Governo de SP garante ponte Santos-Guarujá e diz que obra causará menor impacto
Ministério da Infraestrutura rebate a decisão do estado e afirma que defende um projeto de ligação seca que não provoque restrições no longo prazo para operação do Porto de Santos
O secretário de Logística e Transportes de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, afirma que o estado vai manter o projeto de ponte para interligar as rodovias Anchieta e Cônego Domênico Rangoni, entre o Porto de Santos, mesmo com oposição de parte do setor portuário. O Governo Federal questiona a proposta e quer uma obra que não prejudique o cais.
A ponte projetada pela Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), a pedido do governo estadual, terá 7,5 quilômetros de extensão entre a região da Alemoa, em Santos, na margem direita do porto, até o acesso à Ilha Barnabé, na Área Continental da cidade, na margem esquerda. Haverá pedágio, com valor não divulgado, e o custo previsto da obra é de R$ 2,9 bilhões.
A única audiência pública prevista para o empreendimento, ocorrida na terça-feira (16), evidenciou a preocupação de executivos do setor logístico-portuário sobre os reais impactos ao cais santista. Ao G1, o secretário afirmou, após a repercussão do encontro, que o entendimento do governador João Dória (PSDB) é que a ponte é a melhor opção para a demanda.
"Vamos manter o projeto. O crescimento da movimentação de caminhões ao Porto de Santos vai saturar a região de Cubatão e a ponte vai criar uma alternativa".
João Octaviano corroborou a fala do diretor da Ecovias, Rui Klein, durante a audiência pública, ao dizer que a ponte interliga estradas e visa otimizar a logística portuária. O secretário explicou que a solução para mobilidade urbana, do tráfego de veículos entre Santos e Guarujá, vai continuar sendo as balsas, que deverão ser privatizadas até até 2020.
O túnel, cujo projeto foi entregue na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), está definitivamente fora dos planos da atual gestão Governo de São Paulo mesmo com eventual parceria com a União, ainda segundo o chefe da pasta Transportes. "Não tem cabimento você investir R$ 5 bilhões nesse empreendimento e não aplicar na saúde ou na educação".
O traçado da ponte, segundo João Octaviano Neto, foi definido por oferecer o "menor impacto nas operações e no desenvolvimento do Porto de Santos". Ele também afirmou que a estrutura não vai afetar terminais próximos, a expansão das empresas, a passagem de grandes navios e o tráfego aéreo no futuro aeroporto de Guarujá.
A Ecovias, segundo ele, foi chamada para desenvolver o projeto por "motivos óbvios, já que ela é atual concessionária" das rodovias que vão ser interligadas e um "chamamento público" não era necessário. A concessionária do SAI, ao executar a obra e gerir o empreendimento com recursos de pedágio, vai receber um aditamento contratual.
"Fazer política pública nem sempre é simpático. Se a cada interesse privado você voltasse para a prancheta, nós não faríamos nada".
Futuro do Porto de Santos
O Ministério da Infraestrutura afirmou, por meio de nota, que apoia o posicionamento da gestão da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). A autoridade portuária já declarou ser contrária à ponte, que pode limitar o crescimento a longo prazo do Porto de Santos, e disse preferir o túnel como solução de ligação seca entre Santos e Guarujá.
"A definição da melhor solução de engenharia entre as margens do Porto de Santos deve ser compatível com o projeto de expansão do porto. Sendo uma ligação por ponte, o projeto deverá ser submetido, estudado e aprovado pela Pasta", declarou o Ministério. O Governo Federal não informou se vai tentar dialogar com o Governo de São Paulo.
Vocação logística da ponte
Na audiência pública, o diretor da Ecovias, Rui Klein, explicou que o projeto quer encurtar a distância e reduzir o tempo de viagem entre as margens do porto. Segundo ele, a intenção é atender à demanda do tráfego comercial, principalmente entre os caminhões e carretas que precisam acessar terminais marítimos e empresas portuárias.
"A ponte contribui para a mobilidade urbana, mas foca e agrega à mobilidade logística, que é, na verdade, a vocação dela".
Apesar do objetivo principal do empreendimento não ser o de atender o fluxo de veículos de dentro das cidades, o superintendente afirmou que é possível que a ponte possa retirar até 50% do atual tráfego da travessia de balsas entre Santos e Guarujá. "Os modelos já mostram que se existir uma opção, o motorista vai preferi-la", afirmou.
Trinta e cinco participantes, entre empresários, representantes de entidades e munícipes, se inscreveram previamente para participar das discussões no encontro. Entre as principais dúvidas levantadas estão os reais impactos ocasionados, danos à natureza, limitações ao futuro do porto e do aeroporto civil, além da real contribuição à sociedade.
O presidente da BTP, Ricardo Arten, cuja expansão do terminal pode ser comprometida por causa do traçado da ponte, defendeu o diálogo para encontrar uma solução benéfica não somente ao porto, mas também para as cidades. "Não somos contra uma ligação seca, mas também não queremos restrições. O debate é importante", afirmou.
A audiência pública foi presidida pelos membros do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) que avaliam agora as discussões e eventuais questionamentos a serem respondidos pela empresa ao órgão. O parecer do Consema será apresentado à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para emitir ou não as licenças da obra.
Um século sem solução
Há pelo menos 92 anos, empresários e políticos apresentam projetos de uma ligação seca entre Santos e Guarujá. Essa história teve início quando o Governo de São Paulo era dirigido por Júlio Prestes, passando por Adhemar de Barros e as administrações de José Serra e Geraldo Alckmin, nas últimas duas décadas. Todos eles fracassaram.
Em fevereiro, entretanto, já no governo de João Doria, o secretário de Logística e Transportes de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, confirmou que as obras da ponte que ligará Santos e Guarujá vão sair do papel. O projeto que está em andamento foi divulgado pelo ex-vice-governador do estado, Márcio França, no fim de 2018.
A proposta foi apresentada pela Ecovias, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes. De acordo com o documento, a ponte terá cerca de 7,5 quilômetros de extensão entre a entrada de Santos e o acesso à Ilha Barnabé (Área Continental), 85 metros de altura e 325 metros de largura entre os pilares no vão principal.
A estrutura proposta é contestada pela atual gestão da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que observa riscos ao desenvolvimento do Porto de Santos e defende a construção de um túnel entre as margens. Enquanto a ponte tem custo estimado de R$ 2,9 bilhões, a ligação submersa deve custar em torno de R$ 3,2 bilhões.
*Com informações do G1 Santos