Deputado federal de Santos acusa governo Bolsonaro de corrupção: 'As pessoas precisam saber'

Junior Bozella (PSL) cita 'orçamento secreto' e perda de moral do presidente da República

Por: Júnior Batista  -  06/06/21  -  07:17
  Junior Bozzella se elegeu deputado pelo PSL como aliado do presidente Jair Bolsonaro, que deixou o partido e agora sofre duras críticas
Junior Bozzella se elegeu deputado pelo PSL como aliado do presidente Jair Bolsonaro, que deixou o partido e agora sofre duras críticas   Foto: Alexsander Ferraz/Vanessa Rodrigues/AT

Eleito deputado federal pelo PSL em 2018, com 78.712 votos, Junior Bozzella ganhou a disputa numa eleição polarizada entre Jair Bolsonaro, na época do mesmo partido, e Fernando Haddad (PT). Apoiador, à época, do atual chefe do Executivo, o santista que fez carreira política em São Vicente hoje se sente traído. “Eles (a família Bolsonaro) misturaram a República com o quintal da casa deles”, dispara.


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Em entrevista à revista Crusoé, o liberal afirmou que o governo Bolsonaro é o “mais corrupto da história”. Isso depois de ele ter tido acesso a uma planilha de liberação de emendas parlamentares mais robustas a deputados que são alinhados ao governo, os chamados bolsonaristas.


Segundo a reportagem da revista, que Bozzella confirmou à A Tribunano sábado (5), o antigo partido do presidente recebeu R$ 92 milhões, sendo a maioria para aliados. A liderança do partido, em contato com o chefe de gabinete do deputado federal, pediu apontamentos. À liderança coube distribuir o bolo aos prefeitos que apoiam o presidente.


“As pessoas precisam saber do que está acontecendo. E o governo deve ter feito isso em todas as bases aliadas, não foi só no PSL. Quando eu vi essa planilha desse orçamento secreto... E não é só lá, houve para eleição da presidência da câmara, para votar auxílio emergencial”, afirma.


Bozzella elenca pontos nos quais o presidente foi contrariando a plataforma política pela qual se elegeu, sendo um dos principais o combate da corrupção.


“Estava no partido antes dele chegar. Imaginava que ele não tinha uma afeição com relação aos filhos. Que ele separava bem isso do governo. Mas não. Eles misturaram a República com o quintal da casa deles. Ele (Bolsonaro) usa de todas as atribuições legais e republicanas para fazer uma blindagem nos interesses familiares”, cita.


Bozzella afirma que é preciso escancarar isso para que as pessoas percebam o caminho que o governo está levando o País. Ressalta que os prejuízos nas próximas décadas serão enormes, afirmando que Bolsonaro está tentando “venezuelar” o Brasil - uma referência ao regime de esquerda de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, país que vive uma crise de autoritarismo.


“O tema da campanha (de 2018) era os bandidos contra os mocinhos. Mas ao invés de enterrar o sistema, ele voltou com muito mais forças. Ele (Bolsonaro) aluga o centrão porque o centrão detectou a vulnerabilidade da família Bolsonaro e está usando para benefício próprio. Seja para se blindar, seja para se perpetuar no poder. É um estupro com a moral da família brasileira”.


O deputado diz, ainda, que o presidente perdeu os princípios e a moral. E, agora, os críticos são chamados por ele de “inimigos da pátria”, “petistas” e “comunistas”. “Está escancarado para a sociedade brasileira que é o maior escândalo de corrupção da história. Ele está distribuindo emenda como cachorro-quente na esquina”, afirma.


“O silêncio dos bons me assusta. Eu gostaria que Bolsonaro fosse o melhor presidente, mas ele se equivocou. Errou em vários aspectos. Errou na condução da pandemia e foi na contramão de tudo. É uma gestão pífia, desorganizada. Tudo que foi prometido, como as privatizações e as reformas não aconteceram”, afirma o deputado.


Risco à democracia


Junior Bozzella acredita que há, hoje, um risco grande à democracia, após o que ele chama de “humilhação das forças armadas” - referindo-se ao episódio do arquivamento da denúncia contra o ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, que foi a um comício com motoqueiros ao lado de Bolsonaro, no Rio de Janeiro, semana passada.


Perguntado se acha que as questões levantadas recentemente por deputados bolsonaristas, como a do voto impresso, são desvios de foco para um projeto autoritário, Bozzella afirma que “o bolsonarismo é uma cortina de fumaça”.


“Não se trabalha na luz, é sempre nas sombras. Não há transparência. Tudo que o (Donald) Trump (ex-presidente dos Estados Unidos) fazia, ele repetia aqui de uma forma escancarada, como se fosse um papagaio de pirata, um office-boy de luxo do Trump no Brasil”.


Por fim, Bozzella diz que há um movimento querendo prejudicar a democracia no Brasil, que, em sua visão, nunca teve nenhum tipo de questionamento, sendo referência mundial de rapidez e solidez. “É muito arriscado quem tenta manipular as forças armadas, as forças policiais nos estados, tentando criar suas milícias. Os debates podem ser feitos, mas com tempo, de maneira aprofundada. Mas em se tratando do bolsonarismo e do presidente, sempre temos dúvidas. Poderia ser um debate, mas tem esse lastro, esse histórico, então fica a preocupação de prejudicar a democracia e atrasar ainda mais o processo de gestão no futuro”.


Outro lado


A Tribuna entrou em contato com o Palácio do Planalto para que o presidente Jair Bolsonaro pudesse responder às acusações, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.


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