Apesar do temor, cai adesão ao isolamento na Baixada Santista
Percentual dos que só saem de casa quando é inevitável recuou 7%; o costume à pandemia e mais confiança podem explicar o fenômeno
Mesmo com medo do novo coronavírus, as pessoas estão deixando o isolamento cada vez mais. Um levantamento do Datafolha aponta que, em abril, quando morriam cerca de 200 pessoas por dia, 50% dos entrevistados disseram que só saíam de casa se fosse inevitável. Já na semana passada, com 1.274 óbitos no País (aumento superior a seis vezes), o índice era de 43%.
Não há uma resposta pronta, mas, segundo o médico infectologista Leonardo Weissmann, num primeiro momento, havia o medo do novo, um vírus novo, uma doença nova. Com isso, havia o respeito maior às recomendações de quarentena e distanciamento físico.
“Com o passar do tempo, esse medo de morrer parece que deixou de existir, pois veio o medo do desemprego, de não ter como pagar as contas, e a boa vontade para seguir as recomendações”, diz o médico, reforçando que a quarentena foi fundamental para evitar ainda mais vidas perdidas.
Outros resultados do levantamento apontam que a proporção dos que acham que a situação da pandemia está melhorando aumentou: subiu de 28%, em junho, para 46%, agora.
Mas o índice dos que dizem ter “muito medo” ou “um pouco de medo” do vírus permanece quase o mesmo desde abril, perto dos 80% do total, se somadas as duas opções. E ainda: os que disseram ter “muito medo” eram 36% em março e são 43% agora.
Perda do ineditismo
Na visão do psicólogo Arthur Alexandre Abrahão, uma das explicações para essa mudança de comportamento, mesmo com medo, é a perda do ineditismo.
“As pessoas no início não saíam de casa, tudo era novo e desconhecido. Conforme foram sendo expostas a essa nova realidade começaram a sair aos poucos e foram tomando confiança”.
Essa sensação de melhora ocorre porque ao irem ganhando confiança, vão tendo mais liberdade, voltam a praticar suas atividades e a qualidade de vida melhora, dando a falsa impressão que as coisas melhoraram, segundo o especialista.
Sem deixar os cuidados
O médico infectologista Leonardo Weissmann lembra que ainda estamos na pandemia e, consequentemente, na quarentena.
“A pandemia não está controlada. O vírus continua circulando porque as pessoas estão circulando. Vivemos uma ‘falsa estabilidade’, porque uma média diária de quase 1,3 mil óbitos por dia é inaceitável. É fundamental o papel da população para o controle da pandemia, respeitando as regras: distanciamento de pelo menos um metro com outras pessoas, uso correto das máscaras cobrindo o nariz e a boca, lavagem frequente das mãos com água e sabão ou o uso do álcool gel 70%”, encerra Weissmann.