Especialista de Santos não crê em 3ª via forte na eleição que pode ser decidida pelos idosos

Eleitores com mais de 60 são 24% na Baixada Santista

Por: Sandro Thadeu  -  28/03/22  -  15:49
Segundo o TSE, número de maiores de 60 anos que podem ir às urnas mais do que dobrou na região em duas décadas
Segundo o TSE, número de maiores de 60 anos que podem ir às urnas mais do que dobrou na região em duas décadas   Foto: Matheus Tagé/AT

Os partidos políticos e candidatos a cargos públicos neste ano devem pensar em estratégias para conquistar uma faixa etária da população numerosa, mas que normalmente não recebe atenção nas campanhas: os idosos, que, na Baixada Santista, representam quase um quarto dos eleitores.


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Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de maiores de 60 anos que podem ir às urnas mais do que dobrou na região em duas décadas: de 151.109, em setembro de 2002, para 323.581, em fevereiro deste ano.


Os idosos representam 24,08% dos cidadãos locais aptos a votar. Esse índice é superior ao estadual (21,41%) e ao nacional (20,38%), que também cresceram, mas em um ritmo inferior ao da região.


Os números mostram que os eleitores mais velhos podem fazer a diferença e definir os vencedores na disputa que ocorrerá em outubro — para presidente, governador, deputados estadual e federal e senador. Um desafio é convencer esse público a participar do processo. Principalmente, os maiores de 70 anos, para os quais votar não é mais obrigatório.


A presidente da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), Eva Bettine, afirma que há um grande número de idosos que não se envolve no processo eleitoral. Por isso, a entidade passou a participar de movimentos coletivos para chamar esse público para as urnas.


“Trata-se de uma tarefa bastante complexa. Por uma questão de descrença generalizada na política, as pessoas acabam se isolando. Mas vejo que esse público poderá fazer a diferença nas eleições, se houver um engajamento dele”, diz.


O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, João Batista Inocentini, sugeriu ao atual responsável pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, que a instituição faça uma campanha publicitária para reforçar a importância de os idosos votarem.


“Os integrantes do TSE gostaram dessa ideia, e estamos aguardando essas propagandas. O ideal seria que os partidos também fizessem esse mesmo tipo de movimento. Vamos incentivar que aqueles com mais de 70 anos façam a sua parte, pois podemos mudar muita coisa no nosso País com o voto que damos”, frisa.


Mais convictos
Professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Leandro Siqueira entende que a possibilidade de uma terceira via na disputa presidencial deste ano é cada vez menor. Por esse motivo, todo sufrágio interessa.


“Não é por acaso que bolsonaristas e petistas estão convocando idosos e jovens para comparecer às urnas. Os votos de parte desse público são facultativos pela lei e poderão decidir o futuro do Brasil”, justifica.


O cientista político Marcelo Di Giuseppe acredita que o engajamento desse público fará a diferença, pois os eleitores idosos são mais convictos — com menor possibilidade de mudar de opinião durante o processo eleitoral.


Demandas da população mais velha são ignoradas...........Apesar da importância econômica e social dos idosos, os temas relacionados a eles geralmente são ignorados nas campanhas e nos debates eleitorais, de acordo com especialistas ouvidos por A Tribuna.


Doutor em Ciências Sociais e professor de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Félix entende que esses assuntos nunca foram abordados pelos concorrentes à Presidência da República desde o pleito de 1989.


“O envelhecimento só é enxergado pelas lentes fiscalistas, ou seja, sempre é a questão da reforma da Previdência. Não se trata de algo que é favorável aos idosos, mas sempre de algo contra eles”, afirma.


Félix cita que, em sabatinas e debates, não vem à tona o que determinado político ou legenda fez pelos maiores de 60 anos.


“Há pesquisas que apontam que os idosos de São Paulo votavam maciçamente no PSDB, mas eles não sabem que foi o partido que criou o fator previdenciário, que diminuiu consideravelmente o valor da aposentadoria deles. O PT fez a mesma coisa. No Governo Lula, ocorreu a aprovação da contribuição dos inativos”, exemplifica.


Conforme a presidente da ABG, Eva Bettine, há coletivos que estão preparando propostas relacionadas aos idosos e ao envelhecimento saudável a serem apresentadas aos candidatos ao Executivo e ao Legislativo nos próximos meses.


O professor do curso de Ciências Sociais da Unimes, Leandro Siqueira, entende que os partidos devem se preocupar em elaborar propostas aos idosos, como a melhoria dos serviços de saúde e das aposentadorias.


Conservador e mais ativo
O professor de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP) Jorge Félix afirma que a velhice está fazendo parte da campanha presidencial na França e o cuidado de longa duração com idosos ganhou evidência com a pandemia de covid-19. Mas ele não acredita que esse fenômeno ocorrerá aqui.


Na sua avaliação, o eleitorado dessa faixa etária no Brasil reclama de questões como aposentadorias baixas e remédios caros, mas não se preocupa em saber como os candidatos vão fazer para atender a essas demandas. “Pesquisas feitas em todo o mundo mostram que esse eleitorado é bastante conservador e mais sensível ao discurso político baseado na religião, na tradição da família e em determinadas bandeiras, como a questão do aborto e do casamento de pessoas do mesmo sexo”, explica.


O cientista político Marcelo Di Giuseppe acredita que segurança, saúde e assistência social são sempre entendidas como prioritárias para idosos. Mas, como esse público é cada vez mais ativo, deve-se conhecer melhor a realidade dele. “Propostas que possam vir a atender seus filhos e netos também são sempre muito bem vistas”.


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