonha isso. A testagem precisa ocorrer rápido. Como trabalhar assim?”. O desabafo é do médico infectologista Marcos Caseiro, de Santos. Para ele, é impossível traçar cenários quando apenas 13 casos foram confirmados na região.
Ele lembra que só pacientes mais graves, internados, colhem exames. Ainda assim, os resultados demoram muito para ficarem prontos. A Reportagem apurou que há cidades aguardando há 20 dias por laudos do Instituto Adolfo Lutz (IAL), referência do Governo Estadual.
“Estamos fazendo isolamento social, parando o país, mas não fazemos exames. Não dá para ficar nesse comportamento. O paciente suspeito gasta um monte de insumos de proteção e não temos resultado. As pessoas morrem e não sabemos se é ou não”. Na região, oito mortes suspeitas não tem laudos prontos.
Em 19 de março, Caseiro projetou, em entrevista para A Tribuna, um pico de infecção pelo coronavírus entre o fim de março e início de abril. No pior cenário, falou em 2.137 casos na Baixada Santista, 496 só em Santos. Como base para o cálculo, usou os dados da doença na China. No estado, seriam 52 mil casos e 13 mil só na Capital.
“Temos um enorme problema. Se amanhã saem todos [os resultados] de uma vez, vão dizer que é um pico, mas não condiz com a realidade, estão atrasados. É difícil fazer projeção sem exames. Pelas características da região, quente e com menos pessoas por metro quadrado, acredito que se mantenha [a projeção do dia 19]. Se passar disso, é um desastre”.
Números irreais
O também infectologista santista Evaldo Stanislau afirma que projeções de infectados são difíceis, porque há variações dependendo do lugar. Mas, também pontua que os números atuais da região não condizem com a realidade.
"Temos mais de 600 casos suspeitos na Baixada Santista, e apenas 13 confirmados. Ou seja, há nitidamente uma subestimação do tamanho da epidemia que interfere na base de dados. O que percebemos é que os casos estão aumentando de forma acelerada”, diz.
Segundo Stanislau, algumas características regionais podem fazer o número de contaminados aumentar. “Temos moradias subnormais: palafitas, favelas, morros, cortiços no Centro de Santos. Regiões de pobreza extrema que, pela proximidade maior entre as pessoas, torna a disseminação mais fácil”.
O infectologista diz, porém, que não é possível garantir que haverá um pico da doença na Baixada. “Estamos fazendo isolamento para evitar isso. Se ele for bem sucedido, pode ser que a gente consiga diluir. Mas, enquanto não tivermos vacina, vamos ter que lidar com isso, pode ser um período longo. É um cenário imprevisível”.