Falta de vacina em unidades de saúde preocupa a Baixada Santista

Em Santos, quantidade enviada da pentavalente é cinco vezes menor do que o necessário; União diz regularizar remessa até setembro

Por: Nathália de Alcantara & Da Redação &  -  01/08/19  -  23:22
Problema com a remessa foi a reprovação de um lote de vacinas pentavalente da Índia
Problema com a remessa foi a reprovação de um lote de vacinas pentavalente da Índia   Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mães de bebês entre 2 e 6 meses têm vivido a mesma angústia: a de uma verdadeira caçada atrás da vacina pentavalente na região. O próprio secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, diz estar “aflito e preocupado” com esse assunto, já que o município precisaria receber uma quantidade cinco vezes maior do que a da última remessa para atender à demanda.


Segundo o secretário, o município tem, hoje, 150 doses à disposição. Na última remessa, foram repassadas 400 doses, cerca de 1.600 a menos do que tradicionalmente se recebe mensalmente.


“Lamentavelmente, percebemos que o Ministério da Saúde não sinaliza melhora concreta nesse quadro. Em maio, não veio nada. Essa crise na vacinação é realmente preocupante e esperamos que essa situação seja revertida rapidamente”, diz Ferraz.


Ele explica que “ficar mais de um mês totalmente desabastecido traz consequências graves para toda uma caderneta de vacinação, que passaria a ter problemas sérios. A tensão dessas mães é a nossa tensão”.


A vacina faz parte do calendário nacional e previne contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por HiB.


Drama


A diarista Marcia Daniela do Carmo, de 37 anos, está há dois meses tentando imunizar a filha Maria Eduarda do Carmo de Melo. A moradora do Jóquei Clube, em São Vicente, sente na pele o drama relatado pelo secretário. Ela diz que já tentou correr inclusive em postos de cidades vizinhas, como Santos e Praia Grande, sem sucesso.


“Agora, minha filha já está com quatro meses e fico preocupada de pegar algo. Ela nasceu prematura, com oito meses, e alto risco de pegar infecção”, diz Marcia.


Na semana passada, quando aconteceu sua última tentativa atrás da pentavalente, a diarista diz que deram o prazo de 15 dias para que a vacina voltasse a ser fornecida.


“Já aconteceu de chegar nesse meio tempo, mas a pessoa precisa dar a sorte de estar lá na hora para vacinar o filho. Ainda não aconteceu isso comigo, por exemplo”.


A funcionária pública Gláucia Rejane Tabosa, de 39 anos, vive o mesmo drama. Moradora do Tupiry, em Praia Grande, tenta há um mês imunizar a pequena Gabriella Tabosa Martins, de 3 meses.


“Ela não tomou a primeira dose e já teria de tomar a segunda. Converso com outras mães, que moram em outros bairros e cidades, para saber se alguma conseguiu, mas todas disseram que está difícil”.


Recentemente, Gabriella colocou uma válvula na cabeça por ter hidrocefalia (acúmulo de líquido dentro do crânio). Ela precisou ficar um tempo internada e isso deixou a mãe ainda mais preocupada com o fato da bebê estar vulnerável. “Essa é uma vacina básica. Ou seja, é fundamental”.


Doenças podem retornar sem vacinação 


A falta de vacinação é bastante séria. A ponto de fazer com que doenças perigosas e que há tempos não davam as caras, voltassem a aparecer. 


No caso, a pentavalente, que previne contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por HiB, deve ser aplicada aos 2, 4 e 6 meses. 


“O bebê realmente precisa desse tipo de proteção. É algo básico, tanto que consta no calendário nacional de vacinação. Mas como pode o governo exigir e não fornecer doses suficientes?”, questiona o especialista em vacinação infantil Saul Santiago. 


Exposição


A pediatra Lucia Viana explica que essas doenças são transmitidas basicamente por fluídos como gotículas de saliva, o que as deixam ainda mais perigosas para bebês. “A imunidade deles é muito baixa e isso aumenta infinitamente a taxa de mortalidade”.


O infectologista Pedro Santos recomenda que, nesses casos, os pais evitem aglomerações e lugares fechados. “Como a criança ainda não está protegida, o ideal é fazer com que ela fique longe de lugares em que a exposição a esse tipo de situação é muito maior”.


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