Depressão pós-férias: quando é duro voltar ao trabalho

Se a sensação de desânimo e insatisfação persistir, deve-se ficar alerta para evitar maiores riscos à saúde mental

Por: Régis Querino  -  25/06/22  -  18:08
Atualizado em 25/06/22 - 22:54
O desânimo na volta ao trabalho é normal durante poucos dias e sem excesso
O desânimo na volta ao trabalho é normal durante poucos dias e sem excesso   Foto: Adobe Stock

Retornar ao trabalho após as férias nem sempre é fácil. A readaptação à rotina, com horários e compromissos, e o reencontro com a pressão, presente na forma de prazos, resultados e metas, tende a tornar os primeiros dias da volta à labuta mais difíceis. Mas, de acordo com especialistas ouvidas por A Tribuna, se a sensação de desânimo e insatisfação persistir, o trabalhador pode estar enfrentando mais do que a chamada depressão pós-férias.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


“Essa depressão pós-férias costuma durar de dois a dez dias, no máximo. Passando desse período, o ideal é buscar ajuda para tentar entender as causas, porque isso pode gerar um estado depressivo, mais prolongado. Geralmente, quando isso ocorre, não é só em função do retorno às atividades profissionais, mas porque já existe uma situação preexistente”, avalia a psicóloga Valéria Christina de Souza Santos, especialista em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental.


Às vezes, os sinais de que algo está errado começam antes do retorno ao trabalho e podem estar relacionados à insatisfação com a ocupação, problemas de relacionamento com colegas ou questões salariais. “Pensamentos negativistas e sensação de desesperança, relacionados a situações do estresse ocupacional que já existia anteriormente, já beirando a patologia.”


Dependendo do ritmo da pessoa, a readaptação ao trabalho pode levar mais tempo, segundo a psicóloga clínica Cristiane Forastieri. “Os especialistas falam em duas semanas, mas passando desse período, entra na questão da síndrome pós-férias, em que a pessoa demonstra irritabilidade, tristeza, impaciência e ansiedade”, aponta ela, enumerando angústia, falta de concentração, distúrbios do sono e dificuldade de executar tarefas rotineiras como evidências do problema.


“Esse mal-estar pode afetar as relações familiares. E o quadro se agrava quando a pessoa começa a abusar de álcool, drogas e remédios para não encarar a realidade. A ajuda pode vir com um médico psiquiatra ou um psicólogo, além do apoio familiar e dos amigos.”


Buscando soluções

Para evitar o agravamento de um quadro de depressão pós-férias, as psicólogas recomendam que se enfrente o problema com discernimento, definindo ações para minimizar os danos e encontrar soluções para os problemas enfrentados no ambiente de trabalho.


“Existe um caminho para chegar. É preciso entender as causas e efeitos, perceber por qual motivo está tão difícil e analisar os obstáculos psicológicos para fazer a mudança”, aconselha Cristiane Forastieri.


Avaliar possibilidades dentro do próprio ambiente de trabalho ou buscar uma alternativa em que a satisfação pessoal fale mais alto também é algo a considerar para reencontrar o equilíbrio mental e a felicidade profissional.


“Tem pessoas que abrem mão de uma situação e partem para outra ganhando um pouco menos, mas com mais qualidade de vida”, afirma Valéria Christina.


Reavaliar a vida

A consultora de Recursos Humanos, diretora da Dpeople e professora universitária Rita Zaher diz que a insatisfação no retorno ao trabalho pode ser um motivo para a pessoa reavaliar a sua vida profissional.


Em diversas situações, porém, a insatisfação com o trabalho ou profissão esbarra na conveniência de se manter no emprego, seja pela estabilidade no cargo, ganho financeiro ou pela dificuldade de encontrar outra oportunidade, em um mercado cada vez mais competitivo e impactado pela crise sanitária da covid-19.


“Esse rol de incertezas nos leva a sermos racionais na hora de tomarmos as decisões, mas, logicamente, a opção precisa ser pela saúde. Sem saúde, não conseguimos manter nosso emprego nem nosso círculo social ou familiar de forma satisfatória”, afirma Rita.


Neste cenário desafiador, em que pessoas mais velhas também têm mais dificuldades para se manter ou retornar ao mercado de trabalho, ela salienta que a experiência profissional pode ser um diferencial. “A experiência e a ponderação do mais velho podem enriquecer as decisões dos mais novos”, destaca.


Dicas das psicólogas*

Se possível, fracione as férias em dois períodos de 15 dias, por exemplo. Algumas pessoas usufruem melhor quando fazem essa divisão;


Nos últimos dois ou três dias de férias, desperte no horário mais próximo do horário de trabalho, se organizando para o retorno;


Não sobrecarregue todos os dias de férias, para não precisar “de férias das férias” quando retornar ao trabalho;


Além do trabalho, tenha mais atividades de lazer e participe mais do convívio familiar;


Mentalize o regresso ao trabalho, para não entrar em choque com a realidade;


Ajuste o sono, a alimentação e faça relaxamento;


Identifique o que sente e por que sente: a insatisfação é com a atividade? Com a empresa? Com a chefia? Com a equipe? Trace caminhos para cada uma dessas respostas;


Procure identificar o que você pode resolver e o que não está ao seu alcance. Quais preocupações são produtivas e quais são improdutivas (só servem para tirar energia). Foque nas produtivas;


Aprenda a falar não (com toda a educação do mundo). Muitas vezes nos violentamos para não desagradar o outro;


Aprenda a delegar e a trabalhar em equipe;


Converse com alguém sobre o que sente (de preferência um psicólogo ou com o RH da empresa).


*Com informações das psicólogas Cristiane Forastieri, Rita Zaher e Valéria Christina de Souza Santos


Logo A Tribuna