Mapa do novo coronavírus começa a ser traçado na Baixada Santista

Região inicia aplicação de testes rápidos para avaliar a evolução da covid-19 e, a partir daí, desenvolver políticas públicas

Por: Nathália de Alcantara & Da Redação &  -  29/04/20  -  12:36
A expectativa é avaliar a velocidade com que o vírus está se alastrando
A expectativa é avaliar a velocidade com que o vírus está se alastrando   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Começa na sexta-feira (1º de maio) um estudo epidemiológico para mapear o avanço do coronavírus na população da região. Serão feitos 2,5 mil testes rápidos em lugares aleatórios. O resultado será divulgado na segunda-feira (4 de maio).


O trabalho será realizado por docentes e pesquisadores de universidades locais conveniadas com a Fundação Parque Tecnológico de Santos. A coordenação do grupo será feita pelos pesquisadores Marcos Caseiro, Marcos Calvo e pelo secretário de Governo, Rogério Santos.


Caseiro explica que os agentes municipais irão até a casa dos selecionados para o exame. Não haverá custo algum para os participantes. O estudo será financiado com recursos do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb).


“Queremos mapear as pessoas que já tiveram contato com o vírus e a ideia é aproveitar o feriado para fazer isso. Um teste será feito e o resultado sairá na hora. É preciso uma gota de sangue, que será colhida por um profissional”, diz Caseiro. 


Ele explica que também deverá ser respondido um questionário. “Um monte de informações serão coletadas para dividirmos essas amostras por faixa etária e sexo, por exemplo”, explica.


As respostas fornecidas serão digitadas e irão on-line para o infectologista, que trabalhará todo o final de semana para apresentar os dados na segunda-feira. “O conceito é o mesmo de uma pesquisa eleitoral. Faremos isso a cada 15 dias e com pessoas aleatórias e de lugares diferentes. O estudo é dividido em quatro etapas”, diz Caseiro.


A Pesquisa 


O objetivo é ver quem desenvolveu anticorpos que combatem a doença e como eles foram criados pelo organismo. Com o resultado em mãos, será possível criar políticas públicas baseadas em critérios científicos.


O levantamento ocorrerá em conjunto nas nove cidades, de forma proporcional com recortes da população por localidade, sexo e faixa etária. 


A pesquisa será feita com testes rápidos, fornecidos pelo Ministério da Saúde. A expectativa é identificar a velocidade com que o vírus está se alastrando na região, por meio da comparação ao longo do tempo.


Por isso, serão aplicados dez mil testes rápidos até 10 de maio. Também será observado o percentual de pacientes na região e a porção de infectados que não desenvolveram sintomas.


O mapeamento da população que já está imune ao vírus dá ferramentas para que as secretarias municipais possam redistribuir leitos e testes nos locais com maiores possibilidades de aumento de casos.


A intenção é que o mapeamento seja finalizado antes do término da atual quarentena no Estado. Com os resultados, será possível calcular a letalidade da doença e definir um cronograma de reabertura das atividades econômicas também.


“Vamos aproveitar o feriado para fazer a testagem e pegar informações
“Vamos aproveitar o feriado para fazer a testagem e pegar informações", disse Caseiro   Foto: Reprodução

Isolamento pode durar até dois anos


Países terão de conviver por até dois anos com a retomada de ações de isolamento social, para evitar uma explosão de casos de covid-19. Esse é o prazo médio estimado para que ocorra uma imunização em grande escala da população. 


A opinião é do médico e vice-diretor da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, da Organização Mundial da Saúde nas Américas.


“Os mais otimistas falam em desenvolver uma vacina até o final do ano. Mas até vacinar, estamos falando de 2 anos em que vamos ter períodos de relaxamento maior, monitoramento, e, se necessário, voltar atrás. Para evitar explosão de casos, como já ocorreu”.


O médico afirmou que é difícil apontar uma data para flexibilizar medidas de distanciamento social no Brasil. O importante, disse, é ter certeza de que a transmissão do vírus está diminuindo “de maneira consistente” e que há leitos suficientes para atender a população antes dessa decisão.


“Máscaras caseiras podem ajudar, mas não são uma solução mágica. Não podem substituir outras medidas que estão sendo recomendadas”, declarou.


Politização


Questionado sobre preocupações da Opas em relação ao Brasil, Barbosa disse que a organização não trata de casos específicos de países, mas afirmou que “recomendações não mudam ao sabor da política”.


Segundo o médico, todas as evidências apontam para prejuízos ao se relaxar o distanciamento em locais de aumento da transmissão, como o Brasil. “Até agora, foi a receita do fracasso. Levou a UTIs superlotadas, a pessoas perderem a vida”.


Barbosa afirmou ainda que é importante ter boa coordenação entre autoridades de saúde e transmitir informações claras à população sobre o distanciamento. 


“Adesão das pessoas a medidas drásticas, como distanciamento social, só ocorre se houver informação clara sobre o que está acontecendo, objetiva, sobre quais são os riscos, e que haja compensações financeira e social”. 


*com informações do Estadão Conteúdo


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