Dia dos Nordestinos é comemorado na Baixada Santista: 'Tenho saudade da buchada de bode'
Comerciantes da região celebram data nesta sexta (8), e deixam seu toque na culinária, costumes, música e cultura
![Paulo Borges, 57 anos, virou garçom e ajuda os filhos em uma das bombonieres. José Costa, de 58, se tornou o Zé do Coco após décadas de trabalho](http://atribuna.inf.br/storage/Cidades/Geral/img4573829711258.webp)
Dia do Nordestino: quem deixou a cidade natal em busca de oportunidades na Baixada Santista comemora nesta sexta (8), sua data. E não são poucos, segundo dados do Censo de 2010, o último realizado pelo IBGE no País. Há, no mínimo, 279 mil migrantes na região. Gente que deixa marcas na culinária, nos costumes, na música e na cultura trazida da Região Nordeste.
Um deles é Paulo Borges, de 57 anos. Ele saiu de Paripiranga, no interior da Bahia, aos 19. Veio visitar tios que moravam em Santos. O passeio mudou a vida dele para sempre.
“Morava no interior do estado, trabalhava na lavoura. Era difícil, e meus tios sempre falavam que era melhor aqui e me chamavam para vir. Daí, resolvi tentar.”
Em dois dias, estava empregado. Começou a trabalhar como copa em um restaurante no Centro. Depois, passou a garçom. Trocou de empresa, mas continua até hoje na função, que adora — embora também ajude os filhos durante o dia em uma das bombonieres da família, na Rua Amador Bueno, na região central.
“Comecei a namorar minha esposa, Marlene, aqui. Ela nasceu na mesma cidade e também veio para a casa de tios. Já nos conhecíamos lá. Casamos e tivemos nossos dois filhos.”
Borges ainda tem 16 irmãos em Paripiranga e todo ano vai rever os parentes. Da terra natal, guarda o gosto da galinha caipira e da carne assada preparadas pela mãe. “Mas a buchada de bode é do que tenho mais saudades. Sempre que volto lá tenho que comer.”
Suor
José Costa dos Santos, de 58 anos, também trabalhava na lavoura. Plantava feijão, milho e algodão na cidade de Pinhão, em Sergipe. A vida era dura para a família. Chegou a passar fome, aos 11 anos, quando a seca de 1974 arrasou a terra.
Assim decidiu, na adolescência, que se mudaria para tentar uma vida melhor para a família. Santos foi o destino escolhido. Muito pelas histórias que ouvia sobre a cidade das oportunidades e também do Rei do Futebol.
Quando fez 19 anos, pôs o pé na estrada. Veio de ônibus numa viagem que durou três dias. Na bagagem, frango com farofa preparado pela mãe, o que ajudou a economizar os únicos trocados que tinha no bolso. Foi com eles que começou a longa jornada até se tornar o Zé do Coco.
“Cheguei com a cara e a coragem. Dormi na rodoviária. No dia seguinte, fui atrás de serviço. Meu sonho era ganhar dinheiro e mandar para meus pais. Eram 14 filhos. Muita gente para dar de comer”, conta.
O primeiro emprego foi em uma lanchonete. Na temporada, virou ambulante, vendendo milho na praia, em Bertioga. Assim foi entendendo o mundo das vendas, a ganhar clientela, até, em 1989, conseguir licença para vender coco no Canal 6.
“Nunca tinha cortado um coco na vida. Mas me convenceram a ficar com o quiosque. Vendia 14, 15 cocos por dia. O dinheiro era pouco, mas não desisti”, conta.
Em 2009, com a economia em alta, viu o resultado da dedicação. “Naquela época, cheguei a vender, em um dia, 7 mil cocos. Custavam R$ 1,00.”
Dali em diante, virou a marca Zé do Coco. “Vim de uma família simples e sofrida. Não acreditava que chegaria tão longe. Sou nordestino com muito orgulho.”