Centro de Reabilitação em Santos auxilia pacientes pós-covid a retomar a autonomia

Local trata das sequelas consequentes da doença

Por: Rosana Rife  -  02/06/21  -  19:12
  Angélica Gutierrez Garicia ainda sente falta de ar e dores constantes nas pernas
Angélica Gutierrez Garicia ainda sente falta de ar e dores constantes nas pernas   Foto: Matheus Tagé/AT

Praticamente nove meses depois de ter covid-19, a auxiiar de limpeza Angélica Gutierrez Garicia, de 57 anos, ainda sente os efeitos da doença. A falta de ar e as dores nas pernas são constantes. Tanto que, na segunda-feira, ela começou tratamento no Centro de Reabilitação Lucy Montoro, em Santos. Agora, ela integra um grupo que passa por sessões especiais de fisioterapia destinadas a pacientes com sequelas da doença.


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O atendimento começou em novembro. Dos atendidos, 63% são homens, com média de idade de 58 anos. Todos os pacientes têm síndrome pós-viral, com alteração respiratória e fraqueza muscular. Deles, 21% sofreram amputação e 5% foram acometidos por acidente vascular cerebral (AVC), que pode levar a perda motora e a alterações na fala e na memória.


Os dados foram apresentados na segunda pela idealizadora da Rede Lucy Montoro, Linamara Rizzo Battistella, no XV Congresso Médico Científico (Comec), promovido por estudantes de Medicina da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes).


Também médica fisiatra e professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Linamara disse que “a doença é devastadora para o paciente e, se é para ele, também é para o sistema de saúde, caso a vítima não tenha um acompanhamento de imediato. Imagine o impacto de um paciente com cansaço enorme, uma dificuldade, até, para atividades muito simples, para o sistema de saúde e o custo disso para o País, porque essa pessoa não volta a produzir, não volta a trabalhar. E esse está sendo o desafio do planeta”. Segundo ela, quanto mais cedo ocorrer a reabilitação, melhor a recuperação poderá ser.


Consequências


Cansaço, fraqueza muscular intensa, dor neuropática (crônica, nos nervos), alteração do sono e da memória e dificuldade em se concentrar estão entre as reclamações mais comuns. “Em um primeiro momento, tudo isso causa medo não apenas no paciente, como em seus familiares. Isso pode ser tratado. Mas ele precisa de um tratamento global, e a especialidade que pode dar esse acervo de estímulos para que essa pessoa volte a uma condição de nomalidade, é a reabilitação”, salientou Linamara.


A médica salientou que há profissionais suficientes para suprir a demanda e que o teleatendimento é uma ferramenta básica nessa batalha. “Eu atendo hoje mais pacientes de Manaus (AM) do que de São Paulo. E consigo olhar para o médico de família que está lá e orientar qual melhor estratégia para aquele paciente e, depois, consigo acompanhar aquela pessoa. Os mecanismos digitais, hoje, nos permitem isso”, comentou.


Mesmo não tendo começado cedo a se tratar, Angélica, mencionada no início desta reportagem, aposta na reabilitação para vencer o cansaço e as dores intensas que sente nas pernas. “O primeiro sintoma que tive foi má circulação. Depois vieram todos os outros. Tive 50% dos pulmões comprometidos. Fui internada. Agora luto com o cansaço. Se ando um pouco, já sinto falta de ar. Mas tudo isso vai passar e vou voltar ao normal”, espera.


  Pedro teve o pé e, depois, parte da perna esquerda amputados
Pedro teve o pé e, depois, parte da perna esquerda amputados   Foto: Matheus Tagé/AT

O aposentado Pedro Luiz de Oliveira, de 58 anos, teve o pé e, depois, parte da perna esquerdos amputados por consequências da covid-19, ele faz duas sessões semanais de reabilitação no Centro Lucy Montoro. Diabético, Oliveira conta que tomou todos os cuidados, mas contraiu a doença em outubro. Teve sintomas leves.


Porém, no mês seguinte, apresentou quadro de trombose e precisou passar pelo dois procedimentos. “Tenho diabetes há uns 15 anos, sempre tratei e nunca tive problemas até agora”, relata. Ele comenta que ficou surpreso quando viu as sequelas que acabou tendo por causa da doença. “Fiquei surpreso, porque já tinha me curado. Mas a gente tem que encarar, né? Então, venho para a reablitação, que é muito boa e trata a gente com carinho”. Apesar do quadro, ele diz que ainda encontra pessoas que não acreditam que as sequelas foram causadas pelo novo coronavírus. “Ninguém está livre de passar por isso. Mas tem gente que duvida. E, pior, não se cuida. Fico impressionado.”


Tecnologia avançada ajuda


O Centro utiliza recursos tecnológicos de última geração que ajudam na recuperação mais rápida dos pacientes. Dentre eles, o Lokomat, que é um dispositivo de marcha suspensa que auxilia na reabilitação do andar. O centro conta também com o Vivax, um equipamento de robótica 100% nacional, que possibilita movimentos tridimensionais dos membros superiores. A unidade também tem impressora 3D, que confecciona dispositivos para adaptar a execução de atividades diárias.


“O Lokomat é usado para pacientes que não conseguem andar, e o Vivax é um exoesqueleto para membros superiores. Se ele (quem está em tratamento) tiver dificuldades para mexer os braços, ele também é utilizado. Além da reabilitação física, eles são interativos, então, também ajudam na parte congnitiva", explica o diretor técnico do Lucy Montoro em Santos, Celso Vilella Matos.


Para ser atendido no Centro de Reabilitação, é preciso que o paciente seja encaminhado por uma unidade de saúde da cidade onde mora.


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