Influenciadora mirim morre em Praia Grande sem receber diagnóstico

Emily Alves tinha o sonho de ser influenciadora digital. Com fortes dores, médicos suspeitaram de infecção urinária, dengue e meningite

Por: Daniel Gois  -  04/04/21  -  14:30
Emily Alves tinha 14 anos e quase dez mil seguidores no Instagram
Emily Alves tinha 14 anos e quase dez mil seguidores no Instagram   Foto: Reprodução/Instagram

A adolescente Emily Alves Pereira da Silva, de 14 anos, morreu esperando uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e sem um diagnóstico completo, após ir cinco vezes em hospitais por um período de uma semana. Influenciadora mirim, ela morava em Mongaguá, no bairro Vila Seabra, e veio a óbito na cidade de Praia Grande.


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A mãe de Emily, a profissional de apoio escolar Rosa Alves da Silva, de 33 anos, conta que levou a filha no hospital pela primeira vez em 28 de março, quando sentia fortes dores de cabeça, febre e dificuldade para se alimentar. A suspeita inicial era de dengue, o que não foi constatado no primeiro exame de sangue.


A febre, aumentou, batendo 39,3°C, e Emily passou a apresentar vômitos. A blogueira foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude, em Praia Grande. Novos medicamentos foram prescritos, além de um novo pedido de exame de sangue e urina.


"Ela tentava comer uma maçã, mas não conseguia. Era tanta dor de cabeça que ela não aguentava nem abrir os olhos. Só abria o olho para falar alguma coisa e já fechava. Mostramos os exames, e o médico disse que não havia constatado dengue, e sim infecção de urina. Viemos embora e nada de ela melhorar", conta Rosa.


Emily Alves em desfile como modelo, ao lado da mãe, Rosa Alves da Silva
Emily Alves em desfile como modelo, ao lado da mãe, Rosa Alves da Silva   Foto: Arquivo pessoal

A família permaneceu em Praia Grande, na casa da tia de Emily. Entre idas e vindas ao hospital, o estado de saúde da adolescente só piorava. Ela retornou para a emergência, ficando sob observação. Um novo exame de sangue foi realizado, agora constatando dengue. Outro procedimento, por raio-x, indicou uma mancha no lado esquerdo da face da jovem.


Horas depois, Emily teve uma parada cardíaca e precisou ser entubada. A mãe conta que, após novos exames, os médicos encontraram uma bactéria no cérebro da jovem, levantando a suspeita de meningite.


"Todo mundo entrou em pânico. Começamos correr. Ela precisava muito de uma vaga de UTI, para ter mais chances de sobreviver. Íamos até juntar um dinheiro para conseguir de forma particular. Infelizmente, não tinha vaga em lugar nenhum", lamenta a mãe.


A situação de Emily só piorava, e a jovem precisava urgentemente de uma vaga na UTI. Na noite de sexta (2), seus batimentos cardíacos foram diminuindo. A morte foi confirmada na manhã de sábado (3).


Influenciadora


Com quase dez mil seguidores no Instagram, Emily tinha o sonho de ficar cada vez mais conhecida nas redes sociais. A mãe conta que a filha também tinha interesse por patinação e chegou a desfilar como modelo em três oportunidades.


"Minha filha tinha muitos sonhos. O sonho dela era ser influenciadora. Falava que ia ser famosa, que ia conseguir tudo para nós. Minha filha era maravilhosa, gostava de muita coisa", lamenta a mãe, sem esconder as lágrimas.


Resposta


A Secretaria de Saúde Pública de Praia Grande disse que a paciente deu entrada na UPA Quietude às 9h17 de sexta-feira (2), recebendo toda a assistência da equipe de plantão. Ela foi inserida naCentral de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS) do Estado, com pedido de vaga para UTI, que não foi atendido a tempo. O óbito foi confirmado na manhã de sábado (3), às 8h39.


A Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo declarou que a sobrecarga na rede de saúde é uma realidade, devido ao "recrudescimento da pandemia de COVID-19 e o aumento exponencial de internações".


Segundo a pasta, os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) se esforçam para
"garantir assistência adequada e oportuna a todos. Isso é feito para demandas das 645 cidades do Estado, independentemente da doença do paciente". A secretaria também afirma que "cada solicitação é avaliada por médicos reguladores, sendo crucial a atualização do quadro clínico, estabilização e deslocamento seguro do paciente".


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