Estudo alerta para chuvas mais intensas e alta na temperatura da Baixada Santista

Análise foi feita a pedido do Estado e projeta cenários para a região nas próximas décadas

Por: Arminda Augusto  -  20/02/22  -  06:30
Atualizado em 20/02/22 - 20:44
Relatório sobre mudanças climáticas prevê mais inundações e deslizamentos na região
Relatório sobre mudanças climáticas prevê mais inundações e deslizamentos na região   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Chuvas mais intensas e frequentes, com inundações bruscas, enxurradas, alagamentos, erosão e deslizamentos de terra, especialmente nas regiões de serra; aumento da temperatura média de até três graus; pico de dias quentes com temperaturas até 5 graus maiores que as registradas hoje.


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Essas são algumas das conclusões contidas no mais novo relatório sobre mudanças climáticas para as próximas décadas na Baixada Santista, produzido por meio de convênio firmado entre a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), agência alemã que vem desenvolvendo outros estudos sobre a temática do clima para o Brasil, dentro do Projeto Apoio ao Brasil na Implantação da sua Agenda Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (ProAdapta). A Baixada Santista é a primeira região metropolitana do País a ter sua análise climática feita de forma regional.


O estudo

Os dados sobre a região foram compilados em um minucioso relatório com mapas, gráficos e análises técnicas e descreve cenários até o final do século, tomando por base as informações sobre precipitação de chuvas e curvas de temperatura da região nos últimos 60 anos, análise de tendências com os cruzamentos desses dados e os índices de poluição atmosférica, especialmente de elementos e gases de efeito estufa, aqueles que interferem diretamente na mudança do clima. Todas essas informações são inseridas em programas com alta tecnologia para elaborar previsões até o final do século.


O relatório e todos os alertas serão apresentados na terça-feira durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista (Condesb).


Cenários

Com base nas informações, vários cenários são desenhados, como explica Pedro Camarinha, pesquisador especialista em mudanças climáticas e desastres naturais e responsável técnico pelo trabalho sobre a Baixada Santista.


“Um cenário mantém as emissões de gases de efeito estufa nos patamares de hoje e projeta os resultados sobre o clima e o regime de chuvas. Outro cenário pressupõe que as emissões serão reduzidas ao longo das décadas, e então a resposta sobre o clima é melhor”.


É com base nessas hipóteses que o relatório conclui, por exemplo, que a temperatura média da Baixada Santista pode aumentar entre 1,5 e 3 graus até o final do século, a depender do quanto o planeta conseguirá reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.


Dias de pico

Camarinha alerta para episódios que já vêm acontecendo na região para explicar que, embora o relatório faça projeções até 2100, as mudanças são graduais. Ele cita, por exemplo, as enxurradas que ocorrem em intervalos menores, muito intensas, que acabam alagando áreas que antes não alagavam, consequência direta do grande volume de água e da falta de drenagem adequada nas vias públicas para suportar essa carga.


Do relatório de quase 100 páginas que será apresentado, Pedro Camarinha coloca a questão das chuvas como preocupante para a Baixada Santista. “A chuva está associada a episódios que já ocorrem na região, sobretudo nas áreas de encosta, com deslizamentos como os de 2020. Se providências não forem tomadas agora, o prejuízo e a perda de vidas poderão ser mais frequentes”.


O pesquisador cita, também, as “ondas de calor”, com picos de temperatura que podem chegar próximo dos 38 graus e se tornar mais frequente durante o ano.


Cidades precisam estar preparadas

Armin Deitenbach, assessor técnico do projeto ProAdapta e representante do Governo Alemão, acompanhou o trabalho feito na Baixada Santista e entende que, a partir dessas previsões, as cidades precisam adotar providências que reduzam os impactos advindos das mudanças climáticas.


Redes de drenagem adequadas para suportar o volume maior de chuvas, revegetação de encostas de morros, maior arborização urbana para atenuar o aumento da temperatura, maior proteção dos manguezais são algumas das medidas necessárias já a partir de agora. “Manter os ecossistemas bem protegidos e preservados é uma forma de reduzir os impactos das mudanças climáticas”, diz Armin, fazendo referência a um termo utilizado nessa questão: adaptação baseada em ecossistemas”. Em outras palavras, quer dizer, por exemplo, que habitats costeiros fornecem defesas naturais contra enchentes, lagos bem protegidos retêm fontes de água durante as secas e encostas e morros com vegetação reduz os riscos de deslizamentos”.


Capacitação

Além da produção do relatório que será apresentado aos prefeitos na próxima terça-feira, o convênio entre o Estado e a agência alemã prevê a capacitação de pessoal das prefeituras para lidar com os efeitos das mudanças climáticas.


Cláudio Ferreira, geólogo do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de SP, diz que essa capacitação será a segunda etapa do trabalho. Ela começa dia 16 de março e dura 14 semanas, com dois encontros semanais.


A ideia, explica, é orientar os técnicos das prefeituras a analisar os dados contidos em gráficos e mapa para saber quais são as providências necessárias e urgentes e quais podem vir em um segundo momento. “Muitas vezes, a prefeitura tem recursos para esse fim, mas não sabe qual obra contratar, qual equipamento adquirir, onde investir, por exemplo”.


Ele diz, ainda, que o desafio também é transmitir o conhecimento adquirido ao pessoal técnico dos municípios, que lidam diretamente com o dia a dia.


O Estado mantém, desde 2020, uma agenda de ações e iniciativas que têm por finalidade dotar os municípios de instrumentos e instrução para se tornarem mais resilientes às mudanças climáticas.


“O novo normal, no futuro, será sabermos lidar com as mudanças que já estamos vivendo”.


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