Grafiteiro leva arte de forma voluntária para escolas e espaços públicos da região

Projetos de Carlos Roberto da Silva, o Catts, também visa o fortalecimento dos artistas da região. Interesse pelas iniciativas tem crescido e ajudado na luta contra o preconceito

Por: Isabela dos Santos & De A Tribuna On-line &  -  27/03/19  -  11:33
Catts tem como objetivo popularizar o grafitti e torná-lo acessível
Catts tem como objetivo popularizar o grafitti e torná-lo acessível   Foto: Foto/Arquivo Pessoal

Com dois projetos intitulados “Arte na Rua” e “Arte e Grafite nas Escolas” Carlos Roberto da Silva, o Catts, mostra que os anos favoreceram a arte, antes vista com muito preconceito pela sociedade. As iniciativas têm o objetivo de levar o trabalho voluntário de grafiteiros da Baixada Santista para dentro dos espaços educacionais e públicos.


A ideia nasceu há pouco mais de um ano e desde então o artista coleciona conquistas significativas. Seis escolas da rede pública já foram contempladas com o projeto e elas envolveram mais de 80 grafiteiros da região.


Fachada de escola municipal
Fachada de escola municipal

“Já teve escola que fui pintar porque os próprios alunos foram pedir na diretoria. Não esperava tanta adesão aos projetos. Embora não sentisse mais aquele preconceito escancarado, ainda sim sentia um certo receio das pessoas quando falava de grafite, principalmente nas escolas. O início do projeto em São Vicente e Santos fez com que a ideia fosse abraçada por diretores de escolas, que começaram a me convidar para pintar”, conta.


Grafite dentro da sala de aula
Grafite dentro da sala de aula   Foto: Foto/ Arquivo Pessoal

 


O artista já pintou instituições de três municípios, são eles São Vicente, Santos e Praia Grande. Catts - nome que assina suas artes -, quer expandir o interesse em seu projeto voluntário para escolas de outras cidades da região. A iniciativa oferece a mão de obra voluntária, enquanto a instituição fornece o material.


Já o projeto Arte na Rua atua somente em São Vicente e também foi bastante aceito pelo público. Catts tem em mente que deve levar o grafite para todos os espaços. As pinturas mais significativas desta iniciativa foram produzidas em duas regiões completamente diferentes. Uma no bairro do Gonzaguinha e outra na rua Japão.


Grafite na rua Japão, em São Vicente
Grafite na rua Japão, em São Vicente

“No Gonzaguinha os moradores são de classe social mais alta e é nela que existe muito preconceito porque o grafite nasceu na periferia. Mas quando estávamos pintando, as pessoas vinham conversar com a gente, elogiar. Fiquei feliz em ver que o preconceito está diminuindo. Na Rua Japão o público em geral é da periferia e a aceitação foi ótima. Para se ter uma ideia, os moradores se ofereciam para ajudar. São duas realidades sociais diferentes, mas ambas abraçaram a arte da mesma forma”.


Arte no Gonzaguinha em São Vicente feita por Catts e Fixxa
Arte no Gonzaguinha em São Vicente feita por Catts e Fixxa

Segundo o artista, o grafite “traz o sentimento de pertencimento. As pessoas passam a apreciar o espaço e a se identificarem. O modo de ver as coisas se transforma, as pessoas andam pela rua e começam a notar os desenhos. É muito gratificante ver a reação dos alunos com uma arte minha na escola. Eles gostaram dos desenhos e sei que vão fazer de tudo para cuidar daquele espaço que agora parece realmente deles”.


Dá pra viver do Grafite?


Há dois anos Catts conseguiu deixar o emprego como paisagista para trabalhar como grafiteiro. Seu trabalho mais recente foi a conclusão de 12 painéis no Jardim Botânico de Santos. Para ele, viver da profissão está mais fácil. “É um trabalho como qualquer outro, então a pessoa tem que se dedicar. Eu estou muito realizado em ter conseguido chegar onde cheguei e sei que tem muito ainda para conquistar. Recentemente fui convidado para participar de um projeto em Portugal, as pessoas estão reconhecendo”, diz satisfeito.


Painéis no Jardim Botânico de Santos
Painéis no Jardim Botânico de Santos   Foto: Arquivo Pessoal

O Dia do Grafite (27 de março) foi instituído em São Paulo e embora não seja feriado, é lembrado e celebrado por artistas e admiradores de todo o Brasil. Porém, como morador da Baixada Santista, Carlos fala sobre a importância do grafite estar presente em todas as regiões, não somente na capital. “Acredito que a arte deve ser levada para todas as regiões. No interior, litoral, todas. Porque o grafite tem uma função social, mostrar que a arte é acessível para todos, então não adianta ser valorizada em um lugar só”.


Início


A caminhada de Catts como grafiteiro começou sem a menor intenção. Em 2014 ele resolveu pintar o muro de sua casa. Uma mulher viu o desenho e o convidou para fazer uma arte dentro do mercado municipal em São Vicente. Até então, pintava com tinta latex. Em seguida começou a grafitar voluntariamente nas creches. “Fiz isso com meu próprio material e vontade”.


Catts tem como objetivo popularizar o grafite e torná-lo acessível
Catts tem como objetivo popularizar o grafite e torná-lo acessível

Com as pessoas acompanhando seu trabalho, foi convidado para dar aula na Comunidade do México 70, em São Vicente. Neste período, aprendeu a usar o spray. “Não foi tão difícil porque eu já desenhava, foi só pegar o jeito”, explica. Em 2016 foi convidado para trabalhar na Secretaria de Cultura e em 2018 começou a dar aulas de grafite.  


Catts começou a dar aulas de grafite em 2018
Catts começou a dar aulas de grafite em 2018   Foto: Arquivo Pessoal

Sempre que possível, o grafiteiro leva ex-alunos para pintar junto em seus projetos. O objetivo do artista é popularizar e aumentar o interesse de futuros profissionais. “Alguns alunos continuam se dedicando, até me surpreendem, eles ficaram muito bons e levaram a sério as aulas. Chamo alguns sempre que possível para participar dos projetos comigo, porque gosto da experiência de colocar artistas antigos e iniciantes juntos”, finaliza.


Logo A Tribuna