Crise econômica impulsiona roubos e mortes no litoral de São Paulo, dizem especialistas

Volta da circulação de pessoas e aumento do desemprego impactam na ocorrência de crimes, como latrocínios

Por: Maurício Martins  -  05/10/21  -  07:30
 Quatro pessoas foram baleadas e duas morreram durante assalto à residência em Itanhaém
Quatro pessoas foram baleadas e duas morreram durante assalto à residência em Itanhaém   Foto: Ágata Luz/AT

A maior circulação de pessoas na Baixada Santista com a volta das atividades, incluindo o turismo, junto à crise econômica - que aumentou o desemprego e diminuiu a renda - é uma combinação perfeita para o aumento dos roubos e, consequentemente, dos latrocínios (roubos seguidos de mortes), dizem especialistas na área criminal ouvidos por A Tribuna. Eles acreditam que é necessária investigação rigorosa para prender os autores e desestimular os crimes.


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Nas últimas duas semanas, quatro roubos resultaram em mortes das vítimas na região. No último sábado (2), uma mulher de 41 anos foi morta a tiros por ladrões que levaram seu carro e celular, em Itanhaém. Na mesma Cidade, uma casa foi invadida por bandidos no dia 24 de setembro, que balearam as quatro pessoas na residência, duas morreram, um homem e uma adolescente de 17 anos.


 Duas pessoas morreram na casa invadida em Itanhaém, um homem e uma adolescente de 17 anos
Duas pessoas morreram na casa invadida em Itanhaém, um homem e uma adolescente de 17 anos   Foto: Luciana Moledas/TV Tribuna e Reprodução/Facebook

Já em Guarujá, um turista de Minas Gerais, de 38 anos, morreu após reagir a um assalto no dia 28 de setembro, no bairro da Enseada. Dois dias depois, também em Guarujá, o funcionário de uma loja, de 51 anos, foi morto após ser baleado durante uma tentativa de assalto no dia 30 de setembro.


Conjunto de situações
O advogado criminalista Armando de Mattos Júnior aponta três situações para que os latrocínios aumentem. “Primeiro, as pessoas estão circulando mais, em bares, restaurantes, se deslocando ao trabalho. Segundo ponto: a criminalidade aumenta por causa da escassez de trabalho, um problema sério no nosso País. E terceira questão são os receptadores. Tudo que é roubado tem alguém que compra, o automóvel, a bicicleta, a joia, o celular”.


Para ele, é preciso que a Polícia Civil identifique e prenda os receptadores, mas também que haja mais patrulhamento preventivo da Polícia Militar. “Lamentavelmente, a polícia não pode estar em todos os lugares, em todos os momentos. É errado reagir, a pessoa acha que tem o comando da situação e não tem, sempre tem outro criminoso ao lado. E tem aqueles que atiram só para ver (a vítima) cair, que tem a índole má mesmo”.


 Em Guarujá, um turista de Minas Gerais morreu após reagir a um assalto no dia 28 de setembro
Em Guarujá, um turista de Minas Gerais morreu após reagir a um assalto no dia 28 de setembro   Foto: Reprodução

O também advogado criminalista Victor Nagib concorda que a baixa das restrições sanitárias, naturalmente, atraí mais criminosos. “Era difícil achar gente na rua, agora os alvos são mais evidentes. E muitas pessoas reagem. Não sei se é porque existe grande publicidade de reações de vítimas que acabam dando certo e virando hits de WhatsApp. Mas a pessoa se coloca em risco totalmente desnecessário e imprevisível”.


Baixa idade
Os especialistas acreditam que a baixa idade dos criminosos, muitas vezes menores de idades, também colabora com o desfecho trágico em um roubo. Isso porque eles não têm medo da punição - no máximo, três anos de internação - e pouco experiência na atividade criminosa.


"Geralmente, o ladrão experiente não quer matar, porque isso chama a atenção da polícia. Um roubo dificilmente é investigado, mas se tiver morte é o contrário. Essas mortes tem relação com gangues de jovens, sem experiência, que não se importam com a vida alheia. Eles se acham invulneráveis”, diz o analista criminal e membro do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, Guaracy Mingardi, que também é ex-subsecretário nacional de Segurança Pública.


Para Mingard, não há como prevenir totalmente os roubos. “Mas quando a vítima é maltratada, ferida, morta, a resposta precisa ser muito mais intensa da polícia. Deve ser prioridade. O criminoso precisa saber que não ficará impune”.


 Alessandra foi baleada e morta por menores durante assalto em Itanhaém
Alessandra foi baleada e morta por menores durante assalto em Itanhaém   Foto: Reprodução/Instagram

SSP diz que índices são baixos
Os índices de latrocínio e vítimas registrados neste ano, de janeiro a agosto, no Estado, são os menores da série neste período desde 2010, diz a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). “São 109 e 103, respectivamente. No litoral paulista, também há diminuição. Na área do Deinter-6, no mesmo período, há quatro registros e quatro vítimas, ante a nove e 11, respectivamente, nos primeiros oito meses de 2020”, afirma.


Este ano, até agosto, as forças de segurança prenderam na região 7.215 criminosos e retiraram 593 armas ilegais das ruas na Baixada, diz a SSP. “Os casos mencionados pela Reportagem estão em investigação pelas respectivas unidades e detalhes não podem ser passados no momento para garantir autonomia ao trabalho policial”.


A Secretaria afirma, ainda, que os programas de policiamento preventivo e ostensivo, assim como as ações de polícia judiciária, são intensificados em todo o Estado, a fim de ampliar a segurança da população. “Um exemplo foi a operação deflagrada pela Polícia Civil do Deinter-6 entre 22 e 24 de setembro, que prendeu 388 suspeitos e apreendeu 42,4 quilos de drogas.


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