Infectologistas da Baixada Santista não enxergam ômicron como 'fim da pandemia'

Profissionais preferem apostar na cautela e aguardar maiores evidências científicas

Por: Ágata Luz  -  08/01/22  -  11:51
Segundo infectologistas, não é seguro falar em fim da pandemia
Segundo infectologistas, não é seguro falar em fim da pandemia   Foto: Matheus Tagé/AT

Apontada como uma das causas para o aumento significativo de casos de covid-19, a variante Ômicron também levanta debates sobre a pandemia. Entre eles, a possibilidade de que estaria se aproximando do fim. Enquanto há profissionais da saúde que defendem a tese, médicos infectologistas da Baixada Santista preferem aguardar o surgimento de mais evidências e redobrar a cautela com o vírus.


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A pneumologista do Instituto Fiocruz, Margareth Dalcomo, declarou, em entrevista à rádio Band News FM, que a variante Ômicron é menos grave do que a cepa original, que causava pneumonias e tromboses com mais frequência, por exemplo.


“Ela (Ômicron) está cumprindo um papel historicamente muito relacionado às viroses de transmissão respiratória. É possível a hipótese de que a pandemia esteja começando a reverter sua força pelo aparecimento de uma variante muito transmissível, porém, menos mórbida”, declarou à emissora, lembrando que tal controle também depende do aumento do índice de vacinação. A Tribuna não conseguiu contato com Margareth.


Para o médico infectologista Evaldo Stanislau, porém, o conceito de fim da pandemia com a Ômicron é “muito discutível”. “Cada vez que esse vírus ganha a capacidade de se disseminar, ele causa uma doença menos grave. É um mecanismo biológico. Se causar infecção muito grave e matar o hospedeiro, transmite de maneira mais restrita. Então, talvez, essa grande capacidade de transmissão da Ômicron tenha custado ao vírus a capacidade de causar doença grave.”


O infectologista afirma que uma variante com alto potencial de se disseminar vai infectar mais pessoas e, automaticamente, induzir um grau de imunidade. No entanto, não de forma uniforme nem duradoura.


“Falar em final da pandemia por causa de uma variante com essas características de grande transmissibilidade, mas que induz uma imunidade que é transitória e heterogênea, não acho que é uma afirmação que a gente possa levar como definitiva. É uma probabilidade incompleta.”


Segundo o médico, são necessárias outras estratégias para avançar no controle pandêmico. “A única e melhor estratégia aceita pelo mundo científico chama-se vacinação”, enfatiza.


O infectologista Leonardo Weissmann admite que a covid-19 pode estar evoluindo para uma doença de transmissão respiratória endêmica, como a gripe, mas também prefere cautela. “Não há qualquer evidência científica, até o momento, de que estejamos caminhando para o controle ou fim da pandemia. Podem vir outras variantes.”


“Aparentemente, os sintomas são menos graves porque são no trato respiratório superior (nariz, garganta). Então, parece um resfriado, uma gripe mais forte, uma laringite. Mas não conhecemos, ainda, os efeitos a longo prazo”, relata Stanislau.


Para os infectologistas, o ideal é não abandonar o uso de máscaras nem o distanciamento e investir na vacinação completa. “A Ômicron, aparentemente, tem fatores que são benignos, mas outros que a gente ainda desconhece. Por isso, a cautela”, diz Stanislau.


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