Em meio a explosões, jovem de Santos revela experiências de guerra como soldado de tropa israelense

Em entrevista à A Tribuna, Thaís conta que emigrou para Israel por iniciativa própria para servir às Forças de Defesa

Por: Beatriz Araujo  -  13/05/21  -  07:29
    Thais emigrou para o Israel por iniciativa própria, para servir às Forças de Defesa
Thais emigrou para o Israel por iniciativa própria, para servir às Forças de Defesa   Foto: Arquivo Pessoal

Sirenes de alerta soaram durante a noite e a madrugada da última terça-feira (11), em Israel. Ataques aéreos com foguetes foram direcionados à região de Tel Aviv, um dos polos do país. Em meio a isso, está a jovem santista Thaís Reznik, de 19 anos, que emigrou para o país por iniciativa própria para servir às Forças de Defesa. Ela está na Aeronáutica há 5 meses, como uma 'soldada solitária', por não ter família na nação.


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Nessa semana, foi a primeira vez que a jovem sentiu, de perto, uma explosão. Em entrevista exclusiva a A Tribuna, ela conta que, na terça-feira (11), havia saído de sua base militar e foi à casa dos avós de seu namorado, em Hertzliah, há poucos minutos de Tel Aviv. “Na segunda-feira, houve muitos ataques em Jerusalém e no sul do país, mas ainda não tinha chegado nada no centro. E ninguém achou que chegaria”, explicou. Até que as sirenes tocaram, pegando todos de surpresa.


Thaís conta que correu para o bunker da casa em que estava. “Depois de dois ou três minutos do alarme, começamos a escutar foguetes passando em cima da casa, como aviões”. Na sequência, o 'boom' da explosão era muito alto. Mas, no caso, ela explica que a maioria explodiu no ar, interceptados por Israel.


Esse primeiro ataque na região foi em torno de 9 da noite (3 da tarde, no horário de Brasília) de terça-feira (11). Thaís e seus avós 'de coração' ficaram quase uma hora no quarto de segurança. Após isso, às 3 da manhã, a situação se repetiu e eles passaram cerca de 30 minutos no bunker. “É assustador, porque lá você não vê nada. Só escuta”, relata.


A base militar de Thaís, que fica próxima à Faixa de Gaza, entrou em alerta e ela retornou para lá ao amanhecer. O medo de andar pelas ruas com farda, após um ataque na região, foi forte. Agora, vivenciando parte deste amplo conflito pela primeira vez, ela não consegue descrever o que sente, exatamente. Mas diz estar 'bem', pelo fato de as pessoas ao seu redor transmitirem segurança.


Decisão


Thaís sempre se interessou pelas tradições judaicas. A aproximação foi na infância por conta de seu avô materno, que celebrava as festas e feriados. Mesmo antes de sua emigração, quando vivia na Baixada Santista e não tinha conhecido Israel, ela sabia que um dia iria para o país. “Quando você nasce judeu, você tem esse sentimento. Não importa de onde você vem do mundo. Aqui [Israel] sempre vai ser sua casa”.


Em busca desse 'encontro com sua essência', no início de 2019, então com 17 anos, Thaís passou cinco meses em Israel por meio do programa Masa, do governo, para imergir na cultura e aprender mais sobre a língua.


Mas a jovem santista queria mais. Seus desejos eram, principalmente, servir nas Forças de Defesa de Israel e, depois, cursar a faculdade de arqueologia no país. Ao voltar para o Brasil, ela conseguiu tirar seu passaporte israelense e emigrou aos 18 anos de idade.


Seu pai, Reinaldo Jahjah Cunha, de 55 anos e natural de São Vicente, se orgulha de ver sua filha correndo atrás de seus sonhos, sem medo do desconhecido. “Algumas pessoas perguntavam: ‘Como que ela, tão pequena, vai segurar arma no exército? Como vai se virar sozinha sem ter família lá? Mas se a pessoa tem determinação, para tudo tem um jeito”, acredita Reinaldo, que reconhece também ter um espírito aventureiro.


Com relação às dificuldades e às críticas, a jovem diz não se importar. Na escola, enquanto terminava o Ensino Médio, ouvia de professores que era uma ideia perigosa e que não fazia sentido ela ir para o outro lado do mundo para servir às forças de defesa de uma nação. Mas a escolha de Thaís era essa.


Ela considera, inclusive, que a região de Tel Aviv é mais segura para se viver do que no Brasil. “Tirando as guerras”, diz, com um riso nervoso, “aqui você não tem medo se ser assaltado na rua. Você faz as coisas tranquilamente”.


A santista diz não se importar com possíveis problemas. “Desde que me decidi, falei: se eu for, que seja para ter experiências. Boas ou ruins. Mas que sejam histórias para contar. Eu só sabia que tinha que estar aqui”.


  Coluna de fumaça e fogo é vista após ataques aéreos israelenses a um prédio na Cidade de Gaza
Coluna de fumaça e fogo é vista após ataques aéreos israelenses a um prédio na Cidade de Gaza   Foto: Khalilhamra/AssociatedPress/Estadão Conteúdo

Comandantes do Hamas são mortos


O conflito entre israelenses e palestinos se intensificou nesta quarta-feira (12). A escalada da violência seguiu o mesmo roteiro: os disparos de foguetes da Faixa de Gaza foram respondidos com bombardeios ao enclave. O Exército de Israel disse ter matado 14 comandantes do Hamas, que governa o território. Outro reflexo do agravamento da crise foi a ampliação dos distúrbios dentro de Israel.


Grupos de judeus e árabes voltaram a se enfrentar ontem na cidade de Lod – uma pessoa morreu, 11 ficaram feridas e 20 foram presas nos últimos três dias. Extremistas judeus marcharam pelas ruas de Bat Yam, subúrbio de Tel-Aviv, cantando slogans racistas e depredando lojas de comerciantes árabes. Imagens mostraram uma tentativa de linchamento de um palestino.


Em Acre, no sul de Israel, a mesma cena, mas com sinais invertidos: um grupo de árabes espancou um judeu, que foi internado em estado grave. No norte da Cisjordânia, um homem feriu a tiros duas pessoas.


Brasil


O presidente Jair Bolsonaro comentou, pelo Twitter, o conflito entre israelenses e palestinos. Aliado do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, Bolsonaro afirmou que “é absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense”.

*Com informações de Estadão Conteúdo


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