Com autismo, jovem de Praia Grande realiza sonho ao entrar no curso de Medicina

Arthur Ataide Ferreira Garcia, de 18 anos, supera preconceito e obstáculos para seguir o seu desejo de criança

Por: Régis Querino  -  19/02/22  -  08:01
O estudante Arthur Garcia quer se dedicar à psiquiatria para ajudar outros autistas
O estudante Arthur Garcia quer se dedicar à psiquiatria para ajudar outros autistas   Foto: Divulgação

Imagine crescer fora dos padrões considerados “normais” pela sociedade, sofrendo bullying na escola e comentários preconceituosos até de professores, que duvidavam de sua capacidade. Pense em como seria passar por avaliações médicas que não diagnosticavam um problema ou menosprezavam o seu caso. O praia-grandense Arthur Ataide Ferreira Garcia sentiu tudo isso na pele, até ser diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), aos 9 anos. Hoje, aos 18, ele acaba de iniciar o curso de Medicina na Unaerp, em Guarujá, onde passou em quinto lugar.


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As frustrações do passado não o abalaram. Pelo contrário. Foram o impulso para que ele começasse, aos 13 anos, a fazer palestras sobre o assunto. “Eu queria ajudar para que outras pessoas autistas pudessem ser compreendidas, que não sofressem o mesmo preconceito. É difícil fazer parte de um grupo esquecido por ser diferente. Trabalhar com conscientização e informação é a melhor forma de combater o preconceito”, conta Arthur.


Aos 16 anos, ele palestrou para uma turma de Medicina, curso que sempre almejou seguir. “Desde pequeno quero fazer Medicina. Tenho um interesse extremo em psiquiatria e neurodiversidade, que inclui autistas, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Personalidade Borderline”, enumera Arthur, que desde o nono ano do Ensino Médio passava sete horas diárias estudando para compensar as dificuldades de aprendizado.


O diagnóstico

Notando que o filho tinha problemas de socialização, dificuldade na fala e em manter o foco em determinadas situações, os pais de Arthur buscaram ajuda médica quando ele tinha 4 anos. “Os médicos ignoravam o meu caso, me achavam estranho ou me menosprezavam. Sofria bullying pela forma como eu falava e andava. No fundamental eu tinha apenas um amigo. Em certas matérias não conseguia ter foco. Em outros países, antes dos dois anos de idade, os autistas recebem diagnóstico. O Brasil é um dos países com maior incidência de autistas não diagnosticados”, afirma.


O diagnóstico tardio, aos 9 anos, ocorreu quase que simultaneamente com o do irmão, Breno, à época com 6, após consulta a uma psiquiatra em Santos. “Meus pais levaram um tempo para me falar sobre o diagnóstico, porque as outras pessoas não sabiam lidar com o que não conhecem ou entendem”, relata Arthur, diagnosticado na ocasião como um caso de moderado a severo.


“Hoje se fala em nível de apoio, porque se percebeu que o termo grau tenta limitar o autista. Eu seria nível 4 e hoje sou de 1 pra 2 por conta do desenvolvimento pessoal e sócio comportamental”, explica ele, que já fez equoterapia e conta com o suporte de psicólogo e psiquiatra para continuar superando obstáculos.


“Uma psicóloga, que já faleceu, foi muito importante para mim. Ela me estimulou a acreditar que eu podia fazer as coisas do meu próprio jeito, não como os outros faziam. De uma professora eu ouvi, quando dizia que queria ser médico, que o máximo que eu passaria perto de um hospital, era de um sanatório”.


Agente transformador

Radiante com o início no curso de Medicina, que começou esta semana, Arthur quer potencializar o seu poder de transformação. “Começar o curso só me deixa ainda mais empolgado, é como se cada coisa despertasse meu interesse e minha paixão por aquilo que eu já estava convicto. É saber como vou poder fazer a diferença, ser um agente transformador na vida de outros. E mostrar a outros autistas que nós podemos fazer tudo aquilo que estiver ao nosso alcance”, diz o estudante, empenhado também agora em conseguir uma bolsa de estudos.


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